Um antigo samba de Noel Rosa diz que “o samba na realidade não vem do morro nem lá da cidade/e quem suportar uma paixão/ sentirá que o samba então/nasce no coração”. A letra de “Feitio de Oração”, parceria de Noel com Vadico, pode ser adaptada à trajetória do cantor e compositor Fábio Pinel. Nascido na cidade de Lajinha, no interior de Minas Gerais, há 25 anos, Fábio aprendeu a amar o samba desde a mais tenra idade, graças à influência do pai Aladim Pinel, que o levava para as rodas de samba e lhe presenteou com um cavaquinho quando ele tinha apenas seis anos. Desde então, a paixão pela música – e em especial o samba – acompanha o jovem cantor e compositor em todos os seus passos.
Radicado no Espírito Santo desde 2009, Fábio Pinel hoje se destaca na nova geração de sambistas em atividade no Estado. Após ganhar experiência nos palcos da Grande Vitória, ele chega agora ao primeiro CD, “O Dom de Cantar”, já disponível em formato físico e nos serviços de streaming.
Ao mesmo tempo, Fábio atua como cantor da Orquestra Pop Jazz do Ifes, sob regência do maestro Célio Paula, e marca presença no circuito de bares com música ao vivo de Vitória, em especial no Divino Botequim, em Jardim da Penha, onde desde 2016 faz a trilha sonora das tardes de sábado ao lado do experiente violonista Cecitônio Coelho e do percussionista Léo de Paula. No repertório, sambas consagrados de compositores que influenciaram seu modo de compor e cantar – entre os quais não podemos deixar de citar João Nogueira, Paulo César Pinheiro, Cartola, Zé Kéti, Chico Buarque, Zeca Pagodinho, Beth Carvalho e, naturalmente, Noel.
“Meu pai sempre teve muitos LPs, CDs, e cresci ouvindo compositores que fizeram a história do samba, além da música latina de Pablo Milanés, Mercedes Sosa, e o rock de Elvis, Beatles. Minhas referências são essas”, afirma Fábio, que cita com orgulho o parentesco com Lamartine Babo: “Ele é primo da minha bisavó”, diz ele, sobre o célebre autor de marchinhas carnavalescas e de hinos dos times de futebol do Rio de Janeiro.
Autodidata, ele começou no cavaquinho, mas teve contato com o violão, baixo, bateria, guitarra e teclado na igreja assim que a família se mudou para a cidade de Iúna (ES), a 180 quilômetros ao sul de Vitória. Foi na Região do Caparaó que ele teve a oportunidade de participar pela primeira vez de um grupo de pagode, estreando em shows profissionais com 13 anos.
Com a vinda para Vitória, visando à conclusão dos estudos, Fábio iniciou uma nova trajetória, recebendo o convite para fazer parte do grupo Ilha Samba e, posteriormente, do grupo SambaFino, com o qual ganhou cancha de palco ao se apresentar em diversos bares e casas noturnas.
“Um momento marcante do Grupo SambaFino foi o show no Parque de Exposições de Carapina, onde tocamos no mesmo palco de Jorge Aragão, pela primeira vez diante de um grande público”, lembra Fábio. Mais adiante o cantor participou do circuito do Carnaval de Vitória, no qual conquistou o Troféu Faisão De Ouro de Intérprete Revelação de 2014, representando a Novo Império, que naquele ano sagrou-se campeã do Grupo de Acesso.
Em 2016, passou a se dedicar ao lado autoral, com repertório próprio, o que gerou uma série de frutos. Um deles é a formação que se apresenta no Divino Botequim, com sucesso, há quatro anos. Paralelamente desenvolve um trabalho para bailes, formaturas, cerimônias e celebrações religiosas, que resultaram na gravação de um CD com canções cristãs, lançado em 2017.
Mas o foco principal do cantor está na divulgação do primeiro CD autoral, com o qual espera consolidar a identidade de sambista. “É o passo mais importante da minha carreira até o presente momento. Tenho a preocupação de criar uma identidade como cantor de sambas. Gosto de cantar forró, Djavan, Lulu Santos, tenho canções pop, de ritmo nordestino, mas onde me sinto mais em casa é no samba e é onde pretendo caminhar”, afirma.
Partido-alto e marchinhas
O CD “O Dom de Cantar” reúne oito faixas, incluindo parcerias do cantor e compositor com o pai, Aladim Pinel, e o jornalista Roberto Seabra. Os instrumentos de cordas, acordeon, as vozes e a bateria foram gravados no Studio B, com produção de Nícola Pasolini. A percussão foi gravada no Studio SS Produções, e os metais no R&B Studio.
