A vida de Naldo era da casa para o trabalho, do trabalho para casa, a não ser quando desejava comprar algum mimo para a esposa, a desconfiada Mariana. E não adiantava tamanha fidelidade do homem, cujos pensamentos, até onde se tem notícia, eram todos voltados para a amada. É verdade que, por conta da profissão de renomado ginecologista, ele passava boa parte do tempo com mulheres sem calcinha.
Mariana, que trabalhava como pesquisadora em um laboratório, vivia rodeada de experimentos, cálculos e análises de gráficos. No entanto, por mais que sua mente fosse focada no serviço, na hora da pausa para o cafezinho, não conseguia deixar de imaginar o que o marido estaria aprontando com todas aquelas pacientes que ele atendia. Será que alguma traição estava em curso naquele momento?
Com a pulga atrás da orelha, naquela sexta-feira, Mariana voltou para o lar, doce lar no horário de costume. Não tardou, eis que o marido abriu a porta e entrou. Um sorriso direcionado para a esposa fez com que ela tivesse a certeza de que antes eram só suspeitas. Certamente, Naldo estava de caso com alguma sirigaita que frequentava seu consultório.
A mulher se aproximou e, olho no olho, observou o esposo. Ele, por sua vez, retirou do sobretudo uma caixa de bombons finos e presenteou a esposa. Em seguida, Mariana, mesmo a contragosto, aceitou o beijo nos lábios, mas a contenda ainda não estava terminada.
— Que cara é essa, meu amor?
— Naldo, algo de errado não está certo.
— O quê?
— Não sei. Você que tem que me dizer.
*Eduardo Martínez é autor do livro “57 Contos e Crônicas por um Autor muito Velho”.
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