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Feitiço deixa conta salgada para o feiticeiro e seus parças

Como otimista de berço e cristã por natureza, não tenho o hábito de chutar cachorro morto. Isso, aliás, não pega bem para uma dama – e há damas no meio jornalístico. Todavia, é praticamente impossível esquecer daqueles que exacerbam do poder que lhes é concedido por Deus, pela academia ou pelo voto. É comum ouvirmos que a maioria das pessoas busca o poder a qualquer preço. O problema é quando o alcançam. É nesse momento que mostram o que realmente são. Isso ocorre porque o domínio nada mais é do que o direito de deliberar, agir e mandar. Partindo da premissa de Abraham Lincoln, para quem “a maior habilidade de um líder é desenvolver habilidades extraordinárias em pessoas comuns”, é necessário fazer um comparativo do Brasil de hoje com o Brasil um mês atrás.

Por mais que a minoria fanática e raivosa não percebesse, a maioria da paz vivia sobressaltada com os fatos do dia e, principalmente, com o futuro do país. De imbrochável (mulheres detestam isso) à incontrolável e insuperável do ponto de vista da intolerância política, o mandatário da época era o exemplo mais cristalino da robustez tirânica. Por quatro longos anos, sua excelência sem méritos não teve coragem de assumir suas vulnerabilidades, tampouco força para extravasar suas imperfeições.

Escondeu de todos uma duvidosa competência e acabou levando o Brasil ao pior dos cenários em 523 anos de existência. Sua última tentativa demoníaca ocorreu em 8 de janeiro, um domingo que poderia se findar com gosto fúnebre. Felizmente, terminou com algumas instituições quebradas, mas com o país inteiro unido contra os desmandos. Foi o dia em que Luiz Inácio Lula da Silva subiu de fato ao altar onde o povo o colocou e que a democracia acabou intacta. É claro que alguém perdeu. Evaporou-se um governador reeleito, um ex-ministro de Estado sumiu na poeira do puxa-saquismo exacerbado e sua excelência de encruzilhada desceu pelo ralo de sua incompetência. Naquele domingo, começou a fugir pelas mãos um capital político que ele jamais imaginou um dia ter.

Como já disseram, foi o início do seu fim. Político e golpista amador, produziu o enredo de um malfeito e fugiu antes de saber como os atores coadjuvantes iriam se comportar no palco. O resultado foi o que se viu. Apesar da boa bilheteria, o bom texto e o profissionalismo da concorrência contribuíram para o retumbante fracasso da novela mexicana escrita nos terreiros dos acampamentos golpistas. Mesmo sem apoio dos figurantes contratados para a segurança do set, a força, a coragem e a união dos diretores oposicionistas gerou um final surpreendente e definitivo para o folhetim bolsonarista: O golpe acabou por falta de golpistas. Boa parte continua presa.

O restante, inclusive os mentores, os falseadores e os imbrocháveis, não perdem por esperar. É a velha história de cair do cavalo. E caíram feio. Alguns lunáticos ainda esperam o mito retornar de Marte. Só os bestas continuam acreditando que os patriotas que protagonizaram o vandalismo estavam na Esplanada dos Ministérios por acaso. A invasão foi planejada. Havia comando superior. De cima para baixo, a ideia do golpe estava pronta e obviamente contou com “afagos” das forças de segurança do Distrito Federal.

Considerando que até os cercadinhos eram pagos com cartões corporativos, os bagrinhos travestidos de talibãs foram bem treinados e sabiam onde e como agir. Na melhor das hipóteses, a falta de ação é uma ação. O fato é que o feitiço virou contra o feiticeiro. O mal da grandeza separou a consciência do poder. Com isso, Jair acabou sem chão, inelegível e com muitas e salgadas contas a acertar com a Justiça. Ele e seus parças, claro.

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