Notibras

Essa gente diferente, mostrada por Chico Buarque

Essa gente tá diferente… já não se conhece mais… Pois é. O novo livro de Chico Buarque, Essa Gente, que chega às livrarias no dia 14 de novembro, nem que poderia ser apresentado como aquela moça que está diferente. Até porque, tem gente andando pra frente e pra trás. Em seu sexto romance, o escritor e compositor conta a trajetória de um autor decadente, que passa por uma crise criativa e emocional, enquanto o Rio de Janeiro desmorona ao seu redor. Nas entrelinhas, Chico apresenta uma trama que apresentam as contradições do País hoje.

“Há pontos de contato entre Chico Buarque e o protagonista de Essa Gente. Além de ser escritor, Manuel Duarte tem esse sobrenome de perfil vocálico idêntico e gosta de bater perna atrás de inspiração nos arredores do Leblon, onde voltou a morar após o fim de seu último casamento”, escreve o também autor Sérgio Rodrigues, no texto de apresentação do romance. “Embora seja quase inevitável buscar alusões autobiográficas no novo romance de Chico — o primeiro após a consagração do prêmio Camões —, o leitor não demorará a descobrir que tal linha de pensamento conduz a um beco sem saída. Na melhor das hipóteses, lhe dá a posse de uma chave que pode abrir uma ou outra porta, mas não todas. Essa não será a única pista falsa antes do ponto-final.”

Para Rodrigues, Essa Gente se destaca como o mais áspero e provavelmente o mais enigmático entre os romances de Chico. “A história contada em forma de pequenos capítulos de diário, quase todos datados de um passado tão recente que se pode chamar de atualidade, é mais um de seus quebra-cabeças narrativos com fumaças de literatura policial”, escreve Rodrigues. “No entanto, a reflexão sobre a linguagem que é uma dimensão estruturante das ficções buarquianas se ancora desta vez no estilo mais imediato de todos: o do apontamento rápido, feito para auxiliar a memória do próprio apontador no futuro, quando houver distância e lucidez para transformar o tumulto do presente numa história redonda. Sim, estamos no nebuloso país do agora. A parte da brincadeira que cabe ao leitor é mais decisiva do que nunca.”

Continua Sérgio Rodrigue: “Romance urgente, colado corajosamente na opacidade do agora, Essa Gente é, numa primeira leitura, uma comédia de costumes tão divertida quanto cruel. É também um engenho narrativo feito para empurrar até o futuro possível – algum momento após o fim da leitura – o caimento da ficha derradeira: a compreensão de que, enquanto Duarte nos conduzia pelas tortuosas vielas literárias de sua história mundana, alegórica, metalinguística, o mais importante ocorria ao seu redor. O foco se desloca então da “literatura” para a paisagem, a chapa quente carioca compartilhada pela classe média alta do Leblon e pela mistura de classe média baixa, pobreza e miséria da vizinha favela do Vidigal. Terminada a leitura, o livro nos intima a virá-lo do avesso, transformando fundo em forma e desviando os olhos da história para a História”.

Sair da versão mobile