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‘Escrever é um ato solitário destinado a outras pessoas’

Ela é poliglota no jeito de viver e ver a vida – isso sem falar no que e sobre o que escreve. Filha de uma mineira com um carioca, Simone Magalhães, nascida, criada e residente em Brasília, é daquelas que tem traquejo para mostrar seu lado carismático.

Felicidade é palavra obrigatória no seu rico vocabulário. Nesta entrevista concedida a Notibras, ela recorda suas primeiras letras, vislumbra um futuro de paz para a humanidade e dá uma dica valiosa: não dá para viver da Arte no Brasil, mas é  possível viver com arte.

Leia os principais trechos da entrevista:

Fale um pouco sobre você, seu nome (se quiser, pode falar apenas o artístico), onde nasceu, onde mora, sobre sua trajetória como escritor.

Quem eu sou? Hum … Simone Magalhães, nascida e residente em Brasília, filha de uma mineira e um carioca. Sou jornalista formada, mas trabalho atualmente como radialista. Brinco com as palavras desde os meus 8, 9 anos, quando fiz o meu 1º poema. Para um muso, é claro. Nessa época já tinham as cartinhas. Durante a adolescência, as correspondências se acentuaram (fiz parte do Internacional Pen Friend), e graças ao incentivo de uma professora de Português, adentrei no mundo das crônicas. A minha primeira, inclusive, foi lida em sala, com a professora aos prantos (a mesma acabou sendo guardada por ela, infelizmente não tenho nem cópia). Nas redações também já tive comentários do tipo e não propriamente da nota. (risos). Com a pandemia, retomei o velho hábito da escrita. E, com prazer, me aventurei em buscar a beleza, autoexpressão e cura por meio da poesia. Que libertação! Para mim é como abrir o armário e …. (lá está a porta de Nárnia). De lá para cá, tenho publicado em zines, revistas digitais, algumas antologias e ousado também versões para podcast e rádio. Em 2022, após algumas oficinas de poesia, escrita (que tenho continuado) participei por alguns meses de um coletivo de escrita (online) só com mulheres de todo o país. Mas acabei saindo por algumas divergências (como só ler e validar autoras mulheres). Hoje há tanta divisão, né? E a boa notícia é que após inúmeras tentativas (continuo até hoje e para outras áreas como fotografia) tive meu poema “Receitas de Bolo (ou Afeto?)”, selecionado para o I Concurso de Poesia Conhecer e Conquistar, na Paraíba. O prêmio, no meu caso, foi uma coletânea que recebi em casa, ao lado de jovens de todo o país. Então, por tudo isso, tenho tido muito retorno e conhecido muita gente através da escrita. Mas não me considero escritora/artista/poeta, estou apenas brincando, me experimentando, e como tenho a sensibilidade na alma. Portanto, não vivo da arte, se é que dá para viver da arte no Brasil, né? Ainda mais com tantos talentos.

Como a escrita surgiu na sua vida?

(Respondido um pouco acima). A partir deles, os musos. Mas tive uma fase mais existencialista, aos 15. Portanto, meus poemas eram bem assim. Nada só românticos ou para alguém. E sim, eu tive diário, mas não escrevia tanto ali. Era mais uma rede social de ‘acontecimentos’. Todavia, tinha um caderninho de filmes. Ali sim, escrevia bem mais o que pensava, etc. Agora como jornalista, estudante de jornalismo, e voluntária eu já estava escrevendo, pensando … E no 2º grau era muito bom ter algum papel na bolsa para anotar ideias, ou frases para rascunhar depois. As cartas também … Nossa! Eu colocava até um papel fino de TANTO que eu escrevia. De ideias, impressões, às vezes dando alguma orientação para a pessoa também.

De onde vem a inspiração para a construção dos seus textos?

