Cada pessoa é única. E você deve estar cansado de ouvir isso para cima e para baixo e nas propagandas de televisão. Não, não estou falando de produtos, estou falando de identidade.
O problema é que ainda não aceitamos isso muito bem. Não entendemos que temos algumas particularidades que não vão passar com o tempo e que não vão mudar (a não ser que façamos um esforço exato para isso). Algumas pessoas brigam com a sua natureza o tempo todo e pagam um alto preço por isso.
É o caso dos workaholics. Eu confesso, já fui bem assim. Mas em um período da minha vida em que precisava de um foco maior na carreira. O problema é levar isso para sempre. Transformar a sua identidade naquela do trabalhador incansável. Sabotar suas noites de sono, o tempo com seus filhos e sua família e suas férias, para estar disponível para o trabalho e para os outros. Isso, além de acabar com a saúde e com a qualidade de vida, é muito pouco produtivo.
Assisti outro dia o filme com o Leonardo Di Caprio, “O Aviador”. Adorei o filme, mas ele mostra bem isso. Um homem atormentado por um Transtorno Obsessivo Compulsivo, trabalhador incansável que se arriscou demais e terminou bem doente. Apesar dele ser um ícone para a história da aviação do mundo todo, ele se sacrificou no processo. Algumas pessoas, grandes filantropos, acabam também caindo nessa armadilha.
Na verdade, trabalhar é bom. É ótimo realizar, é ótimo ter o seu dinheiro e, principalmente a sua satisfação. Mas não é tudo. Seu trabalho não é você, como acreditamos até então. Seu trabalho é uma parte sua, uma parte importante do seu dia, mas não é você.
Aos poucos a mentalidade vai mudando. Outro dia vi uma reportagem sobre as novas empresas e a forma de estimular seus funcionários. Em uma empresa na Suíça, se não me engano, quando o relógio bate 18 horas as mesas são içadas por cabos de aço. No lugar aparece um local para uma aula de yoga ou jogos. É proibido fazer horas extra.
Em algumas empresas é possível levar o seu cachorro, sair na hora que quiser, tirar férias quando suas metas já foram cumpridas. Se o homem fez tanto pela tecnologia, porque não usá-la a nosso favor? Por que não procurar ter uma qualidade de vida melhor, aproveitar bem o seu dia? Comer melhor, passear, fazer uma atividade física? Quem falou que precisamos ser esse poço de trabalho e esforço, tipo Alemanha nazista? Quem disse?
A mentalidade vem da Revolução Industrial. Os caras queriam (e querem) fazer muita grana e colocavam o povo para trabalhar. Como não existiam leis trabalhistas, as jornadas de trabalho chegavam até 16 horas (dentro de uma linha de produção, imagine). As pessoas morriam cedo, de tanto trabalhar. Quando se aposentava, não passavam mais de dois anos em casa e já morriam. Aliás, o sistema de previdência pública foi baseado nestes dados, do século passado, e por isso está falindo. É preciso rever muitas coisas.
Mas enquanto não conseguimos rever as leis, que tal revermos a nossa vida? Sim, sei que você tem obrigações e eu também, mas e a saúde? E para que você está fazendo isso? Se não dá tempo de fazer tudo, faça pelo menos algo por você todos os dias. Respeite a sua natureza, o seu corpo, as necessidades dele (de descanso, comida boa e exercícios). Não tem preço ter uma boa saúde e poder produzir ainda mais, com menos esforço e menos sacrifícios. Essa é a nova era, vamos pensar nisso?