No disco, Fábio Pinel está bem acompanhado por um elenco de músicos que inclui Nícola Pasolini (produtor, arranjador e baixista), Ricardo Ton (técnico de gravação e captação, mixagem e masterização), Léo de Paula (percussão), Richard Tanure (bateria), Cecitônio Coelho (violão de 7 cordas), Dora Dalvi (violão de 6 cordas), Bruno Santos (trompete), Roger Rocha (sax) e Marcus Paulo (clarinete). Os backing vocals são de Alza Alves, Yuri Guijansque, Aladim Pinel, Amanda Menezes, Brenda Romanzini e Eloá Eller.
Entre os convidados estão Carlos Papel, que divide com Fábio os vocais da faixa “Você vai ver”; Aladim Pinel, que canta “Velha Cidade” com o filho; Joabe Reis, que faz um solo de trombone em “Receita de Bolo”; e Chico Chagas, acordeon em “Primeira Flor”.
Como todo sambista que se preze, Fábio Pinel busca inspiração nos fatos do cotidiano para compor suas canções. Um exemplo é “Receita de Bolo”, inspirada literalmente em uma receita provada – e aprovada – por ele: “Era um dia frio, na roça, e minha esposa decidiu fazer um bolo. Gostei tanto que peguei a receita e pus a melodia, os acordes, e o samba saiu. Eventualmente faço letras, mas prefiro compor a música, é onde me sinto mais à vontade”.
Entre cavaquinhos, cuícas e pandeiros, Fábio Pinel passeia com desenvoltura pelo terreno do partido-alto, no qual Candeia e Martinho da Vila se fizeram reis. Ao longo das oito faixas do álbum, o ouvinte irá se deliciar com o balanço de “Vida Boêmia”, a reverência aos mestres em “Roda dos Bambas” e a homenagem a Clementina de Jesus, em “Clementina do Brasil”, na qual o cantor descreve o encantamento que sentiu ao ouvir a voz da Rainha Quelé pela primeira vez. A faixa-título traz divisão vocal na linha de João Nogueira, enquanto “Você vai Ver” bebe na fonte do samba dolente, com direito a um ótimo arranjo de metais de Bruno Santos e a um final surpreendente de viés político.
Em “Primeira Flor”, o cantor faz uma ponte entre o samba e suas raízes mineiras, com a melodia abrilhantada pelo acordeon. “Receita de Bolo” é só alegria, o tipo de samba culinário que chama o público para dançar. “Velha Cidade”, por sua vez, encerra o álbum em ritmo de marchinha e com sopro de nostalgia, numa referência de Fábio Pinel aos tempos idos de sua terra natal.
Parcerias futuras
Após o lançamento do CD, o cantor e compositor vislumbra a realização de trabalhos futuros com o maestro Célio Paula, com quem vem desenvolvendo uma parceria promissora. “Em poucos meses, já fizemos mais de 20 composições. O maestro Célio é excelente letrista e tem encaminhado suas criações. Estou musicando suas letras. Guardadas as devidas proporções, sou o João Nogueira da parceria e o Célio é o Paulo César Pinheiro”, diverte-se o cantor, citando a lendária dupla que compôs “Espelho” e “As Forças da Natureza”, entre outros clássicos da MPB. Sinal de que Fábio Pinel tem muito material para rodar em disco, nas plataformas de streaming e nas rodas de samba pelo Brasil afora.
As faixas
1. Vida Boêmia (Aladim Pinel/Fábio Pinel)
2. Roda dos Bambas (Fábio Pinel)
3. Clementina do Brasil (Roberto Seabra/Aladim Pinel/Fábio Pinel)
4. O Dom de Cantar (Fábio Pinel)
5. Você vai Ver (Aladim Pinel/Fábio Pinel)
6. Primeira Flor (Fábio Pinel)
7. Receita de Bolo (Fábio Pinel)
8. Velha Cidade (Aladim Pinel/Fábio Pinel)
Onde ouvir
O álbum “O Dom de Cantar”, de Fábio Pinel, está à venda com o cantor e compositor por R$ 15,00, por meio de suas redes sociais, e disponível nas principais plataformas digitais, como Spotify, Deezer e Apple Music, além do YouTube. O cantor se apresenta com frequência na Feijoada com Samba, aos sábados, a partir das 13h, no Divino Botequim, em Jardim da Penha, Vitória. As próximas datas serão 07/03 e 21/03.
Contatos
Fábio Pinel – (27) 99731-9767
E-mail: pinelmusico@gmail.com
Site: www.fabiopinel.com
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Instagram: @fabio.pinel