Notibras

Errar (mesmo na política) é humano, mas insistir no erro é promover imolação

Quem acha que política, religião e futebol não se discutem torce para que a sociedade permaneça nas trevas da ignorância. É claro que, em lugar de comprar briga política, compro pizza. Também não faço inimigos por causa da política. Prefiro fazer bolo de milho. Normalmente substituo a confusão por uma boa canção. Meu modo inteligente para mudar a política é vigiar familiares e amigos, de modo a evitar que os políticos brinquem com suas inteligências. Não é tarefa fácil. Na verdade, é das mais difíceis, considerando que, dependendo da ideologia do familiar, discutir política é igual ou pior do que negociar partilha de bens.

Costumo dizer que, enquanto a gente briga, eles se lambuzam. Enfim, os políticos fazem parte de um grande e rico circo. Eles pintam e bordam, mas são sempre os mestres de cerimônia do espetáculo. Triunfam dia, noite e de madrugada. E vencem porque são uma minoria unida atuando contra a maioria dividida. Para nós, a plateia, normalmente sobra a corda bamba da sobrevivência. Sem malabarismos perfeitos, podemos acabar no globo da morte. Filosófica e empiricamente, os pobres não foram feitos para a política, mas para sustentar o poder dos políticos.

Voltando à discussão do debate sobre política, religião e futebol, é impossível não atestar que a parte chata não é a altercação propriamente dita. O problema é a inutilidade de nossos argumentos para os fanáticos. A esses, costumo lembrar a máxima de Henry de Montherlant, para quem a política é a arte de captar em proveito próprio a paixão dos outros. É o que fazem nossos políticos da direita, da esquerda, do centro e da casa do cacho. O pressuposto deles é como uma nuvem. A gente olha e ela está de um jeito. Olha novamente e ela já mudou.

Embora os fariseus e os fanáticos por mitos, duendes, sapos barbudos e bruxas achem o contrário, faz tempo que a política do Brasil se tornou a arte da conquista e da conservação do poder. Vimos isso recentemente. Obviamente que ninguém trama golpes à direita ou à esquerda para salvar o povo brasileiro da fome, do desemprego, da falta de habitação, tampouco dos políticos corruptos. Vã ou não, qualquer tentativa nesse sentido não passa da secura pela manutenção da condução dos negócios públicos para proveitos particulares.

Mais cômico do que trágico, os golpes acabam virando espetáculos sem graça, mas capazes de engomar o ego de meia dúzia de prostitutos engalanados e tapeadores. Como dizia Ulysses Guimarães, em política até a raiva é combinada. Foi o que tentaram fazer recentemente. Combinaram o absurdo e tiveram de engolir uma derrota ainda mais marcante do que a das urnas. É mentira? Escrevo alguma bobagem? É falso afirmar que, aliada à política, a religião é uma arma perfeita para escravizar ignorantes? Também tentaram juntar água e óleo na mesma vasilha e mergulharam em um atoleiro escaldante. Tudo em nome da paixão de alguns milhões de fanáticos.

Não à toa, Nelson Rodrigues escreveu em seus melhores momentos que o entusiasmo político é a única paixão sem grandeza, a única que é capaz de imbecilizar o homem. Como aprecio as boas frases de efeito, lembro uma bem atual de Napoleão III: “Em política é preciso curar os males e nunca vingá-los”. Diria aos que ainda hoje culpam os generais do Alto-Comando pelo fracassado tiro na democracia que errar é humano. Culpar outra pessoa é política rasteira e sem nexo. Debater sem princípios ou objetivos é chover no molhado. É por isso que me valho de uma outra tese filosófica para informar ao povo que a política é a ciência das exigências. Como nada exigimos dos políticos, eles imaginam que a gente não existe. Em resumo, o povo brasileiro recebe dos políticos a medida exata do que dá a eles: pouca importância.

…………………..

*Mathuzalém Júnior é jornalista profissional desde 1978

Sair da versão mobile