Entrevista/Hannah Carpeso
‘Escritor deve escrever e repetir: Livro impresso já’
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emSou uma pessoa mais retraída, gosto da solidão e minha mente borbulha em vidas. A arte, a criação, o viver muitas personagens é uma forma de contemplar vazios e desejos.
É assim que se descreve Hannah Carpeso, uma carioca que vive a vida sem contar o tempo. Na entrevista a seguir, concedida por e-mail a Notibras, ela fala, em tom filosófico, que escrever é realizar sonhos.
Leis os principais trechos:
Fale um pouco sobre você, seu nome (se quiser, pode falar apenas o artístico), onde nasceu, onde mora, sobre sua trajetória como escritor.
Hannah Carpeso surgiu quando um Lápis escreveu um Sonho e enviou ao mundo um Cartão Postal. Duas de suas obras que incentivaram sua carreira literária. Brasileira, nascida em 1949 na cidade do Rio de Janeiro, é especialista em Educação e Bioética; viveu o Magistério e a Administração Pública Federal. Seu trabalho literário tem sido reconhecido e publicado em níveis nacional e internacional.
Como a escrita surgiu na sua vida?
O meu processo criativo é interessante. Desde cedo, escrevo. Comecei na adolescência quando o coração romântico brotava poesias, Também o colégio onde estudei incentivava concursos de poesias; depois no período de magistério, escrevia algumas histórias infantis, inspiradas em Maria Clara Machado porque entre as leituras infantis, e as apresentações de teatro com os alunos me despertaram histórias.. No caminho da aposentadoria revisitei meus escritos e aventurei uma primeira vez.
De onde vem a inspiração para a construção dos seus textos?
Normalmente vejo escritores citarem autores que inspiraram seu estilo, sua forma de redação, Devo dizer que fui uma adolescente voraz em leitura. Mas nunca tive a pretensão de escrever pensando em publicar. Na fase de literatura infantil Maria Clara Machado com suas peças de teatro foi uma referência. Na poesia, como já mencionei ela brota como se eu conversasse comigo E quanto aos contos e crônicas, talvez… Eu possa dizer: Luiz Fernando Sabino com seu humor, Nelson Rodrigues com sua acidez. No íntimo, sem consciência, uma pitada de cada um que me caiu nas mãos a folhear. Na maior parte das vezes, o conto ou a crônica se manifestam durante a noite, muitas vezes levanto para escrever. Eu diria àqueles que acreditam que seria quase uma psicografia.
Como a sua formação ou sua história de vida interferem no seu processo de escrita?
Sou uma pessoa mais retraída, gosto da solidão e minha mente borbulha em vidas. A arte, a criação, o viver muitas personagens é uma forma de contemplar vazios e desejos. Minha formação na área educacional buscou ideal, na propaganda e marketing – a troca, as mensagens, e na bioética a questão dos valores e princípios são fortes. A escrita funciona como uma companhia com quem posso dialogar sem falar.
Quais são os seus livros favoritos?
Alguns livros, eu não gosto. Nem por isso desvalorizo. Somente não os leio. Mas ao precisar apontar prediletos, penso ser injusto. Gosto do que me desperta, me acalanta, me encanta. Quanto aos estilos não me detenho muito. Creio a leitura momentos de lazer, de indagação, de conhecimento, de alerta, de romance. A escolha de um livro deve representar um momento especial. Assim como sinto, ao escrever. Não tenho um estilo somente, sequer uma forma, libero a emoção que me toca e compartilho.
Quais são seus autores favoritos?
Pergunta difícil pra mim. Gosto de todos e, mais de alguns. Cada um no seu escrever. Como já mencionei, leitura é uma emoção viajante. Acompanhar personagens em histórias e viver paralelamente a vida que o autor criou. É uma experiência sem definição.
O que é mais importante no seu processo de escrita? A inspiração ou a concentração? Precisa esperar pela inspiração chegar ou a escrita é um hábito constante?
Dizem que virginianos são perfeccionistas e detalhistas, Eu não sei dizer, todavia, inspiração e concentração são processos que comungam juntos. Quando começo a escrever, a dificuldade é interromper. Pelo tempo que disponho, deixou de ser um hábito. Tornou-se um vicio saboroso.
Qual é o tema mais presente nos seus escritos? E por que você escolheu esse assunto?
Acredite. Não existe um tema mais presente. Sou volúvel na escrita. Posso ouvir uma notícia. Um comentário, um sonho, uma necessidade, e sinto a vontade de escrever. Quanto mais escrevo minha mente dita as frases e o conteúdo.
Para você, qual é o objetivo da literatura?
A literatura é mensagem a ser compartilhada e discutida, guardada. É espaço de lazer, de interrogação, de revelação. Oportunidade de desenvolvimento-registro de épocas. É passado-presente e futuro é parte principal da cultura de um povo. O LIVRO é imortal
Você está trabalhando em algum projeto neste momento?
Acabo de publicar uma novela. VIDAS PARALELAS pela Editora Mandacaru. É consagrado a todas as mulheres que por ingenuidade ou carência sofreram com uma situação de misoginia. Débora é a personagem principal. Uma mulher independente, focada no trabalho, emocionalmente experiente que se envolve numa relação afetiva conturbada e busca saídas para a sua sanidade. VIDAS PARALELAS apresenta: “Algumas pessoas amam ter você. Amam o prazer que recebe, mas, não amam você.”.
Quais livros formaram quem você é hoje? O José Seabra sempre cita Camilo Castelo Branco como seu escritor predileto, o Daniel Marchi tem fascinação pelo Augusto Frederico Schmidt, e o Eduardo Martínez aponta Machado de Assis como a sua maior referência literária. Você também deve ter as suas preferências. Quem são? E há algum ou alguns escritores e poetas contemporâneos que você queira citar?
Como afirmei anteriormente, são muitos. Graciliano Ramos, Guimarães Rosa – clássicos, Cecilia Meirelles, Clarice Lispector, Fernando Sabino, Luiz Fernando Veríssimo “cada um no seu cada qual.”
Como é ser escritor hoje em dia?
Não posso falar por outros. Ser novato é difícil. Poucas oportunidades de divulgação. Muita oferta de publicação paga, o que não assegura qualidade. Os espaços em livrarias são restritos. E o hábito de leitura do brasileiro é atualmente atropelado pelos novos hábitos.
Qual a sua avalição sobre o Café Literário, a nova editoria do Notibras?
Uma porta aberta para nós corajosos e persistentes escritores. Parabenizo a todos pela iniciativa e pela oportunidade de divulgação.
Tem alguma coisa que eu não perguntei e você gostaria de falar?
Um incentivo ao escritor. Escreva para você. Há quem diga que a escrita tem que visar o leitor. Eu creio que seu estilo encontrará o seu leitor. Receita de bolo qualquer um faz. Use os ingredientes que marcam a diferença no sabor. E nunca, nunca desista do livro impresso.