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Tempos de outrora

Esquerda e direita brasileiras perdem referências intelectuais

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Autor/Imagem:
João Zisman* - Foto de Arquivo

O cenário político brasileiro, em diferentes momentos, contou com lideranças que se destacaram pela capacidade de argumentação, conhecimento profundo e respeito ao diálogo. Figuras como Roberto Campos, Carlos Lacerda, Marco Maciel, Jarbas Passarinho, Antônio Carlos Magalhães e Delfim Netto representam uma tradição da direita que se perdeu com o tempo. Hoje, muitos que se autoproclamam “de direita” carecem das condições intelectuais para defender suas ideias de forma estruturada, apostando em discursos simplistas que pouco contribuem para o debate público.

Mas essa perda não é exclusividade da direita. A esquerda brasileira, que por décadas se apresentou como contraponto a essas figuras, também se afastou de suas raízes intelectuais, sucumbindo ao mesmo vazio que critica. A falta de pensadores e líderes preparados afeta igualmente ambos os espectros.

Pilares do debate nacional
Roberto Campos, economista e diplomata, foi um dos grandes defensores do liberalismo econômico no Brasil, usando seu vasto conhecimento para debater políticas de livre mercado. Como contraponto, Celso Furtado defendia o papel do Estado no desenvolvimento, com um profundo entendimento das causas do subdesenvolvimento. Ambos, com visões opostas, mostravam que o debate podia ser rico quando embasado em conhecimento.

Carlos Lacerda, um dos maiores oradores da política brasileira, usava a retórica para desafiar o status quo com vigor e clareza. Darcy Ribeiro, por sua vez, o confrontava com suas ideias sobre a educação e cultura, buscando defender as populações mais vulneráveis. A troca entre ambos não era apenas de ataques, mas de visões de mundo que se enriqueciam mutuamente.

Marco Maciel, político de diálogo e consensos, se destacou pela busca constante de equilíbrio e entendimento. Do outro lado, Miguel Arraes, símbolo da resistência política no Nordeste, defendia os direitos dos trabalhadores com um discurso carregado de conhecimento das realidades locais. Ambos mostravam que, mesmo de lados opostos, o respeito ao debate era essencial.

Jarbas Passarinho e Leonel Brizola representavam a luta pelo que acreditavam ser o melhor para o país, sempre com discursos bem estruturados e conhecimento da realidade social. Antônio Carlos Magalhães e Paulo Freire também se destacavam em seus campos, seja na articulação política ou na defesa de uma educação libertadora, evidenciando que a complexidade das ideias supera rótulos simples.

Josué de Castro, médico e geógrafo, trouxe ao debate político uma análise profunda sobre a fome e a desigualdade, desafiando as políticas que ignoravam a realidade das massas empobrecidas. Sua visão dialogava com os problemas que Delfim Netto tentava combater com políticas de desenvolvimento, mesmo que a partir de ângulos diferentes.

Ascensão do vazio intelectual
Hoje, à direita e à esquerda, faltam profundidade e compromisso com o debate de ideias. A mediocridade domina o espaço que antes era reservado a grandes pensadores. Movimentos sociais se desviaram de suas causas originais, e lideranças usam a ignorância de boa fé dos seguidores para manipular, criando um ciclo de intolerância e desinformação.

O Brasil precisa de lideranças instruídas que compreendam a complexidade de suas posições e saibam defender suas ideias com argumentos sólidos. Precisamos de uma nova geração de líderes, tanto à direita quanto à esquerda, que se inspire nos grandes nomes do passado para criar um futuro mais rico em debates, menos raso em discursos, e mais comprometido com a construção de um país melhor para todos.

*Com argumento de Vital Rodrigues

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