Pedro Nascimento, Edição
O presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, adotou um papel ainda mais direto na disputa diplomática entre o Catar e o quarteto formado por Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Bahrein e Egito, ao viajar ao Catar nesta segunda-feira, na última etapa de sua visita ao Golfo Pérsico, com o objetivo de ajudar a quebrar o impasse entre as duas partes.
Erdogan partiu do Kuwait, país que tem mediado a disputa, nesta segunda-feira. Ele é o quinto visitante estrangeiro de fora do Golfo que tenta resolver a disputa que começou no início de junho. Ministros de Relações Exteriores do Reino Unido, França, Alemanha e o secretário de Estado dos Estados Unidos, Rex Tillerson, já passaram pela região, ressaltando a profundidade da crise e os resultados dela para muito além da região. O presidente turco, por sua vez, enfrenta um desafio mais difícil para garantir um avanço nas conversas diplomáticas devido aos vínculos entre Ancara e Doha, que suscitam suspeitas dos verdadeiros motivos da Turquia para desejar estabilidade na região, apesar de suas boas relações comerciais com o quarteto árabe.
Em 5 de junho, Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Egito e Bahrein cortaram laços diplomáticos e ligações de transporte com o Catar, acusando o país de apoiar grupos extremistas. O Catar, no entanto, rejeita firmemente a alegação e vê o impasse com fundo político. O quarteto insistiu que o Catar aceitasse uma lista de 13 demandas para acabar com a disputa diplomática, incluindo o encerramento de meios de comunicação, como a Al Jazeera; o fim de relações com grupos como a Irmandade Muçulmana; o limite de laços com o Irã; e a expulsão de tropas turcas presentes em solo catariano. O governo do Catar, no entanto, se recusou a cumprir as demandas, alegando que elas eram um esforço que minava sua soberania.
Turquia e Catar anunciaram planos para abrir a primeira base militar turca no Golfo Pérsico em 2015. A base foi aberta no ano passado e novas tropas chegaram ao local desde que as tensões na região voltaram a avançar, aumentando os temores de uma disputa com os países que tentam isolar o Catar. O Kuwait tentou mediar a disputa, até agora, sem sucesso. No domingo, Erdogan se encontrou com o emir kuwaitiano, o xeque Sabah Al Ahmed Al Sabah, assim que chegou ao país, durante a noite.
Antes de ir ao Kuwait, porém, Erdogan visitou a Arábia Saudita, o principal opositor do Catar nessa disputa diplomática. Durante sua visita a Jeddah, o presidente turco conversou com rei Salman e seu presumido herdeiro, o Príncipe Herdeiro Mohammed bin Salman. As breves declarações dos encontros, realizadas pela agência oficial de notícias saudita, enfatizaram que as conversas se concentraram em formas de combater o terrorismo, além de abordar questões bilaterais e regionais.
Na sexta-feira, o emir catariano Tamim bin Hamad Al Thani afirmou, em seus primeiros comentários públicos sobre o impasse diplomático, que o Catar está preparado para dialogar, mas que qualquer resolução para a crise deve respeitar sua soberania e que quaisquer termos não podem ser ditados de fora. Ele também reiterou o compromisso do país com a luta contra o terrorismo. A resposta do quarteto anti-Catar veio com atraso, mas o ministro de Relações Exteriores emiradense, Anwar al-Gargash, respondeu ao discurso em seu perfil no Twitter, dizendo que, embora o diálogo seja necessário, o Catar deve rever suas políticas porque a repetição de suas posições anteriores “aprofunda a crise”.
O ministro de Relações Exteriores do Reino Unido, Boris Johnson, parabenizou os comentários do emir do Catar e disse que seu país continuará a trabalhar para encontrar uma solução. “Esperamos que a Arábia Saudita, os Emirados Árabes Unidos, o Egito e o Bahrein respondam tomando medidas para extinguir o embargo. Isso permitirá discussões substanciais sobre as diferenças remanescentes para começar”, disse Johnson, em um comunicado neste domingo.