Um relatório que acaba de ser divulgado pela empresa norte-americana Strider Technologies acusa a China de se infiltrar em empresas e instituições de tecnologia ocidentais como parte de “uma máquina que facilita a transferência de tecnologia e talento europeus”. Nos últimos 20 anos, mais de 30 mil funcionários seniores de empresas de tecnologia europeias se mudaram para Pequim e adjacências, em alguns casos iniciando suas próprias empresas para competir com suas contrapartes ocidentais.
O CEO da Strider, Greg Levesque, diz que a China “vê a liderança no setor de semicondutores como vital para seus objetivos militares e comerciais e nada a impedirá de prosseguir com esses esforços. O O Ministério das Relações Exteriores chinês refutou as acuações, dizendo que Strider “já publicou uma série de relatórios cheios de informações falsas difamando e atacando a China. A troca de talentos da China com países estrangeiros não é diferente de outros países”, sustentou.
Jeff J. Brown, autor de The China Trilogy , editor da China Rising Radio Sinoland , co-fundador e curador da Bioweapon Truth Commission , disse que cerca de 40 anos atrás, “a pesquisa ocidental tornou-se um jogo, com fins lucrativos e ainda é assim”.
“Antes da década de 1980, a maior parte do dinheiro para bolsas de pesquisa no Ocidente vinha de fontes governamentais – agências e fundações – então havia menos amarras comerciais e ideológicas. Com o neoliberalismo Reagan/Thatcher começando na década de 1980, essas bolsas secaram e grandes corporações preencheram a lacuna oferecendo financiamento, provocando esse êxodo”.
Brown disse que um “ambiente de trabalho venal, tóxico e revoltante” surgiu nos anos desde então, acrescentando que “é de se admirar que professores, pesquisadores e cientistas ocidentais estejam migrando para a China, onde a ciência ainda é pura ciência, a busca pela verdade é grande e o ambiente sociopolítico é colegial e descontraído”.
A migração constante de pesquisadores para a China faz sentido, dado o ambiente sociopolítico e a atmosfera em que as bolsas são concedidas. Mas, apesar dos temores sobre uma “fuga de cérebros” ocidental, Brown observou que “os corredores da academia e pesquisa ocidentais ainda estão cheios de professores e cientistas”.
“A maioria deles não é aventureira o suficiente para fazer apostas e se mudar para a China. No entanto, há um sentimento de que aqueles que o fazem estão entre os melhores e os mais brilhantes, mais interessados na busca da ciência pura, em vez de produzir artigos pagos por Wall Street.”
“A China paga muito bem, é um país seguro, limpo e moderno, sem greves, sem tumultos; a inflação é baixa e o céu é o limite em termos de pesquisa básica e aplicada, com muito dinheiro de subsídios apolíticos e não comerciais”, observou. “Portanto, onde você gostaria de fazer sua PhD? É uma pergunta fácil de responder.”
“Dada a dicotomia acima mencionada entre PhD ocidental e chinês, Pequim já venceu a corrida. A China Tech é imparável. Não são necessários ocidentais em suas universidades e laboratórios para alcançar o ‘Made in China 2025’, mas eles são um bom fermento no bolo da invenção e da inovação.”
Thomas W. Pauken II , autor de “US vs China: From Trade War to Reciprocal Deal”, consultor em assuntos da Ásia-Pacífico e comentarista geopolítico , disse que mais europeus se mudando para a China pode ser altamente benéfico para ambas as regiões e levar a maiores laços entre elas em um momento em que a Europa sofre com sua proximidade com os Estados Unidos.
No entanto, ele observou que, para persuadir mais talentos europeus a se mudarem para a China, “eles precisam se sentir em casa, confortáveis e seguros com o futuro”.
“Não é tão fácil como alguns podem pensar que é. O que o governo chinês deveria focar primeiro é criar algum tratamento fiscal preferencial e encontrar maneiras de fazer com que as empresas ofereçam contratos muito gratificantes para pessoas talentosas em ciência e tecnologia. Mas também devemos estar cientes de que muitos chineses também são muito bons em ciência e tecnologia e que, quando os europeus vierem para cá [para a China], poderão se surpreender com a forte concorrência que terão contra seus pares chineses”, disse.
“No entanto, é importante que cientistas e talentos europeus venham para a China porque eles têm uma mentalidade cultural diferente e essa mentalidade cultural também pode ajudar o povo chinês e as empresas chinesas a entender melhor os mercados globais, bem como o mundo da ciência e tecnologia fora da China e fora da Ásia”, afirmou Pauken.
“Mas, para atraí-los, eles terão que encontrar formas de tratamento fiscal preferencial, algum tipo de subsídio, procedimentos de visto fáceis. Por exemplo, escolas internacionais aqui na China são muito caras. Tenho certeza disso, porque meu filho frequenta uma escola internacional. Espero que o governo chinês possa talvez permitir que empresas que contratam talvez recebam tratamento isento de impostos ao oferecer bolsas de estudo para europeus que têm filhos que poderiam frequentar escolas internacionais aqui.”
Pauken observou que a província de Hainan, no sul, tem uma Zona Nacional de Desenvolvimento Industrial de Alta Tecnologia “onde eles estão tentando encorajar muitos estrangeiros a trabalhar”.
“Outro benefício que eles têm é que muitos produtos isentos de impostos passam por Hainan e, quando gastam em Hainan, também podem obter abatimentos de impostos”, explicou. “Os europeus não afirmam que estão interessados em dinheiro, mas você ficará surpreso com a frequência com que os europeus são os primeiros a pedir tratamento especial [fiscal]”.
Pauken disse que, embora a migração de especialistas em alta tecnologia para a China possa ter um grande impacto na corrida tecnológica global, ainda existem obstáculos significativos para o tipo de intercâmbio que Strider afirmou ser iminente, especialmente no campo de informações proprietárias.
“Se for bem-sucedido, será incrível para a China, porque eles terão muito mais progresso e desenvolvimento em suas tecnologias. E isso também pode melhorar os laços comerciais entre a Europa e a China, que neste exato momento está passando por momentos difíceis, porque os europeus estão muito alinhados com Washington. No entanto, talvez se muitos europeus estiverem vindo para cá, isso pode encorajar e inspirar a Europa a encontrar maneiras de ter uma cooperação mais profunda com a China.”