Marcelo Lima
Miscigenação. Poucas palavras sintetizariam tão bem a atmosfera reinante nos corredores da 56ª edição do Salão do Móvel de Milão, que abriu oficialmente suas portas hoje (4), reunindo mais de 2.500 expositores de todo mundo. Fora dos limites da mostra oficial, onde cerca de 500 eventos disputam a atenção do público a situação parece não ser muito diferente.
Em curso acelerado, uma combinação de estilos e épocas, sem limites, nem fronteiras, parece orientar a imaginação dos designers e muito provavelmente, o visual da casa do futuro. Contaminação, não por acaso, é o tema com o qual a Kartell, a gigante mundial dos plásticos apresenta sua nova coleção de móveis e utilitários desenhados pela elite do design mundial.
Cada vez mais diferentes e menos padronizados, com projetos feitos para refletir o estilo de vida contemporâneo, os móveis da safra 2017 parecem não mais denotar uma origem precisa. Não falam mais de um país ou de uma localização geográfica, mas de muitos deles, de múltiplas contaminações.
Completando este ano cinco anos de vida, e quatro participações no Salão do Móvel, a A Lot of Brasil se alinha bem dentro desta perspectiva. Nasceu com o ideal de ser uma empresa global (no que se refere a seus designers) e local (no que se refere a seus materiais). Após uma coleção inicial reunindo grandes nomes do design como Alessandro Mendini, eis que, este ano, a marca resolveu radicalizar.
“Trouxemos para o salão a atmosfera muito particular do sertão brasileiro; mais especificamente da região do Cariri, declara o designer e diretor da marca, Pedro Franco. “Nosso desafio foi traduzir toda aquela atmosfera em produtos de design. Como no caso da linha de mesa e cadeiras do italiano Andrea Borgogni, produzida no Brasil, com a mesma matéria prima utilizada nas esculturas sacras, a madeira tauari.
No extremo oposto, em uma ambientação que sugere um edifício asséptico, branco e minimalista, a Zanotta, outra das empresas trend setters do design italiano, disponibilizava pequenas janelas através das quais os visitantes podiam apreciar pequenas cenas da vida cotidiana exibidas em vídeo.
“Nossa intenção foi apresentar para observadores curiosos a casa tal qual ela é por dentro. Como um local nos quais móveis não são artigos decorativos, mas itens para desfrutar plenamente”, explicam os arquitetos Fabio Calvi e Paolo Brambilla, autores do projeto.
Para alcançar este objetivo, a Zanotta sugere móveis simples, que transitam entre o confortável e o versátil, como a mesa Tweed e a cama Royal Hotel, de Terri Pecora, a cadeira Judy e a mesa de café Emil, de Frank Rettenbacher. Peças que tem como fio condutor a suavidade da cor e nos seus formatos parecem remeter a algum tempo, não tão distante, entre as décadas de 50 e 70, onde a vida parecia mais fácil de ser vivida. “E talvez era mesmo”, arrisca um nostálgico Calvi.