Ricardo Galhardo
O presidente da Bolívia, Evo Morales, declarou que há em Brasília uma tentativa de golpe parlamentar contra a presidente Dilma Rousseff, segundo entrevista publicada ontem no jornal argentino Página 12. “É um golpe parlamentar sendo amadurecido. Já houve um golpe no Congresso do Paraguai e, agora, está passando no Brasil”, disse Morales ao recordar da destituição do ex-presidente paraguaio Fernando Lugo, em 2012, então substituído por seu vice, o liberal Federico Franco. O presidente boliviano participou da cerimônia de posse de Mauricio Macri na presidência da Argentina, onde vários chefes de Estado da América Latina estiveram ontem reunidos.
Morales mencionou ainda, na entrevista, a União das Nações Sul-americanas (Unasur) enquanto instância para debate de práticas que porventura questionem as regras democráticas na região. “Na Unasur temos uma cláusula em temas democráticos, por isso respeitamos o presidente que ganha e nos colocamos a trabalhar em conjunto. Pode haver diferenças ideológicas ou programáticas, mas cada país tem sua particularidade”, afirmou.
Solidariedade – Na cerimônia, a presidente Dilma recebeu manifestações de solidariedade dos demais vizinhos. Conforme relatos de assessores presidenciais, ao término da programação na Casa Rosada, sede do governo argentino, Dilma se integrou a uma roda da qual também faziam parte os presidentes Morales (Bolívia), Michelle Bachelet (Chile), Ollanta Humala (Peru), Horácio Cartes (Paraguai ), Rafael Correa (Equador) e Juan Manuel Santos (Colômbia).
“Todos sem exceção”, nas palavras de um assessor, manifestaram de alguma forma solidariedade ou apoio em relação ao impeachment. Alguns deles, entre os quais Morales, teriam se oferecido para manifestar publicamente repúdio ao pedido de afastamento de Dilma. A presidente agradeceu, mas recusou.
Segundo fontes do Palácio do Planalto, o governo já identificou, em conversas com representantes diplomáticos em Brasília, forte apreensão nos países vizinhos em relação aos desdobramentos da crise política no Brasil. O maior motivo de preocupação é quanto à possibilidade de que o prolongamento da crise política no Brasil imobilize o governo e gere impacto nas economias vizinhas
Macri interrompe 12 anos seguidos de kirchnerismo, movimento de centro-esquerda criado no seio do peronismo por Cristina (2007-2015) e seu marido e antecessor, Néstor Kirchner (2003-2007). O período se caracterizou por um forte intervenção estatal na economia e a implementação de programas sociais.