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Fazer ‘a minha parte’ é pouco; juntos podemos fazer bem mais

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Corrupção sistêmica, violência urbana, saúde precária, educação arrasada, justiça lenta, falta d´água, ônibus caro, fronteiras escancaradas, saneamento inexistente, polícia despreparada, representantes políticos escolhidos entre os piores da sociedade. Se isso lembrou um certo país que conhecemos, não é mera coincidência.

“Tem culpa eu?”, como já perguntava o outro. Tem sim. Eu, você, eles, nós e todos aqueles que fazem parte de uma elite intelectual, acadêmica, social ou econômica que se omite na sua função primordial de esclarecer e mobilizar cidadãos. Uma elite – na acepção dos mais responsáveis e não apenas dos mais ricos – que até vislumbra essa obrigação, e realiza fóruns, escreve para a seção de “Cartas do Leitor” dos jornais, cobra as ouvidorias das instituições, participa de audiências públicas com agências reguladoras, participa de juris ou mesmo entra em contato com os gabinetes dos políticos.

Mas sabe qual é o índice de sucesso de iniciativas desse tipo, numa perspectiva de desenvolvimento de uma cultura de plena cidadania? Muito pequeno. Minúsculo. Fóruns, seminários e correlatos têm um viés intrinsecamente setorial. Cartas do Leitor, convenhamos, não é das seções mais lidas de um jornal. Ouvidorias – se é que querem realmente ouvir – têm um alcance limitado a apenas uma organização. E desejamos boa sorte a quem tentar contato mais aprofundado e transparente com algum nobre parlamentar.

Tradicionalmente, alguns dos principais sistemas de difusão de valores são a família, as igrejas, a educação, a Justiça e a mídia. Família e igrejas têm alcance limitado a grupos restritos de influência, e são organizações em processo de reinvenção hoje em dia. Educação e Justiça não vêm cumprindo seu papel há décadas, enquanto instituições-fim do poder público. Resta-nos a força avassaladora da mídia – seja através do jornalismo, seja pelos seus espaços e conteúdos de entretenimento – e o seu efetivo poder como instrumento de qualificação do debate público de interesse da cidadania.

De imediato, é preciso um movimento para desfazer a confusão, deliberada ou não, do que seja uma plena cidadania. Para além da simples solidariedade ou assistencialismo social, e para além da consciência cívica individualista (e um tanto cínica) do tipo “eu faço a minha parte”, cidadania envolve ir mais além. É não baixar a guarda nunca.

É participar de espaços cada vez mais amplos de troca de propostas de políticas públicas, dentro da área de conhecimento técnico ou de interesse profissional de cada um. É ajudar a criar um “caldo de cultura” que começa envolvendo milhares de cidadãos até mobilizar milhões para pressionar por legislações melhores e mais atuais, por mais probidade na execução dos orçamentos públicos, mais eficácia das políticas públicas, mais respeito, enfim, aos cidadãos eleitores, os verdadeiros donos dos mandatos.

Propostas existem. E são muitas e boas. E desenvolvidas por verdadeiros agentes de cidadania, que dedicaram anos de experiência e conhecimento em cada uma delas. O que precisamos é reuni-las, compilá-las e divulgá-las, para que nós mesmos nos percebamos como fontes de soberania e de poder público.

Esse é um jogo simples, mas eu, você, eles, nós não estamos jogando como deveríamos. Pois, quem não participa da formulação e fiscalização de políticas públicas, faz parte do problema.

Jorge Maranhão

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