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‘Escrever é abrir a mente e se libertar de fato das prisões invisíveis’

Mércia Souza é capixaba da pequena Iúna, que trocou, com o tempo, por Cachoeiro de Itapemirim, tão cantada por Roberto Carlos. Lá, com o casamento (oficializado ainda bem nova) chegando ao fim, passou a dedicar-se ao que mais gosta de fazer (além de cochetes): escrever. Como já escrevia desde os 10 anos de idade, não foi difícil retomar o caminho das letras.

O ser humano, diz ela, pode ter muitas paixões. Mas, amor mesmo, deve ser pela busca da cultura, do conhecimento. E isso nós alcançamos lendo e escrevendo.

Veja a seguir pontos da entrevista que fiz com Mércia, via e-mail:

Fale um pouco sobre você, seu nome (se quiser, pode falar apenas o artístico), onde nasceu, onde mora, sobre sua trajetória como escritor.

Meu nome é Mércia Souza, nasci no interior do Estado do Espírito Santo, na pequena cidade de Iúna, onde vivi até os 12 anos, vindo então com meus pais para a cidade de Cachoeiro de Itapemirim onde passei a maior parte da minha vida e moro atualmente, adotando-a. Me casei aos 17 anos, deixei meus estudos e trabalho para me dedicar ao casamento e filhos, aos 33 me divorciei e pude então retomar uma grande paixão, a leitura. Tinha comigo a escrita desde os 10 anos, mas foi com o fim do meu casamento e incentivada por minha terapeuta que ela ressurgiu com força total e assim me tornei uma escritora orgulhosa. Tenho dois romances publicados, participação em diversas antologias, sou colunista de um jornal local onde juntamente com outras escritoras publicamos nossos textos e colunista da revista sarau, também com outras escritoras. Tenho um projeto “Mulheres com voz” para apoiar outras mulheres na escrita, sou artesã crocheteira, mãe de três e avó.

Como a escrita surgiu na sua vida?

Acho que a escrita é parte de mim, minha mãe iniciou minha alfabetização, aos quatro ou cinco anos ela me ensinava algumas o alfabeto e eu vivia correndo na frente dela, rabiscando em alguma areia fofa uma letra enquanto gritava que letra era e esperava a confirmação, cada palavra nova, cada letra nova era um sonho realizado, aos nove anos eu pegava as revistas de foto novelas da minha mãe escondido e as lia, meu pai tocava violão e compunha músicas, acho que daí minha grande paixão, mas eu a reconheci aos 12 anos, quando entrei pela primeira vez em uma biblioteca “A casa dos Braga” em Cachoeiro de Itapemirim e me vi em um paraíso, li meu primeiro livro e desde então minha paixão pela escrita e leitura. Durante a pandemia publiquei meu primeiro romance “Iacina”.

De onde vem a inspiração para a construção dos seus textos?

Grande parte bem do dia a dia, gosto de observar as pessoas, ouvir suas histórias. Sou aquela pessoa que conversa com um desconhecido no ponto de ônibus, que passa uma viagem inteira conversando com a pessoa na poltrona ao lado, que observa pessoas interessantes na rua. Mas, também amo caminhar por horas sozinha em uma praia e assim escrever minhas melhores memórias e histórias.

Como a sua formação ou sua história de vida interferem no seu processo de escrita?

Minha história é o que faz minha escrita, venho do interior, lavoura de café, educação rígida, a cultura patriarcal muito forte na minha história e por fim um casamento problemático. Por isso acredito que a leitura e a escrita liberta, amadurece, e nós estimula a lutar, portanto minha história é uma arma em defesa daqueles que necessitam ser ouvido.

Quais são os seus livros favoritos?

O caso da borboleta Atíria- (Foi o primeiro que li). O futuro da humanidade – Augusto Cury (li depois de um longo período sem ler, devido a meu casamento). Vivendo, amando e aprendendo – Léo Buscaglia (Ganhei da minha terapeuta).

Quais são seus autores favoritos?

Augusto Cury, Cora Coralina, Paulo Coelho, Conceição Evaristo.

O que é mais importante no seu processo de escrita? A inspiração ou a concentração? Precisa esperar pela inspiração chegar ou a escrita é um hábito constante?

A inspiração, concentração é algo natural já que outros trabalhos me exigem isso, mas a inspiração nem sempre está presente. Não preciso esperar pela inspiração para escrever, talvez pelo amor que tenho pela escrita, mas não posso dizer que a escrita é algo constante, embora esteja presente quase que rotineiramente, já que tenho o hábito de anotar tudo que me chama a atenção.

Qual é o tema mais presente nos seus escritos? E por que você escolheu esse assunto?

Mulheres e suas lutas. Eu não diria que o escolhi, mas o tema me escolheu, minha história, a história de mulheres que vieram antes de mim deve servir para mudar a vida daquelas que vierem depois de mim.

Para você, qual é o objetivo da literatura?

Se tornar um imortal, imortalizar nossa história e principalmente deixar para os próximos fórmulas de mudança, abrir a mente e se libertar de fato das prisões invisíveis.

Você está trabalhando em algum projeto neste momento?

Sim, estou finalizando um livro e trabalhando no próximo para 2025, além de cursos para novas escritoras, cursos para mulheres diminuir a timidez e aprender a falar em público. E como artesã crocheteira estou trabalhando em projeto com produção de peças para mulheres negras, juntamente com outras mulheres.

Quais livros formaram quem você é hoje? O José Seabra sempre cita Camilo Castelo Branco como seu escritor predileto, o Daniel Marchi tem fascinação pelo Augusto Frederico Schmidt, e o Eduardo Martínez aponta Machado de Assis como a sua maior referência literária. Você também deve ter as suas preferências. Quem são? E há algum ou alguns escritores e poetas contemporâneos que você queira citar?

Augusto Cury, passei seis anos sem ler livros, lia revistas, quando consegui retornar eu estava em um momento muito difícil e li o livro “12 semanas para mudar uma vida“, e a leitura desse livro me trouxe de volta, atualmente tenho uma coleção de livros do autor. E Cora Coralina, me identifico com ela como pessoa e sua escrita alegre.

Como é ser escritor hoje em dia?

As vezes um sonho, mas, na maior parte do tempo, tenho orgulho. É indescritível, para mim a publicação de um livro era algo impossível, e tê-lo realizado me faz pensar que nada é impossível, me dá força e coragem.

Qual a sua avalição sobre o Café Literário, a nova editoria do Notibras?

Nota 1000, é muito bom ver projetos que apoiam a literatura, principalmente a brasileira, o Café Literário está de parabéns. Fiquei muito feliz quando eu soube.

Tem alguma coisa que eu não perguntei e você gostaria de falar?

Não, pelo menos que eu me lembre no momento. Por hora fiquei satisfeitíssima com essa nossa conversa.

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