Junto da expectativa de mudanças na política nacional, comecei 2022 com ideias e pensamentos otimistas e encorajadores. Por razões que dispensam comentários, vencer a Covid-19 era o principal objetivo de vida. Após a terceira dose, em tese vencida a doença que matou mais de 650 mil brasileiros, embora negada à exaustão, decidi encarar de frente a crueldade da realidade do país. Com relativa humildade, optei por fugir das batalhas impossíveis de vencer, principalmente daquelas que não vale a pena lutar. Uma delas se refere à futura e já presente disputa presidencial. Por mais que brigue diariamente com meus diabinhos mentais, os quais abominam extremos e extremistas, tenho dificuldades para admitir que nomes capazes de aglutinar e de governar com sabedoria, coerência e, sobretudo, consciência estão longe do pódio.
Em outras palavras, a 10 meses da eleição que poderá nos tirar ou empurrar mais rapidamente para o fundo do poço, ainda não tenho um candidato para chamar efetivamente de meu. Como os fatos normalmente se sobrepõem aos argumentos, obviamente que, mesmo com alguma preocupação do passado, minha escolha já está feita. A decisão foi baseada no clássico conflito entre o mar e a montanha. No português da sensatez, em lugar de tentar mudar o imutável, escolhi fugir das reclamações e buscar alternativas menos traumáticas para a nação. O resumo da ópera é muito simples: melhor aceitar o que está posto, pois dói menos.
Em passado bem recente, um dia o Brasil acordou com a certeza de que a esperança venceria o medo. Apesar de falhas de conduta no longo percurso e da falta de companheiros em determinados setores, inegavelmente o país mudou e não teve medo de ser feliz. Agora, passados os deslumbramentos e os perrengues naturais de quem ascende antes de sólida formação geopolítica, temos uma nova chance de varrer o medo para baixo dos tapetes empoeirados do pátrio poder. Embora curta e repetitiva, voltar à vida é a frase da vez. Cada um de nós deve ouvir a própria verdade e, com convicção e consciência, se expor de peito aberto ao que teme.
Essa é a única maneira de superar o medo. Não devemos esquecer que na política os superlativos, além de autodenominados e autoexplicativos, são absolutamente temporários. Com a mesma rapidez que surgem, os caçadores disso e daquilo ou os arremedos de ditadores desaparecem na poeira escura da política brasileira. Às vezes, os super poderosos duram menos do que uma novena. Vamos votar em outubro e torcer para que tenhamos êxito pessoal. No entanto, vamos viver e ser felizes, independentemente da realidade que tenhamos de enfrentar. A felicidade deve ser o caminho e não a meta. Afinal, assim como nós, tudo é passageiro.
Façamos sempre humor, nunca a guerra. Lembremos diariamente que o pano do teatrinho desse ou de qualquer outro governo sobe, desce, desce, sobe de novo e nada vezes nada. Parole, parole, parole. Ou seja, palavras, palavras e palavras. Nada mais. Ás vezes, muitos gritos, insultos, firulas, xingamentos e muitas, muitas denúncias de malversação do nosso rico dinheirinho. Portanto, ainda que não possamos vencer todas as batalhas, devemos seguir na luta. Desesperar, jamais. Como escreveu Gonzaguinha, valorizemos nosso humor e nossos direitos. Queremos apenas viver uma nação e ser um cidadão. Fiquem à vontade os que não quiserem. Continuem com a buzanfa na janela para que todos passem a mão nela.