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Quem vigia o vigia?

Escândalo se renova da Pandora a Bolsonaro

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Autor/Imagem:
José Seabra

O ano que começa vai marcar, ao seu final, o décimo aniversário da abertura intempestiva de uma caixa que afundou Brasília em uma de suas piores crise políticas. E o que se pergunta hoje é que saldo ficou do gesto de abrir a boca e ser ouvido por descrentes de São Tomé.

As dúvidas são muitas. As certezas, poucas.

Derrubou-se um governo hiperativo (considerado por muitos como o que mais fez por Brasília) e instalou-se um governo tampão. Na esteira vieram dois governos eleitos caracterizados pela ineficiência.

A Pandora, que deveria ser abortada na sua gestação, ainda vive. Mas arrasta com suas correntes dúvidas que o Ministério Público, uma instituição que acredita ser Poder, e a Justiça, que é um poder de decisões a longo prazo, não conseguem esclarecer.

Há questionamentos que aguardam respostas. As supostas ilegalidades foram comprovadas ou algumas condenações se basearam apenas no depoimento do delator?

Os vídeos e áudios apresentados eram autênticos e íntegros ou tiveram supressões, enxertos e edições?

Os condenados são realmente culpados ou foram julgados levando-se em conta manchetes de jornais, muitas delas requentadas, como se Brasília, uma verdadeira metrópole, não passasse de uma cidade provinciana de uma republiqueta de bananas?

No órgão investigador, os dois membros punidos eram culpados? Se sim, seriam apenas os dois?

Pode-se afirmar quais seriam os corruptos, os corruptores e o que foi objeto do ato delituoso?

E quem, além de Brasília, ficou manchado com nódoas que fizeram de seus paraísos verdadeiros infernos?

O que dizer das pessoas levadas ao banco dos réus que sequer foram acusadas pelo delator? Isso, por si só, faz emergir novas dúvidas do real intento daquela malfadada operação.

Mas há uma certeza: o Ministério Público não conseguiu, levando-se em conta o balizamento exigido no processo penal, comprovar de modo irretorquível que a caixa aberta seria o maior escândalo da história de Brasília.

É uma reflexão que se impõe, porque, decorridos 10 anos, as dúvidas dão de goleada nas certezas.

E o certo é que, quando erros não são corrigidos, eles se repetem.

Há dois exemplos que merecem registro. O primeiro, ainda em Brasília. Uma prova inconteste da necessidade de rever erros foi a Drácon.

Derrubou-se toda uma Mesa Diretora de um Poder, desviou-se o foco das investigações.

Para puxar as rédeas de quem costuma passar com o carro na frente dos bois, o Superior Tribunal de Justiça determinou uma medida excepcionalíssima ao trancar uma ação penal (decisão que se adota diante de algo absurdo), emitindo, assim, um sinal claro que o órgão acusador deve ser mais responsável quando age para não acusar sem ter elementos mínimos.

Outro exemplo envolve o senador eleito Flávio Bolsonaro. Membros do MP, supostamente travestidos de vaidade, pinçaram o nome de uma autoridade sem medir as consequências. E deu no que está dando.

No momento em que o povo brasileiro busca reencontrar a honestidade vital para uma sociedade, é importante que não se apliquem métodos seletivos ao investigar.

Nunca é tarde lembrar que os malfeitos podem ser encontrados não apenas na atividade política, mas também nos órgãos administrativos, inclusive nos que investigam.

E a velha máxima fica sem resposta: quem fiscaliza o fiscal? Ou, em escala menor, quem vigia o vigia?

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