Mais do que ideologia, metade do Congresso Nacional, particularmente da Câmara dos Deputados, tem votado com o fígado assintomático, mas, com certeza, rodeado de nódulos detonadores do caráter que ainda resta desde a partida sombria e definitiva do homem conhecido por ser a maior das fake news que o Brasil já conheceu. Um ano e meio depois do passamento do mito, o que se vê é que os parlamentares bolsonaristas ainda não descobriram como honrar os votos recebidos em 2022. Na verdade, não sabem o que estão fazendo no Parlamento.
O exemplo mais notório veio do deputado homofóbico e bolsonarista de jaquetão Maurício do Vôlei. Depois de votar pela recriação do DPVAT, ele pediu perdão pelo erro infantil que cometeu. Dizer que se confundiu é mais fácil do que assumir a estultice de ter ajudado a aprovar um tributo que havia sido extinto pelo próprio mestre e mito. É a cegueira política que anda de mãos dadas com o fanatismo dos “patriotas” por pessoas que nada representam para a pátria. É o tipo da doença que não tem cura. Maurício do Vôlei e seus colegas de bancada são o reflexo de um povo que faz qualquer coisa para transformar o Brasil em uma republiqueta de bananas.
Lacaios de um clã que, por meio de discursos exclusivamente eleitoreiros, trabalha pelo caos e agora na coleira do astronauta Elon Musk, essa metade do Congresso só descansará quando as casas de Mãe Joana, apelidadas de Câmara e Senado, tiverem controle do país. É claro que não conseguirão, mas tentarão até a morte. O sonho inacabado da turba é poder armar a pátria e denominá-la de Casa do Jair, sujeito oculto e sem dez por cento do apoio que supunha ter. Se havia alguma dúvida com relação ao prazer desses parlamentares com a derrocada do Brasil, ela foi dissipada durante a sinistra votação sobre a manutenção da prisão de Chiquinho Brazão.
Na melhor das hipóteses, o honrado deputado tentou obstruir a Justiça, o que é crime até debaixo d’água. No entanto, como o Brasil inteiro tomou conhecimento, mandar matar é muito mais grave. Por isso mesmo que os simpatizantes da tragédia nacional não achem, votar para libertar um cidadão suspeito de encomendar a morte de uma vereadora é a prova de que os pensadores honrados estão certos. Segundo eles, o fanatismo e a necessidade de ruptura de um governo eleito democraticamente corroem e gangrenam o cérebro de homens públicos que deveriam estar recolhidos às masmorras rodeadas de areia branca e nas quais são tratados os que perderam a inteligência artificial.
Pior é relembrar o 8 de janeiro de 2023 como fato histórico. Se tivessem conseguido o golpe, certamente já teriam instituído o Dia do Quebra-Quebra. O brasileiro correto assistiu a tudo aquilo bestializado, atônito, surpreso e certo de que quem destrói um bem público é vândalo. Hoje, todos temos certeza de que políticos são aqueles que permitem que o mesmo bem seja destruído aos poucos. É o que a bancada do Jair de todas as mazelas quer fazer. Para seus representantes, o sonho não acabou. Eles esperam um dia dar a seus seguidores o tão esperado tripé: pão, circo, medo e rombo nas contas públicas.
Nesses últimos cinco anos, na vastidão dos tapetes azul e verde da Câmara e do Senado, vi de tudo como jornalista ou como cidadão comum. Só não vi a presença maciça de homens sérios, honrados e dispostos a trabalhar pela pátria que tanto amam e que tanto querem proteger. Será? É claro que não! Lamentável sob todos os pontos de vista, mas, parafraseando Albert Camus, a política de nossos dias é constituída por homens sem ideais e sem grandeza. Políticos temos muitos, mas homens e mulheres de conduta ilibada e de caráter inexpugnável são poucos.