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Navegar é preciso...

Fernando, antes de ser o Pessoa que virou, se virou com Coca-cola

Publicado

Autor/Imagem:
Gilberto Motta - Texto e Imagem

“Coca-cola: primeiro estranha-se, depois entranha-se.” (Fernando Pessoa, poeta maior, defendendo alguns trocados, ainda bem jovem, escrevendo anúncio de publicidade.)

Anos antes de cravar o eterno “Navegar é preciso…”, o maior poeta da língua portuguesa criou o slogan “Coca-cola, primeiro estranha-se, depois entranha-se”. Não, caro leitor, não é invenção minha. É fato. E histórico por si só.

No início de carreira (durango e cheio de dependências para sobreviver), o poeta dos heterônimos também foi publicitário. Pois pá! Foi assim que o gajo escreveu o tal slogan para o lançamento, em Portugal, da bebida castanha e açucarada e foi proibido pelo Estado Novo de Salazar.

Passados quase cem anos desde o fato fico a matutar cá com os meus botões e viajo numa conversa imaginária com o poeta da triste figura numa mesa de um café na Lisboa de então:

– Como foi isso, Fernando?

– A primeira e única agência de publicidade que existia, a Hora, encomendou um solgan para o lançamento do produto em terras lusitanas. Resumi em quatro palavras.

– De bebida desejada a fruto proibido, a Coca-cola gerou a sua primeira perseguição?

– É fato, censura do Estado e uma marca diferenciada na vida desse humilde escritor que, de sobra, desejava apenas fazer versos e filosofar.

Sabe-se, hoje, que o médico sanitarista, Ricardo Jorge, diretor de Saúde do ditador Salazar, considerou o produto como uma espécie de droga, assumida desde logo no nome e cuja toxicidade o slogan de Pessoa parecia evocar.

O poeta viva perambulando pelos cafés portugueses, elegante e educadíssimo, mas liso sem patacas nos bolsos e necessitado de providência divina. Sabe-se que o slogan jamais foi utilizado pela empresa dona da Coca-cola.

Recusada pela Ditadura de Salazar, a Coca-cola esperou quase 50 anos para se entranhar nos hábitos dos portugueses. Foi apenas depois da Revolução de Abril (1974) libertar o país e fazer da liberdade um valor absoluto e fundamental.

A publicidade perdeu mais um ótimo criador/redator, mas o universo ganhou um gênio multifacetado da poesia e do texto em todos os sentidos.

Fernando Pessoa ou para ser exato, os vários Pessoas, seria para sempre definido pelo slogan que criou para a indesejada Coca-cola apenas que uma retificação:

“PESSOA: primeiro estranha-se, depois entranha-se.”

Pois então, viventes deste século 21, mais que nunca “Navegar é preciso, viver não é preciso”. E tomando Coca-cola, pá!

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