O amigo
Fica aí. Vá namorar. Manicardi ficou e sobreviveu
Publicado
emJosé Escarlate
Pouco antes de morrer, Oswaldo Manicardi, braço direito e esquerdo do dr. Ulysses Guimarães, companheiros e amigos desde sempre, me recebeu em sua casa. Seria uma conversa amena, lembrando passagens do seu grande amigo e companheiro de vida.
Conheci o Oswaldo no Palácio do Planalto, quando ele acompanhava o doutor Ulysses, então presidente da Câmara Federal, que assumia a presidência da República nas viagens de José Sarney. Como a cúpula do Planalto viajava com o presidente eu, que era da Secretaria de Imprensa, ficava para atender o dr. Ulysses. Antes, quem ficava com o doutor Ulysses, nas viagens de Sarney, era o Frotinha, jornalista Antônio Frota Neto.
A amizade entre nós, eu e o Oswaldo, prosperou. À noite, após o expediente, convidado, eu acompanhava o dr. Ulysses à sua casa, onde havia uma gaiola enorme com um tucano preso pelo pé. Ali, ele recebia um monte de jornalistas para um bate papo informal. A grande sala ficava lotada. Era repórter sentado nos sofás, cadeiras e até no chão, aos pés do então presidente em exercício. E o papo fluía até altas horas da noite.
O ambiente era extremamente acolhedor. Determinada hora, Dona Mora chegava à sala e convidava a todos para “comer alguma coisinha”. E lá íamos todos para a boquinha, após o que o período de conversa era encerrado. Afinal, dia seguinte era dia de trabalho. Oswaldo contava que Ulysses tinha pavor dos chatos. “Ele é o inimigo do gênero humano” – dizia. “É o vento encanado que acaba com qualquer reunião, é o maçante a quem você pergunta ‘como vai?” e ele resolve contar”. Segundo o político, “o chato não lhe faz companhia e não deixa você ficar só”.
Emocionado, com o semblante triste, Oswaldo recordou que, no dia 12 de outubro de 1992, ele já estava acomodado no helicóptero, em Angra, para voltar, quando Ulysses o dispensou dizendo: “Fique aqui mais uns dias, Oswaldo, vá passear, namorar. Somos apenas casais”.
Manicardi era tão próximo do dr. Ulysses que foi encarregado de pedir a mão de dona Mora para Ulysses casar. Quando indagado sobre sua formação, tinha a resposta na ponta da língua: “Conviver com o dr. Ulysses foi uma escola política, uma escola de relação com as pessoas. Trabalhei com ele 44 anos. Essa foi a minha formação”.
Oswaldo era advogado e assessor parlamentar aposentado do Tribunal Superior do Trabalho. Ulysses Guimarães, em discurso na Câmara Federal, chamou o amigo de “meu inseparável Sancho Pança, meu fiel escudeiro, monumento de sensatez, paciência e eficiência, meu irmão, Oswaldo Manicardi”. Fui convidado a voltar à casa do Oswaldo outras vezes. Não deu tempo. Deus não quis. Levou o amigo, mas guardo comigo algumas outras histórias, saborosas.