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Está de volta o elefantinho que voa desde 1941

Foto/Divulgação

O adorável pequeno elefante de grandes olhos azuis que encanta o mundo desde 1941 pode até não parecer um personagem que interessaria a Tim Burton. Mas o cineasta jamais hesitou em retomar a história de Dumbo, que está de volta em versão “live action” no filme de mesmo nome, uma espécie de continuação da animação clássica. “Eu me sentia muito próximo de Dumbo, esse elefante que voa e não se encaixa no mundo. Era uma imagem muito pura, como em todas as fábulas da Disney, de um simbolismo simples para emoções reais”, disse o diretor em entrevista ao Estado em Los Angeles.

Existiam outros pontos de identificação. “Gostava da ideia desse pequeno monstro trabalhando com uma grande companhia”, afirmou. Depois de descobrir suas orelhas gigantes e a habilidade de voar, Dumbo vira uma atração e tanto do circo de Max Medici (Danny DeVito), despertando a cobiça do empresário V.A. Vandevere (Michael Keaton), dono de um parque de diversões ultramoderno para a época – o filme se passa em 1919. “Parecia muito a minha própria história com a Disney. Era bem pessoal.”

O cineasta começou sua carreira na companhia, na década de 1980, tendo sido demitido depois que seu curta Frankenweenie foi considerado sombrio demais. Agora, o cineasta está trabalhando novamente com a Disney (que também o contratou para fazer Alice no País das Maravilhas). Mudaram eles ou mudou Tim Burton? “Quanto mais as coisas mudam, mais elas continuam as mesmas”, afirmou o diretor, rindo. “O tempo tem uma maneira estranha de ser.”

Ele mencionou que, por exemplo, ficou 20 anos sem falar com Michael Keaton, com quem fez alguns de seus trabalhos mais brilhantes, como Os Fantasmas se Divertem (1988) e Batman (1989). “E, quando nos falamos para voltarmos a trabalhar nesse filme, foi como se tivéssemos conversado ontem.”

Ter Keaton e Danny DeVito (que fez Pinguim em Batman – O Retorno, de 1992) foi especial. Burton gosta de trabalhar sempre com os mesmos atores – com Eva Green, que faz a trapezista Colette, é a terceira vez. “Do que gostei mesmo foi que pude ser o mocinho desta vez, enquanto Michael era o vilão”, contou DeVito. “Tim sempre cria uma família”, afirmou Keaton. “Cheio de pessoas estranhas, e ele é o papai esquisito.”

Mas também há novos membros nessa família. Diferentemente do clássico de 1941, os seres humanos aqui não são coadjuvantes, muitas vezes sem rosto. Colin Farrell faz Holt Farrier, um antigo astro do circo que volta da Primeira Guerra Mundial sem um dos braços. Seus filhos, Milly (Nico Parker, filha da atriz Thandie Newton) e Joe (Finley Hobbins), têm sido criados pelos integrantes do circo desde que sua mãe- morreu na epidemia de gripe espanhola. Holt precisa encontrar uma nova função e se reconectar com as crianças, que adotam Dumbo, afastado de sua mãe, e o treinam com a ajuda de Colette. “Foi maravilhoso trabalhar com Tim Burton e espero ter entrado para a família”, disse Farrell.

Os atores tiveram de conviver com bonecos e um ator com roupa colante verde no papel de Dumbo, que foi criado com a ajuda da computação gráfica – diferentemente da animação clássica, os animais aqui não falam, apenas os humanos. “Mas Tim é muito bom em explicar tudo”, garantiu Eva Green, que precisa voar montada em Dumbo numa das cenas.

A atriz, que tem medo de altura, também precisou aprender algumas manobras no trapézio. “Tive de fortalecer meu abdome e contei com a ajuda dos melhores artistas circenses. No fim serviu como lição: achei que jamais conseguiria, mas a gente pode fazer tudo o que quiser”, afirmou a atriz.

Tim Burton, conhecido pelos filmes que misturam aspectos sombrios e tristes com ternura e fantasia, disse que não viu necessidade de controlar a dose por ser um filme da Disney. “As pessoas se esquecem de que a Disney sempre fez filmes com elementos trágicos. O próprio Dumbo é prova disso, assim como Bambi”, afirmou. “O que mudou foi que hoje em dia talvez protejamos demais as crianças. É natural um pai ou mãe querer proteger seus filhos. Eu também quero proteger os meus. Ainda mais neste mundo maluco. Não se pode controlar o presidente dos Estados Unidos, então queremos controlar o que podemos.”

Dumbo tem seus momentos de tristeza e melancolia, mas também de magia. É uma marca, afinal, do cinema de Tim Burton, que, apesar de todo o sucesso, continua se sentindo um desajustado. “É tudo muito bonito no papel, mas, uma vez que você se sente assim, sempre vai se sentir assim.” De uma maneira ou de outra, no entanto, ele encontrou seu lugar no mundo e voou, como Dumbo.

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