O ministro da Fazenda, Eduardo Guardia, disse neste sábado (21), em Washington, que o governo pode adiar o reajuste salarial dos servidores públicos previsto para 2019. De acordo com o ministro, “esta é uma alternativa” para os desafios fiscais da política econômica do ano que vem. Entretanto, Guardia ressalvou que a decisão deve ficar para o momento em que o governo enviar a Lei Orçamentária Anual (LOA), em agosto.
Outra alternativa seria a reoneração da folha de pagamentos, que, segundo ele, impacta receitas e despesas do governo. Na semana passada, o ministro já havia dito que a “não arrecadação” afeta o teto dos gastos públicos.
O ministro está em Washington para as Reuniões de Primavera do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial. Neste sábado, ele participou das sessões plenárias do Comitê Monetário e Financeiro Internacional e do Comitê de Desenvolvimento do Banco Mundial.
Rota 2030 – Eduardo Guardia falou sobre as discussões do governo para lançar o Rota 2030, novo regime de incentivos para o setor automotivo, que substituirá o Inovar Auto, encerrado no fim do ano passado. O ministro defendeu que as políticas do governo não podem ir contra as da Organização Mundial do Comércio (OMC), já que o Inovar Auto foi condenado pela organização. “Não faz sentido o Brasil colocar na mesa uma política que seja contra as regras da OMC”, acrescentou.
Guardia disse ainda que é preciso analisar o custo de oportunidade desse tipo de medida, já que os recursos que deixariam de entrar por causa de uma política de incentivo ao mercado automobilístico poderiam ser investidos em outras áreas.
Eleições – O ministro da Fazenda comentou as eleições deste ano e disse que quem assumir o governo em 2019 terá de lidar com a necessidade de continuar implementando reformas para lidar com o desequilíbrio fiscal no país.
“A realidade vai se impor de maneira tão clara que vai ser difícil desviar da rota das reformas”, destacou. Ele afirmou que, independentemente do que for dito pelos candidatos durante a campanha eleitoral, “torço para que esteja lá alguém completamente comprometido com o processo”.
Reforma tributária – Conforme o ministro, o projeto para simplificação do PIS/Cofins, que faz parte da reforma tributária, já está maduro e deve ser enviado ao Congresso em breve. Na quinta-feira (19) ele havia dito que o projeto poderia ser enviado em maio.
Para Guardia, o objetivo do governo é eliminar distorções na tributação do PIS/Cofins e do ICMS , de modo “que esses impostos virem de fato um imposto sobre o valor adicionado”.
Guerra comercial – Sobre a possibilidade de as recentes disputas comerciais entre Estados Unidos e China evoluírem para uma guerra comercial, o ministro afirmou que ainda não se viu medidas efetivas, “apenas sinalizações”, mas que é preciso estar preocupado em “ter um sistema de comércio com regras claras e transparentes”, já que “ter mais comércio internacional ajuda a economia mundial a crescer”.
O ministro disse que a possibilidade de o Brasil a ampliar a exportação de soja depois do anúncio de que a China pode aumentar suas taxas de importação para o grão vindo dos Estados Unidos não é necessariamente o que o Brasil busca, já que é preciso ter livre e comércio e regras claras para que haja uma situação em que todos saiam ganhando.
Em relação às negociações comerciais, Guardia afirmou que vê “com bons olhos” eventual aproximação das economias do bloco do Mercosul com as da Parceria Transpacífico, o TPP, que inclui países como México, Chile e Japão.
Crescimento – Eduardo destacou que a projeção do FMI de crescimento mundial de 3,9% para este ano confirma que este é um momento favorável para a economia mundial, com baixos cenários de risco no curto prazo.
“É preciso aproveitar a janela de oportunidade para avançar reformas estruturais e reduzir vulnerabilidades”, disse, citando entre as principais vulnerabilidades do Brasil e de outras economias o crescimento da dívida pública.
O ministro lembrou que, durante as reuniões, o Brasil foi mencionado como um dos casos importantes de retomada econômica, o que pode ser observado na revisão dos números para projeção do crescimento divulgada pelo fundo na terça-feira (17). O relatório Panorama da Economia Mundial informou que estima que o país deve crescer 2,3% em 2018 e 2,5% em 2019.
Indagado sobre o fato de que as projeções do governo são maiores que as do Fundo – o ministério da Fazenda prevê crescimento de 3% –, Guardia afirmou que essa diferença se deve ao fato de que o governo já está levando em conta em seus cálculos os efeitos da política monetária atual de sucessivas reduções da taxa básica de juros.
Conforme Guardia, as recomendações do FMI para que o Brasil leve adiante reformas fiscais, como, por exemplo, a reforma da Previdência, estão de acordo com o projeto do governo atual, de promover o reequilíbrio fiscal do país.
Na sexta (20), o ministro participou de reunião de ministros de Finanças e presidentes de bancos centrais do G20. Durante a reunião foram discutidos temas como protecionismo e iniciativas para abertura comercial, reforço do sistema multilateral econômico (FMI, Banco Mundial e OMC), economia digital e impacto sobre o emprego, sistemas tributários no mundo digital e reformas desses sistemas com o objetivo de lidar com a reforma fiscal promovida no final de 2017 pelo governo de Donald Trump nos Estados Unidos.