Notibras

Felinos caem com garras em Cassiano; mas, deixa pra lá. Eles não são humanos…

Não sei se vocês sabem, mas compartilho com os cinco gatos da casa as coisas importantes do meu cotidiano. Assim, todo pimpão, li pra eles a magnífica crônica sobre este nada humilde escriba burilada por Cassiano Condé, publicada pot Notibras na seção O lado B da literatura. E fiquei à espera dos comentários.

Gatos não são bons críticos literários, são ferinhas impiedosas, mas dessa vez eles exageraram. As críticas foram arrasadoras.

– Não gostei – sentenciou Prince, o venerável. – O cronista não falou da coisa mais importante que você escreve, que são…

– Os textos sobre nós – completou Pantera, mostrando as presas. – Você chama de fábulas, deviam ser chamadas de Justas homenagens aos seres superiores, quase divinos, filhas e filhos da deusa Bastet.

Não respondi. Achei mais prudente pegar o texto Confissões, que enviara ao Cassiano Condé como material bruto para ele produzir sua crônica. E expliquei:

– Nesse texto, conto que a divindade do humor orientou a esmagadora maioria dos meus escritos. E concluo: “Ah, ia me esquecendo, também escrevo fábulas. Sobre gatinhos, sereias, temas fofos assim.”

– Temas fofos, maluco? – rosnou Lua, a desbocada. – Sereias, malandro? Já te avisamos, tu só devia escrever sobre gatos.

– Olha, entra em contato com esse cronista filhodeumaégua e manda ele reescrever tudo – decidiu Sid, o bambambã da casa, que cobre os outros de porrada. – Um texto só falando de nós. O título deve ser, “Cadu, o escravo bonzinho dos gatos, escreve sobre seus lindos e poderosos senhores felinos, protegidos pela deusa-gata do Egito”.

Disse que não ia fazer nada disso, que um autor é livre para colocar ou descartar elementos em seu texto, e que exigir determinado título, francamente…

Diante da minha negativa, Flechinha interveio:

– Não vai fazer, né? Então avisa o Cassiano, qualquer noite dessas ele vai receber uma visitinha de nossa protetora, não vai ser bom pra tosse. E você também vai, prepare-se.

– Vocês e sua divindade felina vão fazer o quê? Nos atacar? Nos machucar? Fazer coisa pior?

– Nada disso, não somos feras – contestou a ferinha. – Só cometemos agressões fofas, damos mordidinhas, para lembrar quem manda no pedaço.

– E só matamos para nos alimentar, nunca por maldade – retomou Prince, que só tinha matado insetos em toda a sua vida. – E concluiu:

– Não somos humanos.

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