As duas faces do presidente Jair Messias são absolutamente xifópagas, sinônimo de siamesas. Ambas pensam, agem e imaginam coisas a respeito dos outros de modo similar. Embora habitem o mesmo corpo, curiosa e raramente se encontram. A impressão que passa é que uma amedronta, assusta e atemoriza a outra. É o caso de duas personalidades que se negam, mas sempre se encontram para auferir algum tipo de vantagem ou criar uma nova fieira de mentiras. O grande problema dessa dubiedade é que espalhou filhotes peçonhentos por todo o Brasil. Daí, não me criar qualquer tipo de embaraço espiritual afirmar que Bolsonaro deverá perder a cadeira, mas provavelmente sua influência maléfica deverá permanecer entre o povo que se acha de Deus.
Apesar de cerebralmente psíquica, a contaminação atingiu pessoas, instituições conceituadas e até parlamentares acostumados a pilheriar de avaliações negativas do eleitor. Ou seja, o mito conseguiu colocar no mesmo saco maçãs, mandiocas, laranjas, quiabos e pepinos apodrecidos pela ausência de luz em suas raízes. Contamina principalmente a tribo que deveria cuidar do macro e não do micro. Refiro-me aos dominadores da segurança pública nacional, especificamente à Polícia Civil do Paraná, cujo recente entendimento foi pela imbecilização do povo brasileiro. Semana passada, o Brasil inteiro ouviu um policial penal federal berrar palavras contra o petismo à porta de um ambiente para o qual não foi convidado.
Aos gritos de “aqui é Bolsonaro”, ele matou a tiros um guarda municipal que comemorava seu aniversário com motivos petistas. Apenas isso. Morreu porque adorava outro senhor. Portanto, porque rezava em outra cartilha. Simples assim. Tão simples que, com base na suposta simplicidade do caso, a Polícia Civil do Paraná agiu rápido e, em apenas seis dias, concluiu que não houve crime de ódio como motivação política. Como não? E as evidências, todas gravadas? O assassino vociferou publicamente que estava ali em defesa da honra do bolsonarismo. Ou seja, um gritou para silenciar o outro. Tão rápido como os policiais paranaenses, sua excelência, seu entorno e apoiadores esqueceram temporariamente o fantasma de Adélio Bispo dos Santos e comemoraram entusiasmadamente a decisão da delegada, assumidamente antipetista.
Passados quatro anos da facada em Juiz de Fora, o mandatário ainda não aceitou as conclusões da Polícia Federal. Após meses de investigações, o delegado responsável pelo inquérito concluiu que Adélio não tinha ligação com facções criminosas e que não agiu por motivação política. Para a PF, ele planejou e executou o crime sozinho e silenciosamente. Adélio acabou considerado inimputável por ter uma doença mental. Como o tempo é o senhor da razão, eis que um novo atentado mostra o outro lado da mente do mito. Muito mais do que óbvio, o contraste da teoria da polícia do Paraná com a realidade é assustador. É mais do que o óbvio ululante, isto é, dispensa explicações devido a sua clareza.
A veloz avaliação dos policiais comandados pelo governador Ratinho Junior coloca em xeque o trabalho da instituição, mas, principalmente, confirma a tese de um famoso colunista brasileiro, para o qual a polícia matou duas vezes o guarda petista ao chamar um crime político por outro nome. Perdão pelo sincericídio, mas o assassinato é tão político que a polícia correu para levá-lo para as calendas. No entanto, o pau que deu em Chico provavelmente também atingirá Francisco. Em outras palavras, como nem todos são tão burros como pensam os policiais paranaenses, o feitiço ainda tende a virar contra o feiticeiro. O que poderia não ser político pode acabar sendo ainda mais político. As redes sociais se encarregarão do serviço.
Da mesma forma que a facada de Adélio Bispo gerou – e gera – teorias da conspiração da direita à esquerda, naturalmente o caso de Foz do Iguaçu virou um escândalo e certamente provocará novos e incômodos bafafás. Poucos sabem até onde é verdadeira a afirmação policial. O que sei é que governos mudam. Amanhã, Bolsonaro, Ratinho e afins podem estar longe. Por isso, não é demais perguntar: Que vantagem têm os mentirosos? Eu mesmo respondo: A de não serem acreditados quando disserem a verdade. Vale lembrar que uma mentira é suficiente para colocar em causa todas as verdades, sobretudo as de oportunidade.