Quem vê aquele casal sorrindo nem imagina que, não faz muito tempo, só havia rusgas entre os dois. Quer saber o que aconteceu? Pois bem, sente-se por alguns minutos, aproveite para tomar um café, que a história é, no mínimo, curiosa. Aliás, mais uma das inúmeras que acontecem aqui na nossa linda e disputada João Pessoa.
Como você pode perceber pelos trajes, o homem é um feirante e vende legumes e verduras. Quanto à mulher, não daria para saber ao certo a profissão pela roupa. No entanto, caso fôssemos analisar, não seria improvável que a moça fosse médica, professora, engenheira ou até mesmo advogada.
Não é nada disso. Como sei? Simples. É que eu a conheço de longa data, já que ela é proprietária de um restaurante na rua de trás. Aliás, caso você seja apreciador de comida boa e barata, recomendo dar um pulo lá para experimentar. Mas voltemos ao acontecido, antes que seu café esfrie e você vá embora sem matar a curiosidade.
O gajo se chama Carlos, mas todos o conhecem por Bigode. Obviamente que não vou precisar explicar o motivo do apelido, haja vista a vastidão de pelos que o feirante tem sob as ventas. Já a mulher tem um nome tão gracioso, que não poderia ser outro: Maria das Graças. Todavia, os mais próximos a chamam de Gracinha.
E lá estava a Gracinha, num longínquo domingo ensolarado como este, desfilando toda a sua beleza em busca de alface e tomate para a sua dieta. Não que ela precisasse, tamanha formosura que, como você pode constatar, é própria daquela mulher. Nessa ocasião, Gracinha era nova por aqui, não conhecia muita gente, e o povo só sabia que ela era a dona da então nova padaria do bairro.
Pois bem, a mulher, não se sabe por qual carga d’água, enquanto observada aquele monte de legumes e verduras expostos na banca, teve um tremelique e quase se estabacou no chão. Só não estabacou porque o Bigode, com um movimento ligeiro que nem macaco-aranha, segurou a cliente. Em seguida, o feirante, com seus braços fortes, carregou a desfalecida para debaixo da tenda para protegê-la do forte calor.
Enquanto o feirante passava um pano umedecido na testa da Gracinha, eis que ela, de repente, começou a recobrar os sentidos. O problema é que a moçoila, assustada com aquele homem, arregalou os olhos e esbravejou.
— Tire esse bigode de perto de mim, seu tarado!
Gracinha se levantou e saiu apressada do local. Somente na semana seguinte é que ela retornou para a feira para se desculpar pelo mal-entendido. Tanto é que a moça foi até a banca do Bigode para agradecê-lo.
— Desculpe, mas foi o senhor que me salvou de cair no chão, não foi?
— Foi, sim, senhora.
— Você sabe que quase não o reconheci sem o bigode?
— Raspei porque pensei que a senhora não tivesse gostado.
— Pois saiba que acho homem de bigode um charme.
A partir daquele dia, a mulher se tornou freguesa das mais assíduas. Dizem até que, quando ela não pode ir à feira, o Bigode faz questão de levar os produtos até a sua residência. E como o povo gosta de falar, já tem gente jurando de pé junto que aqueles dois já extrapolaram a barreira da amizade.
*Eduardo Martínez é autor do livro “57 Contos e Crônicas por um Autor muito Velho”.
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