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Éric Gustavo, traído, enterra sonho de Poli de dirigir a OAB em Brasília

A história mostra que filhos nascem para enterrar os pais. Há, porém, exceções. É quando tragédias deixam marcas dolorosas. E por doerem, não vem ao caso lembrá-las. Mas pode-se, eventualmente, retratar a história recente, mesmo que com cores que fazem lembrar a Velha Senhora com a foice na mão. Morte, no sentido do corpo inerte, não. Porém, morte moral, sim.

Há, aqui, três personagens. Flávio Dino, hoje ministro do Supremo; seu discípulo Paulo Maurício, que tenta tornar eterno, com seu incestuoso mandato, o grupo de de Jr à frente da Seccional Distrito Federal da Ordem dos Advogados do Brasil; e, por fim, a figura de Éric Gustavo, liderança inconteste que tem como escudo mais de dois mil colegas que o ajudaram a fazer da subseção da Águas Claras uma das mais respeitadas e conceituadas raízes da OAB na capital da República.

Éric, foi o que me confidenciaram, vive amargurado por ter sido traído por Poli, aluno nota 10 de Dino. O ministro – quem o conhece sabe – é dono de personalidade controversa. Help, ele gritou aos vizinhos, quando mais precisava, há cerca de 10, 12 anos atrás. Socorro, ministro, foi-lhe dito, em tom quase de súplica, quando procurado no início do governo Lula 3. Dino, porém, fez-se de surdo e mudo.

As promessas vãs de Dino, passaram a se encaixar no perfil de Paulo Maurício. Os dois são unha e carne. Porém, quando surge uma manicure, uma podóloga, o sangue jorra. E velhas e amargas lembranças fazem escorrer lágrimas. Sinceras, talvez. Fingidas, mais provável. ‘Você será isso, será aquilo. Comigo está você. Não há fulano nem beltrano’, diz Poli, sempre avalizado por Dino.

São duas máscaras. A relação, respeitado o campo em que atuam, é promíscua. Como bom apóstolo, Poli faz o que Dino manda. Afinal, o primeiro é um mero candidato à cadeira de Jr. O segundo, já tem cadeira vitalícia, embora intimamente sonhe com nova traição e almeje a cadeira de quem o colocou no Supremo.

Cabe aqui, para encurtar a história, o provérbio “Dize-me com quem andas, que te direi quem és”. Supostamente bíblica, a expressão tem uma força persuasiva poderosa, especialmente quando a associamos ao campo do Direito. No contexto jurídico, a noção de quem anda com quem, isto é, as relações e os vínculos entre profissionais da área, pode adquirir, com razão, um sentido pejorativo que ultrapassa a mera reflexão sobre caráter e comportamentos.

Na prática forense, as relações interpessoais carregam um peso específico, visto que advogados, juízes, promotores e outros operadores do Direito convivem em um espaço onde a neutralidade e a imparcialidade são imperativos. No entanto, quando observamos o uso pejorativo desse provérbio, ele sugere uma leitura mais crítica das associações e dos laços que surgem no meio jurídico.

O “andar com quem” passa a evocar favoritismos, compadrio, e, em casos mais extremos, conivência com práticas antiéticas. A reputação de um profissional pode ser julgada não apenas por sua atuação técnica e conhecimento jurídico, mas por sua proximidade com determinadas figuras de poder, sejam elas reconhecidas pela integridade ou por envolvimentos questionáveis. E, claro, pela quebra da palavra.

Imaginemos, a título de ilustração, um advogado que, por competência, frequenta os mesmos espaços de altos magistrados ou de políticos influentes. A percepção pejorativa que pode recair sobre ele é a de que não se destaca pelo mérito de sua advocacia, mas pela conveniência das suas relações pessoais. “Se anda com juízes, será que tem decisões a seu favor por isso?” – essa é uma dúvida que surge facilmente quando o provérbio é aplicado em sua acepção mais negativa. O valor das suas conquistas pode ser subestimado, desconsiderando-se a ética e a habilidade que ele possua, simplesmente porque há uma associação indireta com figuras de prestígio ou poder.

O provérbio também pode ser evocado quando se vê advogados circulando em ambientes de grande influência econômica ou social. Uma proximidade demasiado frequente com grandes empresários ou figuras do alto escalão do governo pode trazer à tona suspeitas de favorecimentos ilícitos ou tráfico de influência. Por outro lado, quando advogados aparecem em meio a ambientes socialmente mais periféricos ou com clientela polêmica, surge a indagação: “Será que ele compactua com atividades criminosas?”.

O campo do Direito, especialmente o brasileiro, carrega uma história onde laços de favoritismo já foram determinantes na escolha de cargos públicos, decisões judiciais e até mesmo na ascensão profissional. Esse cenário faz com que o provérbio, quando usado de forma pejorativa, seja uma ferramenta de crítica a um sistema que, aos olhos da sociedade, ainda sofre com o peso de influências externas e interesses privados. É como se a independência dos operadores do Direito fosse constantemente colocada à prova, tanto pelos vínculos que constroem como pelos círculos em que se movimentam.

Assim, o “andar com quem” pode determinar como alguém é percebido no universo jurídico: sua ética pode ser posta em dúvida, suas conquistas questionadas e, por fim, sua identidade profissional forjada menos por suas ações e mais pelas companhias que o cercam.

Defenestrado de uma chapa, Eric Gustavo anda atordoado. Jamais imaginaria Poli incorporar o papel de Judas. Traído, aprendeu uma lição. Poli representa águas passadas que não movem moinho. O futuro a curtíssimo prazo do ainda presidente da subseção de Águas Claras está traçado. Trata-se, entretanto, de uma questão de foro íntimo. As mágoas existem. O rancor é maior ainda. E Poli, Judas II, está fora do jogo. Ao menos na ótica de Éric Gustavo e seu grupo.

‘Dize-me com quem andas, que te direi quem és’. Como conheço o presidente Éric Gustavo há algum tempo, e acompanho sua trajetória, sei que o rumo que ele tomará não será o do calvário. Aliás, cruz não serve nem para Dino, muito menos para Poli. Aos dois caberia o papel da moça que foi apedrejada. Desta vez, porém, sem a interferência de Jesus.

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