Sara Gómez Armas
Charutos explosivos, drinques envenenados, um traje de mergulho letal e uma “Mata Hari” apaixonada. Nada pôde acabar com Fidel Castro, líder da revolução cubana que completa 90 anos neste sábado (13) e burlou mais de 600 complôs homicidas orquestrados pela CIA (agência de inteligência dos Estados Unidos).
Fidel Castro, nêmesis por décadas do “imperialismo ianque”, se transformou desde os preâmbulos da revolução que triunfou em 1959 em um obstáculo para os EUA e a principal ameaça a seus interesses na América Latina, onde o líder cubano apoiou movimentos de esquerda e guerrilhas de inspiração comunista nas trincheiras da Guerra Fria.
Mesmo de antes de 1959, durante o levante em Sierra Maestra, datam as primeiras tentativas da CIA de exterminar o “barbudo”. Uma lista que inclui pelo menos 638 atentados entre 1958 e o ano 2000 dos quais os serviços secretos cubanos tiveram constância, 167 dos quais estavam em avançada fase de execução no momento que foram desmantelados.
Entre eles há planos altamente rocambolescos, mais próprios de filmes de espiões como James Bond ou da Pantera Cor-de-Rosa que dos todo-poderosos serviços de inteligência dos EUA, que chegaram a criar o departamento ZR/Rifle com a única missão de liquidar Fidel, em colaboração com a máfia para acrescentar um toque “hollywoodiano” ao tema.
Nos alvores da revolução, Fidel participou da Assembleia Geral das Nações Unidas em Nova York em 1960, ocasião que a CIA quis aproveitar para matá-lo com várias ideias como colocar explosivos nos charutos do comandante, uma missão que finalmente não chegou a concretizar-se.
Após a fracassada invasão da Baía dos Porcos –por exilados anticastristas financiados pelos EUA–, os serviços de inteligência se esforçaram em idealizar um desaparecimento limpo e sem rastro de sangue de Fidel Castro, com o envenenamento como opção predileta, operação que contou com a participação expressa de mafiosos como John Rosselli e Santos Traficante Jr.
Eles se ocuparam de conseguir as cápsulas de cianureto que entregaram em 1963 ao garçom da cafeteria do Hotel Habana Libre, onde Fidel ia frequentemente tomar um drinque.
Foi outro fracasso: a cápsula de cianureto ficou grudada ao gelo do congelador onde estava guardada e não pôde ser utilizada; o atentado que mais perto esteve de ter êxito, embora o acaso tenha salvado de novo a vida do líder cubano.
No entanto, o episódio mais cinematográfico é o que envolveu Marita Lorenz, amante de Fidel durante alguns meses após o triunfo da revolução que, após transferir-se aos EUA, foi contratada pela CIA no final de 1960, com apenas 20 anos, para envenenar o comandante durante um encontro na suíte de um hotel de Havana.
Marita guardou as pílulas letais em um frasco de creme hidratante e viajou a Cuba. As pastilhas derreteram com o creme, mas a jovem “Mata Hari” – que depois trabalhou como espiã da CIA por várias décadas – já tinha decidido no avião que não assassinaria aquele que tinha sido seu primeiro amor.
Conhecedores de sua paixão pelo mergulho, os agentes da CIA também projetaram planos como impregnar de bactérias letais um traje de neopreno ou camuflar uma pequena bomba explosiva sob um búzio em uma das praias onde o comandante costumava mergulhar.
Perante as dificuldades para matá-lo, houve outros planos que só buscavam desacreditá-lo: colocar sal de talio, uma substância depilatória, em seus charutos ou sapatos, o que ao ser inalado por Fidel provocaria a perda de sua significativa barba; ou bombear com LSD uma estação de rádio onde discursaria ao vivo para drogá-lo e fazer com que parecesse que tinha perdido a cabeça.
Um capítulo à parte merece Luis Posada Carriles, que atentou com a vida do comandante em várias ocasiões, além de participar da explosão de uma bomba no hotel Copacabana de Havana em 1997, que matou um turista italiano; ou da explosão de um avião da empresa Cubana de Aviación em 1976, no qual morreram 73 pessoas.
Carriles – exilado cubano, anticastrista ferrenho, ex-agente da CIA e “cruel terrorista”, segundo Fidel – urdiu seu último atentado contra o líder cubano durante a 10ª Cúpula Ibero-Americana realizada no Panamá em 2000: outra tentativa frustrada pela qual foi condenado e enviado à prisão, embora tenha sido anistiado logo depois.