Entrevista/Cassiano Silveira
Escrever é como interagir livre com os personagens’

Cassiano Silveira nasceu com o dom das palavras, que costuma colocar no papel e transformar em livros. Como é escrever, eu pergunto. E ele responde, de pronto: é interagir com personagens.
Conheça a seguir um pouco desse renomado profissional das letras, em entrevista concedida por e-mail:
Fale um pouco sobre você e sua trajetória literária.
Então, escrevo faz muito tempo, desde adolescente. Mas só comecei a trabalhar isso de forma mais sistemática após dois eventos: o nascimento do meu filho e a pandemia de Covid19. E contei ainda com um catalisador, ou melhor, uma catalisadora, a escritora Edna Domenica Merola, que apostou em mim desde que nos conhecemos. Tenho hoje vários textos publicados em coletâneas e dois livros solo, “Sobre o medo, a morte e a vida” (Ed do autor) e “Tr3s contos sobre mães famintas e outros textos que devoram” (Ed Toma Aí Um Poema) – apesar do nome da editora, é um livro de contos.
O que o inspira a escrever? Como é o seu processo criativo?
Geralmente parto de acontecimentos cotidianos, que depois vou trabalhando na forma de contos ou poesia. Mas gosto da criação através de oficinas, que nascem de uma provocação dos “professores”.
Há alguma preferência por temas ou gêneros?
Temas “existencialistas” são bem recorrentes pra mim e gosto de escrever no estilo do “novo horror”. Mas não me amarro a temas ou estilos, deixo fluir.
Textos coletivos não é algo tão comum entre os escritores. Como é lidar com outros escritores? Você se frustra ao se deparar com lidar com outros escritores os caminhos diversos que seus colegas tomam em relação ao texto?
Textos coletivos são um ótimo exercício! Gosto da ideia de tentar escrever algo num formato que não é o meu, tentar mimetizar outro autor. Claro que eventualmente um texto pode tomar um rumo que não me agrade de todo, mas penso que aceitar esse resultado faz parte do aprendizado, ajuda a “pensar fora da caixa”. Mas o tema tem que me mobilizar, do contrário, declino da participação. Não gosto de escrever apenas com técnica… Preciso sentir.
Como você controla o ego de escritor ao trabalhar com outros autores? Há uma disputa interna ou você consegue levar isso numa boa?
Sim, há disputas internas, há ego envolvido, mas como eu disse antes, controlar o ego faz parte do exercício. Procuro alimentar meus “lobos” de maneira equilibrada. Sempre terei meus textos individuais para exercer minha liberdade, então nos coletivos penso mais em contribuir ao resultado que em impor algum.
Como você lida com as críticas ao seu trabalho?
Costumo receber menos críticas do que acho que seria cabível. Na verdade, tenho pouco retorno dos textos, seja positivo ou negativo. As pessoas se limitam, em geral, a uma curtida no Instagram, aquela interação automática, sabe? Mas não é só comigo, vejo acontecendo com muitos amigos/colegas que produzem algo e expõem na internet. Creio que é característico da forma como estão funcionando as redes sociais: empurram tanto conteúdo pago pra gente que falta tempo pra gente se dedicar àquele conteúdo que realmente importa… Mas gosto de receber críticas, pois é uma forma de entender como nossos escritos estão chegando ao leitor. Se eu achar a crítica descabida, ignoro, simples assim.
Como você se relaciona com seus leitores?
Como eu disse, tenho pouca interação via rede social (não tenho me dedicado com o afinco necessário), mas faço questão de responder qualquer um que postar um comentário, nem que seja com um coraçãozinho. Já no bate-papo pessoal, a interação tende a ser bem agradável. Participar de grupos online de escritores também pode ser construtivo (mas aquele ego citado antes pode atrapalhar em alguns momentos). Aliás, se alguém quiser interagir, meu Insta é @siano_silveira.
