Jamil Chade
A combinação de crise no Brasil com o endurecimento da política migratória na Europa fez com que os números de brasileiros barrados ao tentar entrar no continente atingisse o maior nível dos últimos cinco anos. Nos três primeiros meses de 2016, 883 brasileiros foram impedidos de entrar em território europeu, segundo a Agência de Controle de Fronteiras da União Europeia (Frontex). Esse volume é 25% superior ao do trimestre anterior e representa o maior aumento entre as dez principais nacionalidades barradas.
Procurada, a Comissão Europeia não comentou os motivos desse crescimento. Mas o bloco estima que a alta tem relação direta com um maior volume de brasileiros tentando chegar sem visto ao continente para fugir da crise no Brasil. Hoje, a taxa de desemprego no País está em 11,6% – superior à média da Europa, de 10,1% na zona do euro e de 8,6% na União Europeia.
A onda de migrações para a Europa também levou as autoridades do continente a impor novas medidas para frear a entrada de estrangeiros. Muitas delas começaram a valer a partir de janeiro Em 2015, 1 milhão de estrangeiros entraram no bloco, obrigando governos a atender a apelos populistas de partidos extremistas. Como resultado, serviços sociais para estrangeiros foram cortados e muros foram literalmente erguidos.
Em 2014, os brasileiros chegaram a sair da lista dos mais barrados da Europa. Mas, desde 2015, o número voltou a subir, atingindo 2,6 mil brasileiros. A nova alta fez o País atingir a oitava posição entre as nacionalidades mais barradas este ano e, se a tendência for mantida, mais de 3,2 mil brasileiros poderão ser devolvidos até o fim do ano.
A liderança, em geral, é da Ucrânia, com 6,5 mil pessoas no trimestre, seguida por Albânia e Rússia. Mas, hoje, o Brasil já supera a Turquia e todos os demais países latino-americanos.
Na maioria dos casos, os brasileiros são barrados ainda no aeroporto. Foi o que ocorreu com 878 dos 883 que tiveram de voltar ao Brasil. Segundo a Frontex, “as recusas de entradas a cidadãos brasileiros por meio aéreo têm sido as mais altas desde 2012”. Portugal, Espanha e Irlanda estão entre os destinos com maior número de ocorrências.
Os três países registraram há dez anos uma forte onda de migração de brasileiros. Mas, desde a crise europeia em 2009, o fluxo havia se invertido, com brasileiros deixando esses países e, até mesmo, com espanhóis e portugueses procurando empregos no Brasil.
Reviravolta – Hoje, a situação volta a passar por uma reviravolta. Do total de casos de brasileiros recusados, a Frontex indica que 280 ocorreram porque os viajantes “não tinham documentos que justificassem objetivo e condições de permanência na Europa”. Outros 134 casos seriam por conta da ausência de um visto de residência, apesar de terem passagens marcadas para ficar mais de 90 dias em território europeu.
Em 69 dos casos de brasileiros recusados, os imigrantes não conseguiram provar às autoridades como iriam se manter financeiramente nos países visitados. Pelo menos outros 65 casos foram de brasileiros que já tinham sido expulsos da Europa e tentavam voltar.
Se a tendência do primeiro trimestre for confirmada, este ano deve registrar o maior número de brasileiros barrados desde 2011, quando 4,6 mil pessoas foram impedidas de entrar no bloco. Além disso, outras 388 pessoas que já viviam na Europa foram forçadas a deixar o continente, com ordens de expulsão por estarem irregulares. O número é 28% maior 2015.