Quem nasceu tiririca do brejo jamais alcançará a condição de orquídea real. No máximo, morrerá como trepadeira. Com todas as vênias aos animais, é a mesma coisa que surgir girino e desaparecer jararaca, cascavel ou sapo cururu. Resumindo a prosa, como já dizia minha avó, pau que nasce torto nunca se endireita. Mija fora da privada e até a cinza é torta. É o tal do conceito irreparável no comportamento humano, que, quando não esporádico, é fruto da má educação e, quando desassistido, é maléfico. Ou seja, o comportamento é um espelho em que cada um vê a sua própria imagem. É o reflexo das atitudes do ser humano. Certa feita, Nelson Rodrigues disse que, quando determinados brasileiros não são indignos ou pulhas na véspera, são no dia seguinte.
É o caso do deputado federal por São Paulo Eduardo Bolsonaro, o filho 03 do paitético Jair Messias. Tudo indica que a genética está por trás dos desvarios, da intolerância e das asneiras produzidas às toneladas pelo imerecido e ocasional parlamentar. A última do senhorio de palafitas da região de Jacarepaguá foi comparar professores “doutrinadores” a traficantes de drogas. Não sei se ele é escolado, mas está claro que entende muito de um dos temas abordados e nada do outro. E depois se diz vítima de “desejos autocratas de comunistas”. Sorte dele é que, ao contrário do que afirma a família e seus seguidores, no Brasil não há comunistas, daqueles que, como dizem os imbecis, comem criancinhas. Se houvesse, a essa altura ele já estaria sendo comido.
Por mais que ele realmente pense e aja como o papi, nada justifica o bostejamento em locais públicos, ainda que hediondos, como é o Movimento Pró-Armas do Distrito Federal. No discurso da barbárie, o tal deputado pede para os pais que insistem em perseguir o indesejável mito prestem atenção na educação dos filhos e acompanhem o que os jovens aprendem nas escolas, de modo a não darem espaço “para o professor doutrinador tentar sequestrar as crianças”. Segundo o parlamentar embromador, não há diferença entre o professor doutrinador e um traficante de drogas, pois ambos “tentam sequestrar e levar nossos filhos para o mundo do crime”. Lamentável, mas certamente foi o que ele aprendeu na escola familiar.
De fato, quando a má educação se associa à boçalidade de berço e ao ódio dos coeiros e do poder, o resultado é o que vemos. Esse tipo de comportamento não é nenhuma para quem ajudou a zombar e também “cagou” para a morte de quase 800 mil brasileiros durante a pandemia de Covid 19. Deus sabe o que faz, mas bem que poderia ter errado a mão com esse modelo de pessoa com pensamentos e ações da Idade da Pedra. Não à toa, deveriam ter nascido com trombas, rabos, presas, chifres ou carreiras de maminhas. Como determina a norma, quem fala o que quer precisa ouvir o que não quer. Professor não é traficante. É herói. Quanto aos fascistas, denominá-los de tirano, déspota e usurpador é um elogio.
Mais breve do que imagina a nossa vã filosofia, a nova ferramenta de Inteligência Artificial se encarregará de transformar estes seres inanimados em algo parecido com birutas de aeroporto. É o máximo do merecimento. Eis a prova de que, via de regra, os filhos são o espelho do pai. No caso da narrativa, está claríssimo que o espelho foi quebrado antes do primeiro raio que partiu ao meio a cabeça de todos os membros do clã: de um lado ficaram a opacidade, a ganância e a tirania; do outro, a sacanagem, a esperteza e o ódio por todos que teimam em atravessar seus caminhos. São as especialidades da família. Tal pai, tal filho.
Para quem não aprendeu nada quando jovem, que a vida e o tempo os ensine a fazer menos maldades do que as que fez seu pai. Cassação talvez não seja o caso para um ser tão desimportante como é o referido e insignificante parlamentar. Que, a exemplo do pai, ele sangre politicamente e tenha o fim que Deus acima de todos e a Justiça acima de tudo determinarem. Tenham certeza de que não será dos melhores. Vigiado pela súcia de insensatos, quem sabe ela não se acabe afogado nas próprias lágrimas. Embora cristão, estarei na primeira fila do réquiem em sua homenagem póstuma. Vá de retro.
*Mathuzalém Júnior é jornalista profissional desde 1978