Hervé Falciani, o homem que delatou mais de 100 mil contas sob suspeita do banco HSBC na Suíça, acredita que novos nomes ligados ao esquema de corrupção da Petrobras ainda vão vir a público. “O certo é que o Brasil apenas começa a conhecer a dimensão desse assunto e, com a Petrobras, é uma bela oportunidade de colocar o dedo onde faz mal”, disse.
Falciani, que passou a colaborar com a Justiça francesa e conheceu como poucos as relações entre o HSBC e dezenas de casos de corrupção, vê as investigações da Operação Lava Jato como um divisor de águas. Nas investigações conduzidas pelo Ministério Público da Suíça, uma série de contas no banco foram identificadas em nome de ex-diretores da Petrobras e milhões de dólares foram bloqueados.
Sem poder entrar na Suíça, sob risco de ser detido por acusações de roubo qualificado e quebra de sigilo bancário, Falciani concedeu uma coletiva de imprensa nesta quarta-feira, 28, na pequena cidade francesa de Divonne, na fronteira com a Suíça e a poucos quilômetros do primeiro posto de polícia.
Questionado por jornalistas brasileiros se novos nomes relacionados à Lava Jato vão aparecer, o delator confirmou e foi além. “Mais que novos nomes, vamos entender os mecanismos usados e teremos a oportunidade para entender e prevenir os futuros escândalos”, disse. Para Falciani, o cidadão comum está “longe de conhecer o que se passa no caso da Petrobras e HSBC”. “O Brasil só agora começa a ver o aspecto mais amplo das finanças”, afirmou. “Temos como agir. Graças ao contexto que existe no Brasil, temos muito a fazer.”
Colaboração – No Brasil, uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) foi instaurada para investigar o escândalo envolvendo o HSBC e correntistas brasileiros. Em agosto, o francês foi a última testemunha ouvida pelos senadores por meio de um teleconferência
Falciani disse aos parlamentares que o número de brasileiros com contas na filial do banco ultrapassa muito os 8,7 mil que se conhece até o momento. Na ocasião, ele se disse disposto a compartilhar seu banco de dados com os parlamentares e a colaborar nas investigações. Ainda assim, os senadores não ficaram convencidos.
O vice-presidente da CPI, senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), chegou a acusar parte dos membros da CPI de tentarem “enterrar” as investigações. “Existe uma pressão do poder econômico sobre os membros da CPI e existe um esvaziamento proposital da CPI”, disse o senador.
Falciani ainda não repassou seus dados à Justiça brasileira e, na França, a colaboração com o Ministério Público do Brasil não vingou. “Todos os meios administrativos e judiciais estão sendo explorados e vamos ver como podemos ajudar. Se não pudermos colaborar por meio da França, faremos pela Espanha ou outro país”, disse. Segundo ele, seus advogados estão prontos para aceitar uma colaboração com o Ministério Público brasileiro.
Questionado se estava satisfeito ou não com a reação do Congresso brasileiro, Falciani desconversou. “Não cabe a mim estar satisfeito ou não. Fazemos o que podemos e com o que temos”, disse, relatando que existem cerca de 20 pessoas trabalhando com o dossiê brasileiro. “As trocas com o Brasil continuam. O que foi iniciado ali na CPI estamos tentando fazer avançar por outras vias”, explicou.
O francês evita criticar investigadores ou mesmo as autoridades suíças, que o consideram um ladrão de dados sigilosos. “A dificuldade é política. Não existe vontade política para conversar com as autoridades fiscais”, disse. “Há coisas que podem ser melhores para todos, em detrimento dos interesses financeiros. Não é para fragilizar as finanças.”
Falciani afirmou que tenta tirar proveito da imagem negativa que bancos e governos tentam passar dele. “A má imagem é usada e eu não me reconheço nela. Mas faz parte do jogo. Vou utilizar essa má imagem. Será um comportamento oportunista e tenho o direito de ser oportunista. É um combate”, finalizou.