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Operação tabajara

Esparrela de Xandão desmonta nova trama bumerangue dos bolsonaristas

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Autor/Imagem:
Armando Cardoso* - Foto de Arquivo/ABr

Em meio à tempestade que atingiu o Sudeste, com numerosas mortes e muita gente pobre desabrigada, pelo menos um nobre está desalojado desde que, de modo infantil, deu com a línguas nos dentes, tentando, a meu ver, ludibriar os experientes juízes do Supremo Tribunal Federal e a competente malandragem da Polícia Federal. Como dizia o cantor e compositor Alcides Gerardi, “Camelô na conversa vende algodão por veludo/Não tem bronca, porque neste mundo tem bobo pra tudo/Tem alguém que é bobo de alguém apesar do estudo..” Letra atualíssima, mas qualquer coincidência com o tenente-coronel Mauro Cid e o tenente Jair Bolsonaro é mera semelhança.

De acordo com o calendário do faz de conta, hoje é o Dia Mundial do Orgasmo. Quem tem ejaculação precoce comemorou de véspera. Tudo indica que este foi o caso do presidente Jair Messias que, acertado com sua turma de ponta, achou que poderia enganar Alexandre de Moraes, os demais ministros isentos do Supremo Tribunal Federal e a Polícia Federal. Sugerir, pedir ou ordenar que seu ex-ajudante de ordens gravasse e vazasse um áudio tentando desqualificar as investigações da PF é mais do que amadorismo. É supor que toda a República é burra como eles.

Se para alguns dos magistrados do STF as negociadas críticas do tenente-coronel Mauro Cid cheiram a armação das mais pueris, para a maioria não há dúvida. E não há mesmo. A menos que Mauro Cid seja pior do que um quadrúpedes sem rabo, acreditar em pedidos de uma pessoa que o abandonou na primeira esquina é o mesmo que assinar mais uma sentença de morte. Foi o que ocorreu. Se a primeira ideia da gravação e do vazamento do áudio era sustentar uma nova estratégia da defesa de Bolsonaro, o objetivo foi alcançado. E ficará nisso.

Desde a noite de sexta-feira (22), o discurso do advogado, dos aliados e dos simpatizantes é no sentido da desqualificação dos inquéritos. Falam até em CPI. Nada que mereça crédito. Tentam forçar o impedimento de Alexandre de Moraes nas investigações sobre a tentativa de golpe de Estado, pois sabem que, além de já ter opinião formada a respeito do tema, Xandão não deixará barato. Sabem de nada, inocentes. Dizer que ao abrir o bico Mauro Cid estava com a faca no pescoço é uma balela, daquelas que não colam nem durante o recreio dos berçários nacionais.

Com todos os ingredientes de uma fantasiosa operação tabajara, como foi a gravação do vídeo anterior à tentativa do golpe de 8 de janeiro, a versão vazada dificilmente terá outra definição que não a de armação de bolsonaristas contra o trabalho da PF. Pode ser mais uma coincidência, mas interessante foi o veículo utilizado para o vazamento. Ainda há muita coisa que mortais como eu não sabem. Não tenho ideia das vantagens oferecidas a Mauro Cid, mas certamente a brocha ficou na mão do tenente-coronel. Novamente preso, no mínimo o militar deve perder inclusive os benefícios da delação premiada. A manutenção de sua família é outra preocupação.

Se Xandão entender que ele atuou para obstruir as investigações também durante os depoimentos aos investigadores, aí a naba será muito maior. Em todo esse processo há algumas curiosidades. Uma delas foi o veículo “escolhido” para esquentar o áudio. Sabidamente adversária visceral de Luiz Inácio e de seu governo, a revista Veja recebeu exclusividade na divulgação de uma conversa entre Cid e um amigo sobre o acordo de delação premiada firmado com a PF. A afirmação de que os investigadores têm uma “narrativa própria” e que só queriam que ele (Mauro Cid) confirmasse a narrativa não colou. E não vai colar. Até os aedes aegypts que ainda não conseguiram picar uns e outros por aí se assustaram com a falta de profissionalismo dos atuais disseminadores de fake news bolsonaristas. Eles já foram mais astutos.

*Armando Cardoso é presidente do Conselho Editorial de Notibras

 

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