Nunca antes na história deste país alguém teve tanta certeza de que haverá eleições limpas, seguras, secretas e soberanas em 2022. E a balela do voto impresso, sempre vista como lorota, sucumbiu pelas próprias forças de quem mais o defendeu. Foi uma defesa tão estranhamente equivocada que preocupou parlamentares, assustou eleitores, incomodou ministros e técnicos da Justiça Eleitoral e elevou a temperatura das ruas. Entretanto, nada que pudesse significar mudanças nos rumos do país, tampouco na cabeça dos brasileiros com opinião formada acerca da claudicante caminhada nacional. Pelo contrário, fixou no muro apoiadores duvidosos e acirrou ainda os ânimos daqueles que faz tempo torcem o nariz para o que veem, ouvem e vivem. O resultado prático somente será conhecido em outubro de 2022.
Apesar do tempo, alguém duvida do que estar por vir? Alguém duvida de quem perdeu e perderá ainda mais com essa tola balbúrdia? Todos sabem. E não há moto de dez mil cilindradas capaz de sustentá-lo em pé até lá. A verdade é que a citada preocupação, o desanimado susto e o chato incômodo jamais ultrapassaram os limites do bom senso, na medida em que, desde o início, as críticas e denúncias de fraudes contra o sistema eletrônico de votação geraram mais desconfianças e suspeitas do que algum tipo de dúvida na maioria do Congresso, em expressiva parcela do eleitorado e em todos os representantes dos tribunais eleitorais. A pergunta era sempre a mesma: Se houve alguma burla, trapalhada, tapeação ou falcatrua em eleições com sua presença, mostre as provas? Nunca mostrou. Porque não as tem. Simples assim.
Afinal, quem maculou uma máquina que faz 30 anos garante a vitória do seu principal maculador? Será que, ao longo desse período, a urna eletrônica estava inseminada apenas com seus votos? Claro que não, embora não custe lembrar as eleições de 1994, mais precisamente a 70a. Zona Eleitoral, em Paracambi, na Baixada Fluminense, onde foram descobertas quatro cédulas falsas que beneficiavam o sujeito oculto desta narrativa. Quem? Quem? Ele, que ganhou sete eleições parlamentares e uma presidencial porque teve crédito de pelo menos metade mais um dos brasileiros. Descrente do grupo antecessor, esse pessoal acreditou em suas propostas. Não acredita mais. Aliás, não acreditam porque elas nunca existiram. Então, não culpe a silenciosa e séria maquininha de votar.
Ela nada tem a ver com as mazelas do governo. Todos temos conhecimento de que é mais fácil culpar quem não fala, não ouve e não vê. Se há um culpado – e há -, o mundo inteiro sabe quem é. Parece brincadeira – e é – parar o país com uma discussão inócua, irrelevante, desnecessária e que até os bêbados e esquecidos sabiam que daria em lugar algum. Se a ideia era criar uma cortina de fumaça ou tentar factóides para esconder inércias, despreparos e absoluta falta de conhecimento, também não conseguiu. Jogar os militares, notadamente os generais, almirantes e brigadeiros, nesse barco sem velas e com o casco rasgado de A a Z foi ainda pior. Ainda que não tenham nenhuma noção técnica do que dizem, obviamente alguns preferiram aderir à tese oriunda de patente inferior. Aderiram, apesar da gravidade do recado que divulgaram ou das ameaças que apoiaram ou apoiam. Passa a impressão de se tratar exclusivamente de uma desesperada tentativa de manter polpudos olerites.
Felizmente, o Haiti não é aqui, muito menos a Venezuela. Os aprendizes de feiticeiros deram com os burros n’água. O feitiço acabou atingindo unicamente o mandingueiro. A reação política e social aos recados desnorteados e ao desmazelo administrativo em que se transformou o palácio dos sonhos de 11 entre dez políticos surpreendeu principalmente assessores estrelados, os quais imaginavam que milhares de milhões de brasileiros ainda se borravam com gritos oriundos das paredes sombrias e modorrentas das casernas. Mantiveram o respeito, principalmente àqueles que, respeitosamente, se equipam em defesa da Pátria, do seu povo e da democracia. Todavia, perderam o medo de, se for o caso, enfrentar os rompantes e as ameaças claras ou veladas dos traidores da nação. Fizeram isso com os que, sem razão alguma, defendiam o retrocesso do voto impresso, cuja aprovação teria como desfecho o voto impresso corrompível. Alguém duvida?
Obsessão que nunca se explicou, o folhetim mexicano do voto auditável esteve para o governo como o sangue para o vampiro, o queijo para o rato ou o galinheiro para a raposa. Deixando coisas ruins para degustação de determinados extremos, pensemos em situações mais palpáveis. Como bem disse o general Hamilton Mourão, vice-presidente da República, não somos uma república de bananas. Quem vai proibir eleições no Brasil? Ninguém tem esse poder. Portanto, parafraseando alguns ex-presidentes, “duela a quem duela”, mulatinhos e os que têm o pé na cozinha, votarão soberanamente em 2022, porque “nunca na história deste país” Deus deixou de estar realmente acima de tudo e de todos. Podemos também lembrar nossa única presidenta e associar a democracia a um solene satélite natural da Terra: “A lua é muito mais importante do que o sol, por ela aparece à noite, quando está escuro e clareia tudo”. O Brasil precisa de luz. E são Luiz Roberto Barroso já profetizou: “Eleição vai haver, eu garanto”. E nós confiamos.