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Reflexões sobre o Brasil

Fanatismo bom mesmo é quando envolve a vida

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Autor/Imagem:
Mathuzalém Junior*

Denominação oficial do zelo religioso obsessivo que pode levar a extremos de intolerância, o fanatismo está enraizado no futebol, na música, na religião e, nos tempos atuais, desgraçadamente na política. E nem é a partidária. É por pessoas, normalmente adoradas pelo que fizeram de errado e não assumiram, pelo que deixaram de fazer, pelo que prometeram e não cumpriram e, principalmente, pelo que não sabem e nunca souberam fazer. Trata-se de uma adoração exacerbada e que, naturalmente, ultrapassa os limites ideológicos, fugindo a todos os princípios básicos de convivência em sociedade, de forma mais clara ao respeito.

Vocábulo antigo, mas amplamente explorado nessa última década, o termo ideologia foi descoberto e fulanizado pelo poeta Cazuza nos versos “… Os meus sonhos foram vendidos tão barato que eu nem acredito… Meus heróis morreram de overdose…Eh! meus inimigos estão no poder”. Não chego a esse exagero, pois avaliar qualquer presidente da República como inimigo é torcer contra o Brasil, é apostar no caos. Não é o meu caso. Reiterando o que já escrevi neste mesmo espaço, não sou Lula, Dilma, Temer, Bolsonaro, muito menos Dória. Sou Brasil. Sou patriota e torço, como no futebol, por aquele que pode me oferecer um país vitorioso, justo, correto, unido, sem ladroagem e que respeite, de forma igualitária, brancos, negros, heteros, gays, falsos machos, semimachos ou semigays (neologismos que desconhecia), bonitos, feios, homens, mulheres, fernandistas, petistas e bolsonaristas, entre outras nuances políticas.

Respeitar a opinião e as escolhas alheias é sinônimo de exigir e cobrar respeito às nossas posições. O inverso é autoritarismo, é ditadura. É inadmissível, por exemplo, patrulhamentos personalizados como fazem os radicais em relação à opção da maioria dos governadores pelo lockdown ou ao comportamento e a indumentária do governador de São Paulo. É direito dele ser o que bem entende. É dever nosso respeitá-lo como cidadão, candidato e, quem sabe, presidente da República. Não é absurdo imaginar tal hipótese, sobretudo depois do gran finale da primeira contratação com a China de um carregamento da CoronaVac, antídoto agora encampado, mas não disponibilizado pelo governo federal.

Não estou antecipando coisa alguma, mas aceitem caso, em 2022, por absoluta falta de opção, eu decida votar em João Dória, João Amoedo, Luciano Huck ou que pense em ressuscitar Enéas. Deixem-me errar. Sem juízo de valor, vocês erraram à esquerda e à direita. Assim como milhões de brasileiros, que tiveram de engolir os sapos – barbudo ou atleta – por quatro ou oito complicados anos, eu também tenho o direito de errar. A chatice desse povo arrebanhado conseguiu a proeza inédita de transformar gregos em troianos e cariocas em baianos (sem qualquer demérito), isto é, sem bandeira e destino próprios. Nos dias atuais, infelizmente não nos orgulhamos sequer de ser brasileiro.

Também como no futebol, conhecemos amigos ou colegas que usam a voz, a presença, o zap zap ou qualquer outra ferramenta tecnológica para gozação sadia e desprovida de ofensas ou ataques pessoais. Contrariamente, os de hoje, talvez por falta de brincadeiras no play, apelam até para agressões físicas. Perdão pelo sincericídio, mas conheço todos os caminhos que me levam a informações sobre Sarney, Collor, Fernando Henrique, Lula, Dilma, Temer e Bolsonaro. Não preciso que me falem – bem ou mal – deles a todo instante. Deixem que eu decida minha vida. Quero saber é do Brasil e quando tomarei as duas doses da CoronaVac. Nada tenho a ver se vocês não têm interesse em viver. Como contrapartida, também não me interessa se vão morrer.

Guardem para vocês o fanatismo por esse ou aquele presidente. Sou fanático pela família, pela vida e pelos amigos corretos, sensatos, centrados e respeitosos. Confesso que, possivelmente, eu mesmo esteja longe desses adjetivos. Entretanto, penso muito antes e normalmente tenho coragem de me penitenciar quando me surpreendo agindo com o fígado. Afinal, como seres humanos ninguém merece conhecer minhas eventuais sandices. Estamos no fundo do poço. Enquanto isso, o grupo de marionetes continua defendendo um governo que não se acerta. Desconhecem a máxima de Chico Xavier, para quem o mundo não é dos espertos. “É das pessoas honestas e verdadeiras. A esperteza um dia é descoberta é vira vergonha”, como ocorreu recentemente com o receituário da mágica, demagoga e desonesta cloroquina e com as críticas às vacinas chinesas.

Sempre vitoriosa, a honestidade se transforma em exemplo para futuras gerações. Uma corrompe a vida, a outra enobrece a alma. Impossível pensar em normalidade quando se defende alguém que, como parlamentar, sem qualquer conhecimento científico e no melhor estilo de magia, sugeriu uma pílula contra o câncer. Como pensar em boa colheita se plantamos mal? Se quisermos vencer, não podemos ficar olhando a escada. Devemos começar a subir os degraus, um por um, até chegarmos ao topo. A escada que temos parece enferrujada, podre ou quebrada. Por isso, como o mercadão eleitoral está mais próximo do que se imagina, tentemos uma nova. Não precisa ser de aço, ferro ou titânio. Basta que tenha degraus seguros, capazes de atender a todos e, se for o caso, que não interfiram na preferência de alguns pelo exercício de escalar parede, muro ou triplex.

*Mathuzalém Júnior é jornalista profissional desde 1978

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