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DVD de Gal

Estratosférica Ao Vivo, para ser visto e ouvido

Publicado

Autor/Imagem:
Adriana Del Ré

A imagem na capa de Estratosférica Ao Vivo é simbólica. O fotógrafo Marcos Hermes flagra Gal Costa no palco, com a mão ao alto exibindo o chifrinho de heavy metal, e, no mesmo momento, alguém da plateia ‘responde’ no mesmo gesto. Nesse projeto, Gal está essencialmente rock. E que poderosa roqueira.

Estratosférica Ao Vivo foi lançado em DVD e CD, mas, sem desmerecer o formato álbum, esse projeto é para ser visto e ouvido. Gal fala da foto, feita na introdução de um de seus sucessos, Cabelo. “Essa música, eu gravei no Plural (disco de 1990), mas o arranjo dela é bem heavy metal”, diz Gal, à reportagem.

O projeto foi gravado na Casa Natura Musical, em São Paulo, com direção-geral de Marcus Preto e produção musical de Pupillo, do Nação Zumbi, diante de uma plateia lotada e generosa. Afinal, quem foi à apresentação sabia que se tratava da gravação de um DVD e, portanto, repetições de músicas eram necessárias. Por causa das regravações, o show foi se estendendo e o público, ficando.

O roteiro do show tem como base, claro, o ótimo disco Estratosférica (2015), mas agrada em cheio com o acolhimento de canções como Cartão Postal, de Rita Lee e Paulo Coelho, de 1975, e Os Alquimistas Estão Chegando, de Jorge Ben Jor, ambas até então inéditas na voz de Gal. Ela conta que Cartão Postal foi uma sugestão de Marcus. “Sentia falta de alguma coisa que tivesse um espírito que, no final das contas, tem Cartão Postal. Ele citou essa música e era exatamente isso que faltava”, conta. “Adoro a Rita, uma compositora incrível. Eu era amiga dela, convivia na época do Tropicalismo. Faz tempo que não falo com ela”, completa – Gal diz que ainda vai ler a biografia de Rita, presente que ganhou do filho.

Já Jorge Ben Jor está presente na obra de Gal desde o primeiro disco solo dela, de 1969, com a música Deus é o Amor, quando ele ainda era Jorge Ben – e como Gal ainda chama o amigo. “Amo ele como compositor, como pessoa, gravei muitas músicas dele e Alquimistas é uma música bem a minha cara, parece muito com as coisas que penso.”

Apesar de boa parte do repertório e dos arranjos exaltarem a Gal rock’n’roll, há lugar para a bossa no show – e no coração dessa baiana apaixonada pela obra do cantor João Gilberto. Marcelo Camelo fez especialmente para ela a bossa Por Um Fio. Gal já tinha gravado no disco Estratosférica outra composição dele, Espelho d’Água (parceria com o irmão, Thiago Camelo). “Ele me mandou duas músicas: uma com aquele espírito dele, que adoro, e ele acabou me seduzindo e gravei no disco. Mas, como não gravei essa outra que ele fez para mim, cantei no show.”

Há um momento especial na apresentação, quando ficam, no palco, apenas Gal, um banquinho e um violão. Ali, ela lembra de quando conheceu Caetano Veloso, cantou para ele Vagamente, e se conectaram de imediato pela admiração em comum por João Gilberto Ele, então, decidiu ensiná-la uma música dele, Sim Foi Você. É a música que ela canta e toca no seu violão. É uma forma de homenagear Caetano. Para Gal, ele e Gilberto Gil são seus “irmãos espirituais”.

Conversou com Caetano depois que o amigo sofreu ataques de conservadores, que o acusaram de pedófilo? “Não falei, não, mas acho muito bem que eles (Caetano e a mulher, Paula Lavigne) processem, porque não se pode falar das pessoas com essa falta de respeito e essa falta de responsabilidade. As pessoas têm que ser responsáveis e respeitar um ao outro, não pode destilar veneno assim”, responde ela. “É um momento muito estranho este que estamos vivendo, não só no Brasil, mas no mundo inteiro. Há uma tendência muito ruim da parte das pessoas de intolerância, que chega à censura. A censura não vem só de cima, vem também das pessoas.”

Atualmente, Gal está em turnê como o show Trinca de Ases, ao lado de Gilberto Gil e Nando Reis. Acabou de voltar de Portugal, onde fez shows. Sobre o disco de Lupicínio Rodrigues, pela Natura Musical, Gal diz não ter informações. Ela fez shows com o repertório de Lupicínio, que daria origem também a um álbum.

“O Maurício Pessoa, empresário baiano, que conseguiu esse projeto. Era maravilhoso fazer, mas ele teve algum problema com a Natura. Então, deixa ele resolver o problema com a Natura para ver se faço ou não um disco.” Procurada, a Natura afirmou que “o projeto precisa regularizar sua situação junto ao Ministério da Cultura, já que o prazo de execução do projeto foi expirado”.

“Para concluir o projeto, o proponente precisa apresentar relatório e pedir a reabertura do prazo de captação e execução junto ao MinC. A Natura irá aguardar até dezembro para ter retorno sobre a viabilidade da gravação do disco”, disse ainda, em nota.

Por ora, Gal está trabalhando no repertório do novo disco de inéditas, que começa a ser gravado no final do ano. “Está bem no comecinho, temos poucas canções, já pedi canções a muita gente.” Algum compositor da nova geração que está no seu radar? “Sim, quero fazer um lance no estilo que essa pessoa compõe, mas não vou dizer, não… (risos). Senão, vai perder a graça.”

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