Clarissa Thomé
Diretores do Hospital Estadual Albert Schweitzer, em Realengo, na zona oeste, registraram boletim de ocorrência na 33 ª Delegacia de Polícia informando que não têm condições de atender pacientes. Médicos e enfermeiros estão com salários atrasados. Também faltam insumos. De acordo com funcionários da instituição, metade dos leitos foi fechada. A decisão dos médicos de registrar na delegacia a impossibilidade de atendimento é uma das faces da crise financeira por que passa o Estado. A dívida com fornecedores, só na Saúde, chega a R$ 1 bilhão, desde o início do ano. Quinze Unidades de Pronto Atendimento (UPAs), operadas pelo governo estadual, também estão funcionando precariamente.
O Hospital Albert Schweitzer é referência para politraumatizados na zona oeste da cidade, com 500 leitos e 4,2 mil funcionários. Ali, funciona uma maternidade para grávidas de alto risco. Nesta segunda-feira, 21, pacientes foram orientados a procurarem unidades municipais, como o Hospital Miguel Couto, na zona sul, a 46 quilômetros, e o Hospital Souza Aguiar, no Centro, a 38 quilômetros. Somente os que estavam em estado grave foram admitidos. A triagem foi feita muitas vezes do lado de fora do Albert Schweitzer. Houve casos em que as enfermeiras foram até o carro para medir a pressão e encaminhar o doente para outra instituição. Uma das UTIs estava lacrada por cadeado; 40 leitos desses estão fechados.
Os diretores decidiram registrar o boletim de ocorrência como forma de se resguardar de possíveis acusações de omissão de socorro. A delegacia não vai abrir investigação porque não se tratava de comunicação de crime, mas de relatos de ordem administrativa, mas vai intimar representante da Secretaria de Estado de Saúde para cobrar explicações sobre a interrupção do atendimento na instituição.
A crise no Albert Schweitzer já é antiga e apenas se agravou com a falta de recursos. Parentes de pacientes internados se queixam de que é constante que apenas um dos elevadores da instituição funcione – o prédio tem 11 andares e por esse único elevador que funciona são transportados pacientes, visitantes, alimentos, lixo hospitalar e corpos. A fila chega a durar 1h.
Além do Albert Schweitzer, houve protestos no Hospital Rocha Faria, em Campo Grande, na zona oeste. De acordo com o Conselho Regional de Medicina, 15 UPAs administradas pelo governo do Estado também estão com atendimento afetado pela crise – há falta de insumos a profissionais de saúde. O governo tem priorizado o pagamento dos salários de servidores, mas como as UPAs são administradas por organizações sociais (OSs), esses pagamentos são registrados como feitos a “prestadores de serviço” e os repasses estão em atraso.
Hoje, a entrada do Hospital da Mulher Heloneida Studart, referência para grávidas de alto risco, foi fechada por tapumes. Os médicos informaram que os medicamentos só davam para suprir a necessidade das pacientes já internadas.
Na semana passada, o secretário estadual de Saúde, Felipe Peixoto, afirmou que estava buscando solução para o problema. “Não vai fechar nenhum hospital. Estamos trabalhando para garantir o atendimento à população”, disse Peixoto em entrevista à Rede Globo. O registro de ocorrência feito pelos diretores do Albert Schweitzer foi encaminhado para a Secretaria de Estado de Fazenda. O ofício também informava quais as programações de desembolso (ordens de pagamento emitidas pela Saúde) referentes ao Albert Schweitzer estão pendentes.
Em nota, a Secretaria de Fazenda informou que “está buscando receitas extraordinárias que possibilitem a geração de recursos para que sejam realizados os pagamentos à Saúde”. “Os pagamentos serão realizados assim que houver recursos disponíveis em caixa”, afirma.
O Cremerj e o Conselho Regional de Enfermagem (Coren) divulgaram nota conjunta em que responsabilizam “os governos federal, estadual e municipais pela redução do número de leitos e pelo fechamento de unidades de saúde em todo o Rio de Janeiro”.