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'Meu inglês está no banho'

Esqueça o iFood do night club e vá de popcorn na TV

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Autor/Imagem:
Wenceslau Araújo - Foto de Arquivo/Depositphotos

Nesse dia eu estava meio sorumbático, algo como nauseabundo, tipo pra lá de Bagdá, e resolvi dar uma esticada pela night. Tenho certa ojeriza pelo excesso de termos em inglês, mas decidi tomar uma Budweiser, beer com menos boldo do que a Heineken e um pouco mais de cevada do que a Stela Artois, a Amstel e a Eisenbahn. Enquanto pensava em como substituir a Schincariol, cerva de paladar convidativo para todo tipo de ambiente, inclusive os templos evangélicos, as churches comandadas pelo hermano Francisco I e até os rendez-vous familiares, adentrei, mesmo sem querer, em um desses supostos restaurantes de fino trato.

Não era. As luzes em neon infinito sugeriam drinks efervescentes e libidination men e até high hours, isto é, até altas horas. Tratava-se de um night club. Meu destino inicial era o fast food da esquina. No entanto, com a rapidez de um raio duplo, lembrei que no meu subúrbio carioca esse tal food é um negócio muito bom, mas há necessidade da presença de uma parceira. Como não sou adepto do abraço em najas moçambicanas, repito que minha precisão normalmente é de uma parceira. No recinto escolhido aleatoriamente para a night descompromissada havia várias delas.

Do alto de meu aprendizado periférico, confesso que, além da ojeriza, há o despreparo para o inglês. Na verdade, tomei nojo ao saber do insucesso de um amigo com o filho que ele havia mandado para Londres, a fim de afastá-lo das companhias afetivamente masculinas. Certo de que na primeira ligação já encontraria o mancebo macho feito mamão, deu com os burros n’água. Ao atender a ligação, o menino veio logo com a história de papi. Desconversando, mas já esperando o pior, o velho perguntou ao filho como estava seu inglês.

Mais desconcertante do que desagradável, a resposta foi rápida: “Está tomando banho, cherry”. Não se falam desde esse dia. Voltando ao embromation nas piscantes e ofuscantes luzes do clube noturno, percebi que o local não era indicado para homens sérios, daqueles que optam pelo silêncio e pela ausência do riso solto nos eletrizantes momentos de rala e rola. Com essa preocupação, me aproximei da porta na qual se lia exit. Antes, passei pelo restroom, os famosos mictórios brasileiros, mas, diante dos arrepios que não eram de frio, mas de medo, preferi não entrar.

Acostumado com um refrigerante sabor laranja de minha adolescência, tinha medo de, tão de repente como entrei, sair com um desses crushs, cujo significado nunca procurei saber. Para mim será sempre o refri concorrente do antigo Pepsi. Passei longe do restroom, mas não me furtei de olhar para o interior do ensaboado e perfumado logradouro. Apesar da escuridão, descobri no meio ambiente um ensimesmado templo do amor de ré, alguma coisa muito parecida com uma night in Paradise. Ou seja, nada que chegue perto dos anseios de um macho alfa, batizado pelas mãos de São Jorge, o santo protetor dos homens.

Tentando achar uma desculpa honrosa para sair dali sem crise de consciência, fui surpreendido por uma voz rouca e meio grosseira bem próximo da venta esquerda: “Let’s go wonderful penetration”. Foi uma cafungada que vinha da direita do neck, o mesmo que o brasiliano pescoço. Simultaneamente à caminhada a passos largos rumo a road, lembro de ter respondido tô fora. No piloto automático e quase todo borrado, ainda consegui ouvir um chamado cavernoso e roufenho: “My cat, venha aproveitar dos serviços do mestre Koma Amin”. Moral da história: quando pensar em fast, em iFood ou qualquer outro tipo de food, melhor relaxar no couch, irmão do sofá, degustar um lollipop e se deliciar com um balde de popcorn. Em casa, não há risco de atiçar o maçarico alheio.

*Wenceslau Araújo é Editor-Chefe de Notibras

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