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Espetáculo cultural faz crer que há vida inteligente no Brasil

Sei que é difícil acreditar. Com as passeatas que terminam sempre em tumulto e destruição do patrimônio público e privado sob os olhares complacentes das autoridades. Com a morte do cinegrafista que mereceu de uma Ministra um repúdio relativo e não veemente, como se soubesse de algo a respeito destas passeatas que nós não sabemos, ou seja, quem infiltra quem, para deturpar a movimentação.

Com greves em que os sindicatos de patrões e empregados buscam o confronto e não a solução. Com processos que não andam na justiça e nenhum juiz é culpado de comodismo. Com os estádios de futebol e Cuba sugando dinheiro que deveria ter uma destinação social, distribuída entre os brasileiros mais necessitados. Ou melhorando a precária infraestrutura nacional.

Com dívidas de países perdoadas pelo Brasil com um canetaço, sem que a gente saiba o nome dos espertinhos que são intermediários nestas benesses e ganham comissões sobre tal. E, finalmente, com a imagem negativa – prejudicial a todas as atividades da nação – difundidas pelos jornais do mundo inteiro, toda semana, fica difícil de crer que há vida inteligente no Brasil. Em terras de primeira qualidade somos usuários de segunda. Os ricos se mudam ou mandam os filhos embora. Mas e nós? Vamos para onde?

E então, em 30 espetáculos, mais de trezentas mil pessoas vindas de todo o país, acorrem a São Paulo para ouvir uma Orquestra especializada em música. A ressalva é necessária porque o termo Orquestra, no país do Lula, não é um vocábulo de todo dia.

Dirigida por André Rieu, músico holandês radicado em Maastricht, a orquestra de renome internacional, uma das maiores responsáveis pela difusão da música clássica no mundo atual, que se apresenta normalmente nas grandes cidades e palácios da Europa, cruza o oceano e vem ao Brasil? Com figurinos, coreografia, técnica e músicos brilhantes? Apresentando música clássica? E mais milhares de DVDs vendidos com suas músicas no território nacional?  Chamava a atenção os presentes.

As centenas, chorando de emoção ante os acordes musicais extraídos por exímios músicos colhendo a emoção das partituras. Espetáculos grandiosos, com infraestrutura condizente que fazem da música não um circo de artistas-contorcionistas, mas um templo de arte e saber. E os brasileiros estavam lá, aplaudindo. Milagre! Incrível!  Ainda há vida inteligente entre nós.

*Ivar Hartmann é promotor público aposentado

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