Exército, Abin e Polícia Federal querem população atenta a risco de terror nas Olimpíadas
Publicado
emTahiane Stochero
A Polícia Federal, o Exército e a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) estão trabalhando conjuntamente, monitorando suspeitos, e se preparando para prevenir ataques terroristas durante os Jogos Olímpicos, que serão realizados em agosto, no Brasil.
Foram definidas 25 possibilidades de atentados que poderiam ocorrer e como seria a resposta do governo a eles. A pior delas seriam ataques múltiplos em uma mesma cidade, como os realizados pelo Estado Islâmico em Paris em novembro de 2015, que deixaram ao menos 130 mortos e mais de 350 feridos.
Um dos objetivos do governo brasileiro até lá é sensibilizar profissionais que trabalham em setores que atenderão turistas e delegações, como taxistas, funcionários de hotéis, bares e restaurantes, aeroportos, shoppings e transportes públicos (como metrô e ônibus) de que pequenas coisas suspeitas, como um a mala esquecida no corredor, pode representar um perigo.
Em São Paulo, que sediará algumas partidas de futebol das Olimpíadas, na Arena Corinthians, um evento de dois dias reuniu nestas quinta (18) e sexta-feira (19) profissionais destes setores, com policiais e militares do alto escalão da inteligência do país, para debater os riscos. Também haverá equipes treinando e se hospedando na capital paulista e em cidades do interior do estado.
Segundo o general Mauro Sinott, chefe do Comando Conjunto de Prevenção e Combate ao Terrorismo do Brasil, a intenção é “sensibilizar algumas pessoas e audiências que vão lidar com grandes públicos e delegações para ficarem atentas de alguma indicação de que alguma coisa pode estar em curso, como um evento terrorista”.
“Eu cito como exemplo uma camareira que caminhando no corredor vê uma mala abandonada, que não é normal. Nós queremos criar neste tipo de profissional a sensibilidade de que ele deve informar imediatamente a segurança do hotel”, afirma o general Sinott.
O treinamento reuniu o alto escalão de combate ao terrorismo no país, também contou com integrantes de bombeiros, defesa civil e polícias Civil e Militar de São Paulo, com o objetivo de repassar informações que englobam desde sobre se constrói uma bomba até as atitudes que seriam suspeitas, a necessidade de preparação de planos de evacuação e de emergência em hotéis, shoppings, aeroportos e outros locais para caso haja algo suspeito.
“Este estágio que estamos realizando em São Paulo é o primeiro que a estrutura integrada do governo fará em diversos locais, como Rio de Janeiro, Brasília e Manaus, e busca aumentar a percepção das pessoas para que possam detectar uma ameaça terrorista, caso ela ocorra”, diz o general Décio Luis Schons, que será o responsável pela segurança das Olimpíadas em São Paulo.
“É uma situação de prevenção e nós temos que estar preparados. Primeiro, para evitar que algo ocorra e, em segundo momento, para responder e reduzir os danos. Por isso queremos criar esta atenção dos atendentes dos hotéis, gerentes, faxineiras, pessoas comuns, o cidadão que vai no estádio e que, se estiver atento, percebe uma situação esdrúxula, um pacote abandonado, uma mochila, uma atitude estanha, uma atitude muito nervosa, e pode ajudar”, acrescenta o general Schons.
“Eu achei muito interessante. É um aprendizado que sempre aprimora e faz termos um outro olhar sobre as coisas. Um integrante da nossa segurança também está participando e a ideia é voltarmos para o hotel e repassarmos as informações para pensarmos diferente”, disse Michelle Paba, funcionária de um hotel paulistano.
Abin monitora suspeitos
A Abin possui alvos específicos que são acompanhados 24 horas por dia 7 dias por semana: são pessoas com passagens pela polícia e com uma rede de contatos capaz de obter armas, utensílios para explosões, dinheiro e pessoas capazes de executar um ataque. Imigrantes, como os refugiados sírios, não representam grandes ameaças, já que estão usando o Brasil apenas como rota para seguir para a Europa.
O risco maior, segundo agentes da Abin ouvidos durante o evento, são os chamados “lobos solitários”, pessoas que individualmente aderem à causas terroristas ou são cooptadas através da internet e se isolam socialmente, sem que se possa identificar antecipadamente.
“Queremos mostrar para estas pessoas, primeiro, que elas não precisam se preocupar, que estamos trabalhando conjunto no escalão superior e preparados para tudo, mas que precisamos contar com eles para alertar qualquer coisa suspeita, que precisamos contar com a ajuda deles”, disse o vice-diretor de contraterrorismo da Abin, José Carlos Martins da Cunha.
Para o general Sinott, a estrutura de resposta do Brasil hoje a um suposto ataque terrorista é “factível”.
“Fizemos uma projeção de 25 hipóteses do que pode acontecer e colocamos na mesa com diversos órgãos e cada um disse como poderia atuar nesta ocasião. A secretaria de Saúde, por exemplo, nos diz o melhor hospital para receber baleados é este, o melhor para queimaduras aquele. E, a partir daí, definimos protocolos do que cada órgão vai fazer em cada hipótese”, explica o oficial.
O delegado da PF Guilherme Torres defende que, em caso de ataques, deve ser seguido o modelo de reação francês, que determinou toque de recolher e expediu rapidamente mandados de busca e apreensão a residências de suspeitos, impedindo novos ataques em série. Ele defende também a rápida aprovação de um projeto de lei que tramita em urgência no Congresso e que, além de dizer o que é terrorismo no país, tornará crime a realização de atos de preparação para atques.
“Se algo ocorrer, a Polícia Judiciária não tem como esperar e ir bater na porta de cada juiz e pedir. Situações excepcionais exigem medidas excepcionais”, defende ele.
G1