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Felicidade do povo chega ao pior nível

Com a pandemia, o brasileiro chegou ao menor índice de felicidade média em 15 anos, desde que o número começou a ser medido, em 2006. A conclusão é da pesquisa Bem-Estar Trabalhista, Felicidade e Pandemia, divulgada nesta segunda-feira (14) pela FGV Social, centro de políticas sociais da Fundação Getúlio Vargas.

A felicidade média do brasileiro, numa escala de um a dez, chegou a 6,1 — 0,4 ponto menor do que a registrada no ano anterior. O dado é obtido a partir de uma avaliação dos entrevistados da satisfação com a própria vida.

A queda foi maior do que a média registrada em 40 países, que vão da China ao Zimbábue, segundo dados da Gallup World Poll analisados pela FGV. No restante do mundo, o índice foi de 6,02 a 6,04, ou seja, permaneceu relativamente estável.

Essa perda de felicidade, porém, não é uniforme e foi sentida de maneira mais forte pela população mais pobre do país. Entre os 40% mais pobres, a queda foi de 0,8 ponto; enquanto, entre os 20% mais ricos, houve ligeira alta, de 0,1 ponto.

A pesquisa também mostra que a desigualdade, medida pelo índice de Gini, bateu recorde no primeiro trimestre de 2021, chegando a 0,674. A escala, que leva em conta uma série de fatores, vai de 0 a 1 — quanto mais próximo do zero, menos desigual.

Para comparação, o recorde anterior, observado no primeiro trimestre de 2020, era de 0,642. “A literatura considera este movimento um grande salto de desigualdade”, observa o texto.

A renda média também foi do maior ao menor nível da série histórica. De janeiro a março de 2020, a renda média bateu recorde, com R$ 1.122. Em menos de um ano, caiu 11,3% e atingiu o menor ponto, de R$ 995. Essa é a primeira vez que fica abaixo de R$ 1 mil mensais.

Os mais pobres do Brasil perderam quase o dobro da renda da média dos brasileiros durante um ano de pandemia do novo coronavírus. Enquanto a população média viu uma queda de 10,89%, os mais vulneráveis caíram quase o dobro, tendo uma redução de 20,81% em sua renda.

O autor do estudo e diretor do FGV Social, Marcelo Neri, diz que as medidas objetivas e subjetivas do bem-estar social caminham relativamente juntos em todos os momentos da década.

“Na comparação, as duas andam de mãos dadas, quando uma sobe, a outra sobe, quando uma cai, a outra cai”, disse. “O Brasil teve uma grande queda de felicidade reportada de 2014 a 2018, uma das três maiores do mundo, e, durante a pandemia, teve metade dessa grande queda em apenas um ano. Infelizmente, podemos dizer que a felicidade do brasileiro, em termos relativos, foi embora.”

Neri explica que um grande determinante do processo foi a perda de postos de trabalho. “A perda de postos de trabalho gerou essa perda de bem-estar objetivo, que por sua vez, anda junto com as medidas de felicidade”, afirmou.

O Brasil fechou o ano de 2020 com a geração de 142.690 postos de trabalho, puxada principalmente pelo setor da indústria e da construção. No setor de serviços, o saldo foi negativo, com o fechamento de 132.584 postos. No primeiro trimestre desse ano, a taxa de desemprego ficou em 14,7%, atingindo o recorde de 14,8 milhões de brasileiros, de acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

“O efeito desemprego domina com 8,9% a redução da participação no mercado de trabalho. Em suma, a perda de ocupação (desemprego e participação trabalhista) foi o principal responsável pela queda de poder de compra médio dos brasileiros”, afirma o estudo.

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