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Asfilófio, o filósofo de banheiro

Escrituras fazem servidor ter crise peristáltica

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Autor/Imagem:
Eduardo Martínez - Foto Reprodução das Redes Sociais/PNGWing

Asfilófio acordou com o estridente anúncio do despertador. Hora de levantar! Abriu os olhos remelentos, esfregou a cara amarrotada, bocejou e sentiu o desagradável odor do seu próprio bafo. Precisava escovar os dentes e a língua, esbranquiçada de tanto ficar muda durante a madrugada.

Já em frente ao espelho do banheiro, tentava se encarar, mas a imagem refletida não era das melhores. Melhor seria voltar para a cama e se esquecer de tudo. Não seria prudente! Precisava tomar coragem para outra segunda-feira! Que dia deprimente!

Depois da terceira xícara de café, Asfilófio pareceu mais disposto e, finalmente, saiu de casa. Os passos não eram tão rápidos, talvez pela repulsa da imagem do trabalho. Sentiu o delicioso aroma da maresia, que o convidava para um mergulho no mar, mas esse pensamento foi interrompido por um esbarrão de um transeunte. Dividido entre sua cama e a praia de Copacabana, acabou mesmo por ir até a repartição onde trabalhava. Que droga!

Mal entrou, percebeu dois colegas ouvindo um terceiro, que discursava euforicamente. Asfilófio quase não notava os significados das palavras, apenas ouvia o ruído estridente daquela voz, que o irritava desde sempre. Até que o tal palestrante levantou o tom e pronunciou, quase teatralmente: “Tudo é uma questão de hermenêutica!”

Asfilófio, assim como os outros dois ouvintes, ficou boquiaberto. Ele nunca havia ouvido essa palavra esquisita. Mas, antes que pudesse tentar descobrir, uma pontada bem lá no fundo da sua barriga anunciava que ele necessitava urgentemente de um banheiro.

Sentado no vaso sanitário, Asfilófio não fazia a menor ideia do que era aquilo que seu colega havia dito. No entanto, enquanto esvaziava o conteúdo dos seus intestinos, não teve a menor dúvida: “Tudo é uma questão de movimentos peristálticos!”

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