José Escarlate
Ao desembarcar no Palácio do Planalto, Said Farhat, indicado pelo escritor Guilherme Figueiredo, irmão do presidente, já com status de ministro, criou a Secretaria de Comunicação Social, a Secom. Sua estrutura era pesada, tornando-se maior do que a da presidência. Isso não agradou a alguns setores do Planalto. Entre os incomodados, o general Octávio Medeiros, que sugeriu a Figueiredo que evitasse o gigantismo.
Paralelo a isso, Farhat vinha fazendo para à imprensa certas declarações que não agradavam a Golbery, Medeiros e até ao major Heitor Ferreira. Ciumento do papel que vinha desempenhando o jornalista Alexandre Garcia, nos contatos coma mídia, Farhat não sossegou enquanto não derrubou Alexandre, a quem sucedi no posto. A gota d’água da demissão de Farhat foi uma declaração, feita por ele sobre a eleição da Mesa da Câmara, quando assegurou que o deputado Djalma Marinho seria empossado se fosse eleito presidente da Câmara Federal.
Farhat não tinha assento na reunião das 9 da matina, quando o seu caso foi focalizado. Golbery, Medeiros e Heitor pediram a sua cabeça. Horas depois, Medeiros e Said Farhat se reuniram, quando o chefe do SNI lhe comunicou a decisão do presidente. Convidado, o homem da Secom recusou um posto na Organização dos Estados Americanos, em Washington. No dia seguinte, encaminhou a Figueiredo sua carta de demissão.
Dias depois, toda a estrutura da Secretaria de Imprensa foi demitida, por ato do general Golbery do Couto e Silva. O presidente Figueiredo estava em Paris, quando o Diário Oficial publicou a demissão em massa. Eu era Subsecretário de Imprensa e subi ao Gabinete Civil para saber a quem entregar os documentos – todos os discursos de Figueiredo da sua estada em Paris – em meu poder, para divulgação com embargo.
Golbery me recebeu rapidamente com o tradicional “olá, seu Escarlate. Como está vosmicê?” “Bem, ministro. Acabo de ser demitido e queria saber a quem entrego a Secretaria de Imprensa” – disse. Sem titubear, perguntou: “Quem sobrou por lá ?”. “Duas secretárias e um sargento do Exército” foi a minha resposta. “Entregue ao sargento” – disse o ministro, mostrando que sentiu o golpe. O sargento era o Antônio Maciel Pinheiro, que já dirigira, eventualmente, a Rádio Nacional. E fui me reapresentar a Apolônio Salles, presidente da EBN, minha casa de origem.