Os turcos foram às urnas neste domingo, 28, para a eleição presidencial. Recep Tayyip, do Partido da Justiça e Desenvolvimento, garantiu a reeleição numa disputa acirrada contra seu adversário Kemal Kilicdaroglu, que encabeçou uma coligação de quatro partidos de oposição. O presidente reeleito teve 52,08%, cabendo a Kemal 47,92%.
Em discurso a seus simpatizantes, da sacada de sua residência, o vencedor do pleito agradeceu a confiança do eleitor no que chamou de uma vitória da democracia.
“Agora os líderes mundiais estão ligando. Meu irmão Ilham [Aliyev], presidente do Azerbaijão, acabou de ligar. Meu irmão, o presidente do Uzbequistão ligou. O primeiro-ministro da Líbia ligou. Eles estão ligando um após o outro. E nos congratulando pela vitória”, disse Erdogan.
Além das diferenças políticas sobre economia, contraterrorismo, refugiados e imigração ilegal, Erdogan e Kilicdaroglu têm opiniões divergentes sobre o papel de Turquia nos assuntos regionais e globais, com o presidente pressionando por maior independência e integração com países não dominados pelo Ocidente, enquanto Kilicdaroglu seguiu uma linha mais tradicional em questões que vão desde a cooperação com a Otan e a União Europeia na guerra da Ucrânia, se opondo à Rússia.
Na véspera da eleição do primeiro turno, há 15 dias, Erdogan enfatizou que, se fosse reeleito, não atenderia a todas as demandas feitas pelo Ocidente, principalmente no que diz respeito à imposição de sanções contra a Rússia – o maior parceiro comercial de Turquia.
A vitória de Erdogan provavelmente pode ser atribuída, pelo menos em parte, à decisão da semana passada do terceiro colocado do primeiro turno, Sinan Ogan, de apoiar o atual presidente. Ogan e sua nacionalista ATA Alliance receberam mais de 5% no primeiro turno.
A vitória do atual presidente de 69 anos estende seu mandato até 2028. Ele tem sido um marco na política turca por quase três décadas, servindo como prefeito de Istambul de 1994 e 1998, como primeiro-ministro entre 2003 e 2014 e como presidente de 2014 em diante, sendo reeleito em 2018.
A vitoriosa campanha “fortalecerá ainda mais a legitimidade de Erdogan como presidente” e, graças à maioria parlamentar de seu partido, dará a ele “poder quase absoluto para mudar a constituição”, avaliam analistas políticos internacionais.
“A oposição, que esteve unida como nunca antes, falhou monumentalmente. Não tenho certeza de como a oposição poderia se recuperar dessa derrota”, disse o comentarista russo Ali Demirdas.
O observador apontou que, apesar do apoio esmagador da mídia ocidental a Kilicdaroglu e das sugestões de que ele poderia derrotar Erdogan, o destino do candidato da oposição foi selado depois que “ele fez uma aliança de fato com o Partido da Esquerda Verde, que proclama ser a ala política do PKK”, um grupo militante curdo turco que Ancara classifica como terroristas.
“Kilicdaroglu também prometeu o retorno daqueles que fugiram de Turquia por fazerem parte da tentativa de golpe de 15 de julho [2016] . Eles são conhecidos como Gulenist ou FETO (Fethullah Terror Organization) e desconsiderou as dificuldades econômicas pelas quais o país passou”, disse Demirdas.
O analista também caracterizou a eleição como um duro golpe para Washington e para o presidente Joe Biden, com a Casa Branca não conseguindo conquistar um aliado inquestionavelmente leal.
“Biden declarou abertamente sua intenção de derrubar Erdogan fornecendo apoio à oposição turca. Ele também afirmou que o apoio seria ‘político’ e não na forma de golpes militares, o que indica que Washington estava por trás dos golpes anteriores na Turquia”.
Mesmo antes das eleições, Washington teve dificuldade em convencer Erdogan a abandonar as políticas que consideravam contrárias aos interesses dos Estados Unidos, diante das fortes ligações de Erdogan com a Rússia e a China.
Para Ali Demirdas, como Erdogan saiu mais forte desta eleição, Washington pode recorrer a uma guerra total contra a Turquia que arruinaria a economia turca. “Isso, porém, creio ser difícil de acontecer, porque criaria um efeito cascata que prejudicaria a já debilitada economia europeia. Portanto, espero que Washington seja mais tolerante com as exigências de Erdogan”.
Demirdas acredita que a reeleição de Erdogan significará a preservação da “abordagem equilibrada da Turquia para o conflito na Ucrânia” e que a Suécia “terá que fazer muito mais para convencer” o presidente turco a aprovar o pedido de Estocolmo para ingressar na Otan.