A transformação
Evangélicos trazem de país ateu nova versão da Bíblia
Publicado
emJosé Maria Mayrink
A distribuição da Bíblia, o livro mais vendido no mercado editorial brasileiro, ganhará novo impulso com o lançamento, dia 31 de outubro, da ‘Bíblia Sagrada – Nova Versão Transformadora’, da Editora Mundo Cristão, de orientação evangélica, em um megaevento no Shopping Cidade Jardim, na Zona Sul. Publicada em nove versões, com capas e apresentação gráfica voltadas para variados segmentos de usuários – pastores, estudiosos, professores, jovens estudantes e fiéis comuns -, a obra terá tiragem inicial de 500 mil exemplares, impressos a baixo custo na China, em linguagem simples e inteligível. O conteúdo é exatamente o mesmo.
Distribuidores de outras Bíblias, católicos e protestantes, aguardam com curiosidade a nova versão da Editora Mundo Cristão. Mesmo convidados para participar do lançamento, eles não receberam com antecedência exemplares da mais recente edição da Bíblia Sagrada NVT, uma suposta concorrente que, na área religiosa, é considerada mais como uma contribuição para a evangelização do que ameaça às vendas no mercado. “Que seja bem-vinda, pois vai ajudar mais gente a ler a Bíblia”, disse o pastor luterano Erní Seibert, secretário de Comunicação, Ação Social e Arrecadação da Sociedade Bíblica do Brasil (SBB).
“Nosso projeto partiu dos métodos de tradução da New Living Translation, em língua inglesa, conhecida por sua comunicabilidade e acessibilidade”, informou o presidente da Mundo Cristão, Mark Carpenter, filho de missionário batista norte-americano, que chegou ao Brasil aos 3 anos de idade. Depois de ter publicado a Bíblia Viva, em 1981, e a Nova Bíblia Viva, em 2010, a editora achou que havia espaço para o lançamento de mais uma versão, oferecendo ao leitor “o que de melhor existe em erudição bíblica e os critérios mais recentes de seleção de fontes textuais, tudo isso com linguagem de fácil compreensão”.
Liderada pelos professores Carlos Osvaldo Cardoso Pinto, falecido em 2014, e Estevan Kirschner, uma comissão de 14 tradutores e revisores conhecedores das línguas originais das Escrituras – aramaico, hebraico e grego – trabalhou por seis anos na execução do projeto. Os especialistas usaram traduções clássicas do Antigo e do Novo Testamento, além dos Manuscritos do Mar Morto e outros manuscritos como referência, para esclarecimento do significado de passagens difíceis. A preocupação foi apresentar um texto que pudesse ser entendido por qualquer leitor da língua portuguesa contemporânea.
Sem trair o conteúdo, os tradutores optaram pela conciliação entre duas formas de tradução – a literal, palavra por palavra e a de equivalência funcional, pensamento por pensamento. O objetivo, conforme explicam os editores de Mundo Cristão, “é produzir um texto que seja o equivalente natural mais próximo da mensagem expressada pelo texto original, tanto em termos de significado como de estilo”. Ou seja, “transpor com clareza a mensagem dos textos originais das Escrituras para o português contemporâneo”.
A Bíblia Sagrada NVT substitui o tratamento da segunda pessoa pela informalidade mais coloquial da terceira. Por exemplo, em Mateus 28.19: “Portanto, vão e façam discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo”, em vez de “Ide, pois, fazer discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo”, como traduz a Sociedade Bíblica do Brasil na versão Almeida Revista e Atualizada. No Cântico dos Cânticos, donzela aparece como moça e jovem, como rapaz. As expressões ou sintaxes complicadas são explicadas em notas de rodapé.
A tiragem de 500 mil exemplares da Editora Mundo Cristão representa pouco mais de 7% do total distribuído pela Sociedade Bíblica do Brasil que, em 2015, publicou 7.622.674 Bíblias completas, além de 460.750 exemplares do Novo Testamento e 384 668 Bíblias em formato digital acessível, de graça, pelo computador. Até o fim do ano, a SBB deverá somar 150 milhões de Bíblias lançadas desde sua fundação, em 1965. Às Bíblias evangélicas, deve-se somar cerca de mais 2 milhões de exemplares publicados anualmente pelas editoras católicas.
“Pretendemos fazer parcerias tanto com a SBB como com a Edições CNBB, da Igreja Católica”, anuncia Carpenter. Neste caso, seriam acrescentados os sete livros deuterocanônicos (Judite, Tobias, 1 e 2 Macabeus, Sabedoria, Eclesiástico e Baruc), que não constam da Bíblia evangélica. A Editora Mundo Cristão fez acordo com a Editora Sextante, que vai publicar a Bíblia em texto corrido, retirando os números de capítulos e versículos, como se fosse um livro de história, para um público não necessariamente religioso.