A Polícia Civil está decidida a investigar uma suposta rede de intrigas que faz germinar em Brasília uma perigosa semente. As raízes estão entranhadas no Executivo, Legislativo, Judiciário e iniciativa privada. O fruto é o achaque. O fertilizante é um conjunto de fake news que vira arma municiando blogs e pequenos sites, envolvendo nessa teia, como vítimas, empresas estatais, órgãos públicos, empresários e agências de publicidade.
Substantivo masculino, achaque, para quem não sabe, tem uma série de definições na língua portuguesa. Pode ser mal-estar ou doença sem gravidade, acometendo com mais frequência as pessoas idosas. Mas é também, como no caso em questão, uma imperfeição moral, onde o caráter se faz ausente para imputar leviandades a terceiros.
Nessas ocasiões – e a exemplo do que ocorre na capital da República -, são destiladas acusações infundadas, mas com um perigoso, palpável e polpudo motivo: levar vantagem fiduciária. Tido também como erva daninha que prolifera em época de crises, o achaque provoca dissabor, fazendo aflorar ações judiciais em busca da verdade.
Autoridades policiais avaliam que nos últimos dias Brasília virou um prato cheio para o achaque, usado sem que se meçam as consequências, mesmo com o risco de uma condenação judicial. Há indícios inclusive de uma tabela de preços que estaria vigorando nesse ramo. Silenciar sobre meras suposições custaria 50 mil reais; falar bem, o dobro. E quando não há acordo, há o achaque, com pagamento em cash.
Esse perigoso método fácil de se ganhar dinheiro cresceu à medida em que proliferam blogs das mais variadas tendências. Consequentemente, admitem autoridades policiais, Brasília viu-se tomada por uma onda de achaques, onde informações deturpadas viram fake news e circulam na velocidade do mundo virtual.
Informações preliminares indicam, por exemplo, que para achacar vale até ferir a língua pátria mascarada por um latim arcaico e tosco. Nas palavras de um delegado que demonstra preocupação com o atual cenário, são textos vis e virulentos. “Age-se deliberada e nunca inconscientemente como massa de manobra de quem comanda uma rede de intrigas com tentáculos em diferentes setores da sociedade”, conforme palavras enfatizadas por um policial na condição de anonimato.
O pior – e este é um entendimento quase unânime – é que quem achaca não tem renda ou patrimônio, mas leva vida de nababo. E não paga aquilo que deve e foi determinado pela justiça em dezenas de ações. A preocupação, hoje, é descobrir quem está por trás desse lucrativo negócio. Informações reservadas sugerem, porém, que a policia já tem um rol de suspeitos. “É gente inescrupulosa, do tipo que não vê defeito nos amigos, mas que, quando se trata de adversário, se não há defeito, eles colocam”, pontua essa mesma autoridade policial.