Vladimir Platonow
O Brasil não está livre de atentados terroristas, inclusive durante os Jogos Olímpicos que serão realizados em agosto deste ano, no Rio de Janeiro (Rio 2016), segundo especialistas e estudiosos do assunto, pois não pode se isolar diante de um fenômeno mundial e deve enfrentar esse fato, contando com a “lucidez e o profissionalismo da Polícia Federal”, na opinião do professor da PUC de São Paulo, Fernando Altemeyer Jr.
O tema foi discutido durante a conferência Religiões, Intelectuais e Mídia: Posições diante do Terrorismo, realizada ontem (8) e hoje (9), em São Paulo, pelo Centro Cultural Brasil-Turquia (CCBT) e pela Faculdade Cásper Líbero. Para o professor de Relações Internacionais da Universidade de São Paulo (USP) Peter Demant, especializado em Oriente Médio, embora o Brasil não seja afetado diretamente por atos terroristas, podem ocorrer ataques no país, inclusive nos Jogos Olímpicos.
“Em primeiro lugar, o Brasil não pode se isolar do resto do mundo. É uma coisa boa que o país tenha sido poupado de ataques terroristas, mas a questão do terrorismo é mundial e nada garante que, no futuro, o Brasil se mantenha afastado deste problema. Uma coisa boa é que aqui não temos grandes tensões entre religiões e etnias. Mas, hoje, se importam problemas”, disse Demant.
O professor chamou a atenção para o fato de que os Jogos Olímpicos serão uma vitrine para o mundo, o que poderá atrair terroristas que desejem chamar a atenção internacional para suas propostas: “O terrorismo é uma forma de comunicação obviamente ilegítima e terrível, mas os próprios terroristas consideram de outra maneira. Eles acham importante fazer algo que capte a atenção da mídia e, através disso, a atenção da sociedade. Qualquer lugar onde muitas pessoas de muitas nacionalidades se encontram, hoje, inclui riscos de segurança. , com certeza, as Olimpíadas também fazem parte disso”, disse o professor da USP.
O risco nos Jogos também é motivo de preocupação para o jornalista Lourival Santana, especializado em guerras e conflitos armados e que já cobriu momentos críticos em mais de 60 países. Segundo ele, havia a necessidade de o país ter uma Lei Antiterrorismo, conforme foi aprovado recentemente pelo Congresso.
“Em muitos dos países que eu cobri havia antes esta inocência, esta tranquilidade, de não ter o terrorismo, mas de uma hora para outra surgiram atos terroristas e as pessoas não estavam preparadas, por pensarem que isso aconteceria naquele país. Felizmente, estamos aqui no Brasil, até o presente, livres desses atos, mas precisamos estar preparados, principalmente quando temos grandes eventos, como é o caso dos Jogos Olímpicos, daqui a poucos meses”, advertiu Lourival Santana.
Segundo o jornalista, muitas das pessoas cooptadas pelos grupos terroristas são jovens deslocados socialmente: “Às vezes, são jovens que não encontram um sentido para a vida e se sentem marginalizados. Não necessariamente pela pobreza ou o desemprego, mas por razões psicológicas e sociais, pois encontram no terrorismo a narrativa de um sentido para a vida, a oportunidade para ter um protagonismo e até um heroísmo, um destaque social. E no Brasil existe uma parcela muito grande da população que não é assistida por serviços para evitar que jovens vão por esse caminho”.
O encontro analisou, no segundo dia de debates, a situação do ponto de vista religioso, reunindo representantes das igrejas católica e protestante, do judaísmo e do islamismo. Para o presidente do CCBT e organizador do evento, Mustafa Goktepe, atualmente a questão do terrorismo é mundial. “Infelizmente, hoje em dia o terrorismo é um fenômeno real, que atinge os países em diferentes formas. Portanto, em vez de fugir do assunto, precisamos discuti-lo, com pessoas de diferentes ideologias e religiões, a fim de buscar possíveis soluções para o fim da violência, pois cada um procura justificar seus atos neste sentido”, disse Goktepe.
A mediação do debate reunindo os religiosos coube ao professor de Opinião do departamento de Ciências da Religião da PUC de São Paulo Fernando Altemeyer. “Fiquei preocupado com o anunciado por alguns debatedores, que consideram certa a vinda do terrorismo de grandes proporções, como o que está acontecendo no mundo, ao Brasil, porque aqui é uma terra virgem, que poderia ser um celeiro de terroristas. Isto é possível e enfrentar este fato é uma necessidade. “O Brasil não está livre do terrorismo. As Olimpíadas são um pretexto, uma vitrine, mas eu não acho que vão utilizar isso, se a gente tiver o mínimo de lucidez e de profissionalismo da Polícia Federal. Não podemos nos isolar, pois o terrorismo é mundial”, disse Altemeyer.
Segurança
As Forças Armadas vão designar 38 mil militares para cuidar da segurança dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro (Rio 2016), de 5 a 21 de agosto deste ano. Desse total, 20 mil atuarão na cidade-sede e o restante do efetivo será distribuído entre as outras cinco cidades – Brasília, Belo Horizonte, Manaus, Salvador e São Paulo – que receberão partidas de futebol masculino e feminino.
Foram gastos R$ 704 milhões, entre 2014 e 2016, com treinamento, equipamento e custeio das tropas. Dessa verba total, R$ 240 milhões foram disponibilizados neste ano.
Segundo o ministro da Defesa, Aldo Rebelo, as Forças Armadas prepararam um conjunto de ações de prevenção ao terrorismo. Serão atividades de inteligência de defesa para prevenir atos terroristas e, no campo de combate, atividades de caráter repressivo, que visam a impedir e responder a atos terroristas.
O ministro, prefere não entrar em detalhes sobre as operações antiterrorismo como, por exemplo, um possível monitoramento de indivíduos, brasileiros ou estrangeiros, que sejam uma ameaça em potencial: “Anunciar não é muito prudente. Tudo que tiver que ser feito, os órgãos de segurança fazem para garantir as ações, inclusive no âmbito da cooperação internacional”.
Agência Brasil