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Esse governo está uma merda, diz Simonsen a Figueiredo. E vai embora

José Escarlate

Mário Henrique Simonsen, que fora presidente do BC no governo Castelo Branco, ministro da Fazenda do governo Geisel e ministro do Planejamento de João Figueiredo, pede demissão em 10 de agosto de 1979. Estava insatisfeito e parecia saturado da vida pública.

Os comentários eram de que ele tinha atritos diários com o então ministro da Agricultura, Delfim Netto, que inclusive foi seu colega nos bancos da universidade. Fez a carta de demissão e foi entregá-la ao presidente, que estava cavalgando, em sua casa na Granja do Torto.

Figueiredo não gostava de ter o seu exercício interrompido. O ajudante de ordens do dia, que era o capitão Juarez Marcon, pediu ao ministro que aguardasse um pouco. Simonsen não demonstrava qualquer nervosismo. Estava controlado e, como sempre, fumando muito.

Três, quatro, cinco cigarros depois, aparece João Figueiredo, saindo da ducha, dorso nu, toalha enrolada no corpo. “Presidente, trago este documento para o senhor”.

Figueiredo, em pé, abre a carta e lê o pedido de demissão. Balançando negativamente a cabeça para mostrar que não gostou, quase deixando a toalha cair, explode: “Quer dizer que o senhor acha que o meu governo é uma merda ?”

Impávido, sem titubear, Simonsen responde: ”É isso mesmo!”

Sob o olhar atônito do presidente, Mario Henrique Simonsen despediu-se e saiu calmamente, fumando mais um cigarrinho. Foi ajudar a mulher, dona Iluska, a embalar a mudança, já com o caminhão da Fink à sua porta.

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