Acho que sinto muito, sabe? Mas, apesar de já ter sido demasiado fatalista, nunca quis passar isso para os outros. Então, na poesia, na escrita acho que me depuro um pouco. Sai o melhor de mim, por isso tento ficar bem para escrever, organizar os pensamentos e o que sinto. Mas muita das vezes, acho que saem como mensagem. Pra mim primeiroº, mas também compartilhado aos outros. Apesar de ser um ato solitário, a gente escreve para e pensando nas pessoas também. Há essa comunhão! Então, a inspiração pode vir sim da natureza, de um desejo, mas acima de tudo é um misto criativo disso tudo. Já escrevi sobre cheiros, por exexmplo. Algo que vivia e era muito REAL para mim. Que me faz bem, e já cheguei a praticar muito! Então, hoje é bem mais existencialista. Algo que realmente estou sentindo ou passando … E a gente aprende a ressignificar isso, né? É uma autodescoberta, um eterno aprendizado! Mas claro, que a música também desperta e amplia esse imaginário. Já escrevi para a lua, por exemplo. Bom, que tudo pode ser tema. Basta ter o olhar e se permitir!

Como a sua formação ou sua história de vida interferem no seu processo de escrita?

Minha formação me ajuda muito, mas também sou um pouco introvertida, o que favorece devaneios e… Tenho pensamento acelerado, muitas ideias e desejos… A tal ansiedade? Ânsia, sim. Então, é um desafio não ir para o lado negativo. E, ao contrário disso, enxergar e se conectar a beleza e leveza que existem nas pequenezas por aí. Não só grandes feitos, sabe? Exatamente por isso, parei aqui, na poesia. Porque me dá asas! (risos) Até uma dor (e já escrevi sobre ela) pode ter outros olhares e significados. A vulnerabilidade aqui, a emotividade não precisa ser fraqueza. E tenho visto, da pandemia pra cá, vários movimentos assim. De pessoas de todas as idades se abrindo, sem perfeccionismos. Apenas existindo e isso é de uma potência ímpar!

Quais são os seus livros favoritos?

Poesia de autores vivos me voltei mais recente, a partir de 2014, quando morei no Rio de Janeiro. Ali tudo chama a Arte, né? Mas os meus preferidos são livros de autodesenvolvimento e até autoajuda. Gosto dessa linguagem mais simples e prática para o dia a dia. Para mim, ajudaram muito livros como A Profecia Celestina e O Poder do Agora. De poesia, estou devorando Rupi Kaur mas também outros contemporâneos e até desconhecidos. Gosto de ver a escrita, o tema, etc. Aprecio também os pequenos e independentes! Antes, na crônica, amava Luis Fernando Veríssimo (como queria escrever assim!) e Nelson Rodrigues, mas já li muito Marta Medeiros. E, Vinícius… Ah! Mas aí parei na música mesmo. E, claro, desde as aulas de literatura vimos que nossa música também tem muita poesia.

Quais são seus autores favoritos?

(Respondido um pouco acima). Leio os vivos, gosto de observar a escrita. Mas meu favorito sempre foi Fernando Pessoa. Ultimamente Cora Coralina e Manuel de Barros têm me caído muito à mão. Mas aí que falo da cura, muita coisa, muito desta leitura tem me curado, dado paz. E com isso a gente aprende a ler o mundo. Gosto muito desse casamento com a música, de ler músicos nessa escrita, processo. Porque amplifica!

O que é mais importante no seu processo de escrita? A inspiração ou a concentração? Precisa esperar pela inspiração chegar ou a escrita é um hábito constante?

Como nem sempre baixamos o santo. (risos) Gosto de ir degustando aos poucos, maturando os versos, frases… Então, pode vir caminhando, no mercado, insone… Considero que as minhas melhores e mais profundas escritas vieram madrugada adentro. Mas trabalhando a gente precisa se reorganizar, né? Então, tive bons períodos assim. Mas é como falei: se você está bem, leve… A frase ou o tema, vem. Seja com uma música, seja na paisagem, seja com uma memória, cheiro… E é muito bom quando isso acontece. Porque você se sente realmente vivo, tudo faz parte! E você mergulha. Mas é claro, que ás vezes, a gente está mais reflexivo. Em outras, eu costumo guardar mais…

Qual é o tema mais presente nos seus escritos? E por que você escolheu esse assunto?

Amor é sempre o primeiro. Mas aí era o amor romântico, platônico. Depois, na adolescência, como falei: algo mais existencialista. E pós pandemia … tem a ver com muita coisa ressignificada: uma dor, natureza, cheiros, o tempo … Tudo pode ser um tema e ganhar uma nova dimensão. É literalmente abrir as portas da percepção!

