Com esse isolamento social, não dá para sair de casa. Academia ou mesmo equipamentos de musculação no parquinho, nem pensar nesses tempos de novo coronavírus. Um bom exemplo foi dado pela instrutora de pilates Marcia Pires. Ela decidiu, logo que a epidemia chegou ao Brasil, levar a mãe, Angela Melli dos Santos, de 84 anos, para passar a temporada de isolamento em seu apartamento, onde mora com o marido e os filhos.
A idosa nunca havia feito exercícios físicos antes, mesmo com a filha formada em educação física, mas concordou com as orientações de Marcia de que precisava se exercitar. Marcia montou uma série de exercícios que dona Angela tem feito pelo menos três vezes por semana. “Elaborei a série de acordo com as necessidades dela, com exercícios para fortalecer as pernas e ativar a circulação, respeitando os problemas que ela tem de coluna”, diz Marcia.
Nas últimas semanas, os governos estaduais e municipais vêm promovendo a reabertura de lojas, shoppings e outras atividades comerciais, mesmo com os índices de contaminação no País seguirem altos. Porém, principalmente para os idosos, que estão no grupo de risco de contaminação por covid-19 (segundo boletim divulgado pelo Ministério da Saúde em 25 de maio, 69,4% dos casos de óbitos no Brasil são de pessoas com mais de 60 anos), retornar às ruas é ainda mais arriscado.
“Esse relaxamento do isolamento social tem como critérios, entre outros fatores, o número de leitos em hospitais. Mas ele não indica que o contágio diminuiu, pelo contrário, ele é maior agora do que em março. Os idosos terão que esperar mais tempo”, diz Daniel Apolinário, geriatra do HCor. Portanto, para eles, o isolamento segue e, com isso, aumenta a necessidade de atividade física – para a boa saúde física e mental.
Dona Angela diz que já percebe os resultados. “Sinto mais facilidade para me movimentar e durmo melhor à noite”, diz ela, que promete não parar mais de se exercitar. Para incentivar a confiança e a independência da mãe, Marcia anotou os exercícios e deixa com que ela mesma faça os movimentos.
Para o geriatra Daniel Apolinário, esse é o caminho correto – o idoso pode e deve se exercitar, mesmo que sozinho. “Exercícios como sentar e levantar, movimentar braços e pernas, são de baixo risco. É seguro fazer em casa”, diz, explicando que a falta de atividade física nessa faixa etária pode causar perda de massa muscular, diminuição da capacidade cardiorrespiratória, constipação, insônia, entre outros problemas.
Do ponto de vista emocional, exercitar-se pode ajudar a diminuir a ansiedade, transtorno que tem se tornado comum entre os idosos, segundo explica Apolinário. Ele diz que a própria pandemia, a situação de risco e problemas familiares – como a perda do emprego dos filhos – são as principais causas de inquietação. O geriatra ainda chama a atenção para aqueles que faziam fisioterapia antes da pandemia: o tratamento não pode parar, mas deve ser feito da própria residência. “Se necessário, pode-se receber o fisioterapeuta em casa, desde que ele use equipamentos como máscara e avental.”
Para fazer em casa. A pedido do Estadão, o educador físico Rodrigo Sangion preparou, especialmente para os idosos, uma série com quatro exercícios. São atividades sem impacto, que usam apenas o peso do corpo ou objetos simples, como uma almofada, que devem ser feitos pelo menos três vezes por semana inicialmente. Com o tempo, pode-se aumentar para cinco vezes.
“São exercícios simples, mas que combatem o sedentarismo e tudo que ele acarreta, além de evitar o atrofiamento dos músculos e, como consequência, a perda de mobilidade”, diz Sangion. Outro hábito que deve ser evitado, segundo o educador, que atua há mais de 20 anos na área, é ficar longas horas sentado ou deitado. “Uma das complicações que aparecem é a trombose”, aponta Saigon, que sugere aos idosos a caminhada, mesmo dentro de casa, em três séries de dez minutos ao longo do dia.
Caso o idoso se sinta seguro, segundo o geriatra Daniel Apolinário, respeitando os cuidados de higiene e com o uso de máscaras, ele pode descer para caminhar nas áreas abertas do prédio ou no máximo dar uma volta no quarteirão. “Ao ar livre, o risco de contágio é pequeno, basta guardar distância de outras pessoas”, diz. Os resultados da atividade física aparecem após um mês do início, com grande ganho, sobretudo, de mobilidade, diz Sangion. “É muito gratificante trabalhar com esse público. Ao contrário dos mais jovens, que visam a questão estética, os idosos vibram com as pequenas conquistas e se sentem motivados a continuar.”
Em segurança
Os exercícios selecionados aqui devem ser realizados diariamente, com 3 séries de 12 repetições.
Abaixo, dicas para se movimentar em segurança.
a) Faça atividades entre 1h e 2h após as refeições. Escolha o horário em que estiver mais disposto – geralmente, pela manhã
b) Faça os exercícios em um local plano, seco e sem tapetes. Use roupas leves e tênis. Se o equilíbrio for um problema, peça ajuda.
c) Em caso de dúvida, procure ajuda de um profissional