Tom Zé completou 80 anos em 2016, mas as celebrações continuam na estrada. A exposição Tom Zé 80 Anos, inaugurada no ano passado em Salvador, chega à Caixa Cultural São Paulo, nesta terça-feira, 13, às 19h, para convidados – com a presença de Tom Zé – e, a partir de quarta, 14, para o público em geral.
Cantor, compositor, arranjador, escritor e performer, o eterno menino de Irará, no interior da Bahia, tem sua obra revisitada por meio de fotos, textos com inclusões em braile, vídeos, músicas, depoimentos, instrumentos, entre outros itens, fazendo com o que o visitante siga uma linha do tempo de sua carreira dentro do espaço expositivo. Há ainda filmes com enfoque no artista, como Fabricando Tom Zé (2006) e Tom Zé ou Quem Irá Colocar Dinamite na Cabeça do Século (2000). O trabalho gráfico-visual é do designer, produtor de mídia interativa e curador da mostra, André Vallias.
Dentro da programação em tributo ao artista, haverá ainda o projeto Errática Tom Zé, incluindo rodas de leituras e performances musicais, de sexta-feira, 16, a domingo, 18, às 19h15, também na Caixa Cultural São Paulo. Na sexta, o evento conta com a participação do próprio Tom Zé, além da poeta e artista visual Lenora de Barros, e do músico e ensaísta Zé Miguel Wisnik; no sábado, estarão a cantora e compositora Lica Cecato, o músico Cid Campos e a atriz e artista de narrativas poéticas Inayara Iná; já no domingo, será a vez do poeta e multiartista Caco Pontes, a cantora Iara Rennó e o poeta Daniel Minchoni. Tom Zé adianta que sua apresentação no projeto será “menos música e mais performática”. “Porque tenho uma porção de canção em que objetos são construídos, desconstruídos, o violão é desmontado ou a letra é absolutamente inocente e o que a pessoa vê é um negócio supercarnal”, explica Tom Zé, em entrevista ao jornal “O Estado de S. Paulo”.
Entre os destaques da exposição – idealizada pela produtora cultural Bete Calligaris, amiga dele -, estão os instrumentos criados por Tom Zé, como o enceroscópio e o buzinório. É possível também (re)ouvir toda a discografia de Tom Zé – que dessa forma, organizada, deixa mais evidente a versatilidade do artista como cantor e compositor: desde Grande Liquidação, de 1968, quando ele chegou em São Paulo, até seu mais novo disco, Sem Você Não A, com canções para crianças. Este mais recente trabalho, de 2017, aliás, não tinha sido lançado a tempo para entrar na mostra em Salvador, mas foi devidamente incluído agora na exposição em São Paulo. “Você põe um fone de ouvido, e pode ouvir qualquer música de qualquer disco”, reforça Tom Zé. Vale ainda a (re)audição do ousado disco Estudando o Samba, de 1976, que, anos depois, chamou a atenção do músico David Byrne, ex-Talking Heads, e fez o Brasil redescobrir Tom Zé.
E, claro, essa linha do tempo relembra seus tempos de Tropicália “Tem o disco Tropicalia ou Panis et Circencis (o histórico álbum lançado em 1968, com Caetano Veloso, Gal Costa, Gilberto Gil, Os Mutantes e companhia), tem o meu particular, que foi o Grande Liquidação”, diz. E conta que Grande Liquidação não era para ser nome de disco. “Eu quis fazer uma capa onde eu pudesse retratar um pouco o que as canções tentavam fazer, elas tentavam falar de todas as novidades de São Paulo, que estava saindo de uma cidade provinciana para uma capital ou coisa que o valha”, lembra-se.
E emenda uma recordação hilária. “Por exemplo, as lojas passariam a ser bancos, como hoje toda loja é um banco, só vende fiado, ganha com o crédito mais do que com a mercadoria. E, naquele tempo, isso estava chegando, era uma novidade. Eu mesmo ficava curiosíssimo. Fui dono de loja em Irará. Na minha loja, era um pouco diferente o fiado. Eu dizia: se você não tiver dinheiro agora, você compra para pagar daqui a dez dias e, em dez dias, eu mandava um menino com a nota cobrar na porta da pessoa (risos). Minha avó Genésia falava: ‘Antonio José, você está me cobrando? (risos). ‘Não, vó, isso é uma coisa formal, não estou cobrando, a senhora não precisa pagar (risos). Hoje é ao contrário: a loja não vende à vista, porque quer ganhar como banco.”
Apesar de inevitavelmente perpassar sua vida, a exposição tem como foco principal seu trabalho. “Esses objetos são coisas em que a gente se vê aos pedaços.”