Para você, qual é o objetivo da literatura?

Pra mim é sentir, poder sentir e expressar isso. Não para alguém, mas porque somos humanos. E um ajudando o outro aí. Que me desculpem os literatos, que querem escrever para o ego ou prêmio. Mas essa leitura e literatura que tenho visto é muito mais terapia, conexão, de contar sua história. Gosto do que diz a escritora portuguesa Matilde Campilho: “A poesia não salva o mundo. Mas salva o minuto”. Pra mim, isso basta.

Você está trabalhando em algum projeto neste momento?

Como diz Pessoa: “tenho em mim todos os sonhos do mundo”. Ou seja, mais ideias e desejos do que propriamente a prática (risos). Todavia, após todo esse percurso, e que não planejei nada, participei em agosto de uma oficina com a poeta brasiliense Marina Mara e produzimos um sarau e uma videoarte. Então, abriu muito para mim mais este caminho e novas linguagens. Mas já mandei textos e busquei parcerias em rádios, tento muita coisa. Assim como concursos e divulgação nas redes. Então, foi uma grata surpresa, ter conseguido esse espaço na nova coluna do site Notibras, que eu já acompanhava. Não sabem a felicidade que fico em me ver ali publicada no Café Literário. Divulgo, compartilho e já me sinto realizada. (risos) São como filhos, né? Crias. Gosto da frase que cito em meu blog: “O que é preciso é criar, dar alguma coisa de si…” (Oswaldo Goeldi). Acho que sempre me doei muito então, agora, isso tem feito sentido e bem pra mim. Agradeço muitíssimo todo o carinho e atenção da equipe de Notibras! E pra novembro espero participar de mais projetos, que tentarei divulgar a medida que se realizem. Mas um grande sonho, que já tentei é claro, e ter uma plaquete de poemas já publicados e inéditos. Como tenho pouca coisa não daria bem um livro!

Quais livros formaram quem você é hoje? O José Seabra sempre cita Camilo Castelo Branco como seu escritor predileto, o Daniel Marchi tem fascinação pelo Augusto Frederico Schmidt, e o Eduardo Martínez aponta Machado de Assis como a sua maior referência literária. Você também deve ter as suas preferências. Quem são? E há algum ou alguns escritores e poetas contemporâneos que você queira citar?

Sem dúvida, Fernando Pessoa e seus heterônimos. E como citei, eu queria escrever como o Luis Fernando Veríssimo. Muita coisa eu tento ‘não ler’ (isso mesmo) para não me influenciar muito. Por exemplo, se estou em poesia. Vou ler crônica e irá me dar vontade de fazer crônica. Portanto, por ora, me policiando pra ficar e ler poesia. Mas claro, leio também coisas abertas. Tenho crônicas em casa e adoro, mas vou me perder ali. No melhor dos sentidos, é claro. (risos). Gosto dos clássicos, já li Cruz e Souza. Amo a arte também então as influências são as mais variadas. Vai da sensibilidade mesmo, dessa escuta. E sim, o silêncio também ajuda muito. Escutar-se.

Como é ser escritor hoje em dia?

Me considero generalista: tento de tudo um pouco. Mas não vivo da arte. Escrevo (rascunho mais na verdade), é um hobbie que me preenche, empreendo, conheço gente. É uma autorrealização que espero continuar.

Qual a sua avaliação sobre o Café Literário, a nova editoria do Notibras?

Fico muito feliz em abrirem esse espaço. E que venham boas notícias por aí como o concurso ou até uma coletânea do que já foi publicado! E agradeço imensamente por terem me incluído nessa. Já tive tanta negativa que… Ou são sempre as mesmas pessoas e grupos que aparecem que… Viva a real diversidade!

Tem alguma coisa que eu não perguntei e você gostaria de falar?

Deixo aqui meu Instagram caso queiram dar uma olhada, ele não é literário, mas @sissi_bsb. Por lá, na bio, há o link do meu blog que tem outros escritos e colagens. Sempre brincando e nada monetizado ainda. Mas para novembro, se tudo der certo, investindo nisso. É preciso vender-se né? Não para ganhar muito, mas… Conhecer gente, tentar parcerias, etc, sempre vale. E quiçá, é a vida girando, movimento. Abraços, pessoal.

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