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Excluídos fazem carnaval na Esplanada com tatoo, pneuzinho e percussão

Marta Nobre, Edição

Festa como as promovidas no reinado de Momo foi o que se viu na Esplanada dos Ministérios neste 7 de Setembro. O discurso dos participantes do Grito dos Excluídos, manifestação realizada do lado oposto ao do desfile do Dia da Independência, foi unificado: “Eu já falei, vou repetir, é o povo que tem que decidir”, diziam os manifestantes em Brasília, em sua maioria integrantes de movimentos sociais e estudantis e entidades civis. Eles pediam a saída de Michel Temer da Presidência da República e que o povo decida sobre os novos governantes.

“Mesmo que vença alguém de direita, que o povo possa decidir. Que o Temer se candidate e apresente seu plano de governo”, disse Ademar Lourenço, um dos coordenadores do Grito. “Estamos aqui para mostrar o repúdio da população. As medidas que o Temer propõe são piores que as detodos os governos anteriores: Dilma, Lula e até FHC.” De acordo com a Polícia Militar do Distrito Federal, no auge da manifestação, havia cerca de 2,7 mil participantes. Para os organizadores, eram 10 mil.

A manifestação ocorreu em 24 estados do país de forma autônoma e descentralizada. O Grito dos Excluídos nasceu com a ideia de que é preciso construir um projeto popular de sociedade, uma outra proposta onde a vida seja colocada em primeiro lugar e não a economia.

Cariocas – No Rio, a manifestação ganhou novos lemas e bandeiras com a adesão de grupos contra o impeachment. O ato, que já está na sua 22ª edição, ocupou cerca de um quilômetro de uma das pistas da Avenida Presidente Vargas, e a marcha percorreu cerca de dois quilômetros até a Praça Mauá. Policiais militares acompanharam todo o trajeto. Um enorme cartaz com a frase “Este sistema é insuportável, exclui, degrada, mata!” guiou a multidão.

Manifestantes levaram bandeiras e cartazes com frases como “Fora, Temer! e “Não ao Golpe”. Grupos pediam novas eleições, alguns eleições gerais, outros a revolução e o voto nulo. o professor de geografia Thiago Roniere, integrante da Federação Anarquista do Rio de Janeiro, defendeu que o Congresso e o processo eleitoral atuais perpetuam desigualdades.

Paulistas – Em São Paulo, o lema foi Este Sistema é Insuportável: Exclui, Degrada, Mata, baseado em um discurso feito pelo papa Francisco na Bolívia. O ato teve início na Praça da Sé, e depois seguiu em passeata pelas ruas do centro até a Igreja Nossa Senhora da Paz, no bairro do Glicério, onde funciona também como um abrigo para imigrantes refugiados.

O evento, que sempre ocorre no dia 7 de setembro organizado por movimentos sociais e pelas pastorais católicas, teve este ano o objetivo de criticar o sistema capitalista.

Mineiros – No centro de Belo Horizonte, o ato se converteu em um protesto contra o governo de Michel Temer. Os manifestantes se reuniram às 9h na Praça Raul Soares e marcharam até a Praça da Estação. Contrários ao processo que levou ao impeachment de Dilma Rousseff, eles pediam agora a convocação de eleições diretas.

“Não se trata de um deslocamento do Grito dos Excluídos. Todos nós, povo brasileiro, classe trabalhadora, juventude, pobres e negros, estamos excluídos. Esse golpe excluiu as mulheres do poder e dos ministérios, excluiu a diversidade, excluiu a perspectiva de futuro. Portanto, é natural que os excluídos peçam a saída de Michel Temer”, disse Beatriz Cerqueira, presidenta da Central Única dos Trabalhadores de Minas Gerais (CUT-MG).

Ao passar pela Praça Sete, o ato encontrou uma barreira de policiais fechando a passagem para a Avenida Afonso Pena, onde ocorria o desfile oficial da prefeitura – que também acontece anualmente no dia 7 de setembro. Na praça, também estava montado um estande onde miliantes favoráveis ao impeachment recolhiam assinaturas em apoio à Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 412, que trata da autonomia funcional e orçamentária da Polícia Federal. Apesar do encontro entre manifestantes que defendem posicionamentos políticos distintos, não houve incidentes.

Pernambucanos – No Recife, O Grito dos Excluídos uniu neste ano a tradicional pauta de demandas por direitos sociais, respeito aos direitos humanos e reformas estruturais ao pedido da saída do presidente Michel Temer do poder e a críticas às mudanças defendidas publicamente pelo atual governo federal.

Em Pernambuco, o Grito é organizado pelo Fórum Dom Hélder Câmara, que reúne movimentos sociais e pastorais católicas. São cerca de 25 entidades, muitas delas congregações de outros grupos menores. Sandra Gomes, representante do Fórum, explica porque, neste ano, o movimento decidiu se posicionar contra o presidente Michel Temer.

“Nós consideramos que não há impeachment, há golpe. E vamos combatê-lo nas ruas. É um governo que só espera um momento para acabar com a classe trabalhadora. Não vemos perspectiva de melhora com o governo Temer. Ao contrário, vamos perder direitos sociais”, argumenta Sandra.

Gaúchos – A marcha do Grito dos Excluídos na capital gaúcha partiu da sede do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), que desde segunda-feira (5) está ocupada por camponeses do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Por volta das 9h30 da manhã, os militantes saíram em caminhada pela Avenida Loureiro da Silva, acompanhados por policiais da Brigada Militar (BM).

A maioria dos participantes era composta por integrantes do MST. A marcha foi composta, também, por membros da Central Única dos Trabalhadores (CUT) e por movimentos negros, feministas e de pessoas LGBT. Representantes dos bancários, que estão em greve nacional desde ontem, também acompanharam a caminhada.

Durante o percurso, os militantes carregaram cartazes e entoavam gritos de ordem que pediam a saída do presidente Michel Temer. “A pauta da marcha deste ano está dialogando com a conjuntura que está aí. Já estamos prevendo as medidas desse novo governo, que certamente vai enfrentar a classe trabalhadora, seja pela [reforma da] Previdência, seja pela redução de direitos, seja pelo impedimento de grandes programas que dialogam com as nossas necessidades”, disse Cedenir de Oliveira, representante da direção nacional do MST.

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